Inspiração é coisa de amador

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  • Cesar Romero

Publicado em 13 de janeiro de 2020 às 05:00

- Atualizado há um ano

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Obra de Mondrian (foto/divulgação) Não existe inspiração como alguns artistas visuais colocam. Inspiração é coisa de amador. Os artistas profissionais têm seus elementos formatados nos anos de trabalho e reinventa-os. E se estabelece um jogo de armar em que se soma, se subtrai, multiplica ou divide, criando assim novas possibilidades.

Imaginem o artista sentado, esperando vir a inspiração. Ela pode demorar, semanas, meses e até anos. Se você é um artista criador de linguagem, sua linguagem é sua “inspiração”. Resta o trabalho que está esperando seu fazer. O sonho combinado com a ação se transforma em realidade. O sonho vem da observação da vida sensível, do que é a natureza das coisas. Não confundir “inspiração”, com preguiça, lassidão, moleza, falta de conexão, falta de vontade. Há na vida do artista um contínuo processo de experimentações, um remover-se no conhecimento de seu mundo interior e trabalhar resolvendo equações visuais. Fazer é a ação que necessita da intervenção dos olhos, do pulso, do corpo enfim.

Os dias se apresentam para todo ser humano como melhores, médios e piores. Nos piores que seria falta de “inspiração”, não o é, apenas os ânimos estão rebaixados e exige do artista, maior empenho. Vale o produto final. Vale sempre a continuidade no processo do fazer, para que não se perca a eficiência e eficácia. Sem o fazer contínuo pode – se perder a capacidade sutil de releituras do mundo real, da fantasia, do fetiche, das ambiguidades, das fábulas, das estruturas de narrativas visuais.

Um exemplo lapidar foi Piet Mondrian (1872 – 1944) (foto), que construía sobre o vazio, retas na horizontal e na vertical. Cores apenas as primárias, azul, amarelo e vermelho e as não cores preto, branco e cinza que definiam os espaços, os pesos de luzes. Assim uma rede linear e as áreas coloridas. Uma não figuralidade levada ao extremo. Mondrian sabia operar com as distribuições fortuitas, o deslocamento controlado sobre um eixo e o reagrupamento das linhas. Um ritmo musical dinâmica de pulsações luminosas. Queria provar que a essência do universo é mais bem apreendida na pintura abstrata do que numa representação naturalista. Era a fonte imaginária de sua arte.

Depois de vinte anos, trabalhando suas pinturas, que nunca se repetia, devido aos pesos das cores aprisionados pelas linhas pretas, estabeleceu a linha dupla, sugerido pela pintora Marlow Moss. Para indicar o contorno de um objeto, basta só um traço, com duas linhas paralelas Mondrian estabelecia uma espécie de jogo estético. Dito tudo isso aqui, Mondrian parecia não acreditar em “inspiração”, sim em trabalho.