Inteligência artificial x humanos: entre parcerias e disputas

Especialistas desmistificam a Indústria 4.0 e dão dicas para adaptar-se

  • Foto do(a) author(a) Yasmin Garrido
  • Yasmin Garrido

Publicado em 12 de novembro de 2018 às 05:35

- Atualizado há um ano

. Crédito: Fotos de Arisson Marinho/CORREIO

Realizar tarefas diárias, como dirigir com a ajuda de mapas interativos, ouvir música no celular, podendo escolher a banda ou o cantor favorito em um único toque, além da simples troca de mensagem com um smartphone, nunca foi tão fácil. Normalmente, atribui-se tudo isso às tecnologias, assim, de modo, indistinto, sem dar nomes a elas.

Quando se ouve falar em Inteligência Artificial (IA), por exemplo, se imagina algo para além dos dias atuais, principalmente com ideias atreladas a filmes que todos já assistiram um dia, a exemplo de ‘Eu, Robô’, de Alex Proyas, ou ‘Neuromancer’, de Tim Miller. No entanto, a IA vai muito além do que é possível ver no mundo físico e é muito mais atual do que se pensa.

Durante o encerramento do Fórum Agenda Bahia 2018, que aconteceu na última quarta-feira (7), no Quality Hotel & Suítes São Salvador, no bairro do Stiep, foram discutidos assuntos relacionados às tecnologias presentes no dia-a-dia da maioria da população, além de temas como big data, algoritmo, internet das coisas e a famosa IA.

Em um dos painéis, intitulado 'Inteligência artificial na indústria 4.0: impactos e novas habilidades profissionais', comandado pelo especialista em Modelação Computacional e Inteligência Artificial do Cimatec, Erick Sperandio, e pela diretora de RH da TOTVS, Rita Pellegrino, o tema central foi o que se pode fazer diante da 4ª Revolução Industrial.

Como relembrou Erick, a primeira revolução foi marcada pela figura do tear mecânico, a segunda pela produção em massa, já a terceira pela era dos computadores e eletrônicos. “Tudo isso deu subsídio para se pensar, a partir de meados de 2012, em uma quarta era, que chamamos de Indústria 4.0, marcada pela digitalização e pelo sistema ciberfísico”, explicou.

Para Erick, “a partir da 4ª Revolução Industrial foi possível se falar em automação, controle e tecnologia da informação aplicadas aos processos de produção baseados na cooperação entre a inteligência humana e a inteligência das máquinas (machine learning)”. Ele reforçou que, a partir do chamado sistema ciberfísico, nasceu a combinação entre hardwares, softwares e a mente humana.

IA na vida cotidiana

Já Rita Pellegrino afirmou que não há como se pensar em tecnologia ou inteligência artificial - aquelas desenvolvidas pelas máquinas e equipamentos eletrônicos a partir de comandos de agentes autônomos - sem relacionar à vida cotidiana da população. “É importante dizer que qualquer pessoa - física ou jurídica - pode se beneficiar pela Indústria 4.0”, disse.

Ainda de acordo com Rita, “existem variados tipos de tecnologia, desde as mais baratas, que podem se adequar às pequenas produções, até as mais caras, disponíveis para o orçamento de grandes empresas”.

Para ela, “a inteligência artificial não pode ser vista apenas no estágio mais revolucionário, que é mais custoso, estando presente nos pequenos atos do dia-a-dia, como usar um computador, um smartphone, ter um domínio na web para divulgar um negócio ou uma conta em rede social, até nas grandes máquinas que constroem carros a partir de um comando humano”.

O administrador Simon Oliveira, de 37 anos, que também tem formação em logística, admitiu que promover a transformação digital faz parte dos desafios enfrentados por ele dia após dia. “Não é possível se estagnar. Eu, como administrador, tenho a consciência de que o cenário hoje - e cada vez mais - está relacionado às tecnologias e, quem não seguir isso vai ficar para trás”, disse.

Ainda segundo ele, o trabalho com inteligência artificial não pode ser encarado como algo impossível ou distante. “A IA está presente nos pequenos atos cotidianos e é esse pensamento que eu tento passar para quem trabalha comigo. É possível aliar a mente humana à inteligência das máquinas, e isso só traz benefícios ao negócio”, concluiu. Rita Pellegrino lembrou que existem diferentes tipos de tecnologias, com custos diferentes Futuro diferente

A diretora de RH da TOTVS também foi categórica: “é possível que minha filha, que hoje tem 4 anos, nunca aprenda a dirigir um carro”. Isso acontece, porque, já em 2018, é possível ver nas ruas os carros inteligentes. Empresas como a Tesla já produzem carros semi-automáticos e que, apesar do alto custo, conseguem circular com a mínima interação humana.

Segundo Rita Pellegrino, atualmente, existem cerca de 50 mil carros automáticos da Tesla rodando nos Estados Unidos e a tendência é que esse número cresça ao longos dos anos. “E é importante ter noção de que, quanto mais o tempo passa e a produção é otimizada, o preço do produto reduz”, declarou.

Mas, para quem acha que os carros inteligentes ainda não afetam a rotina, outro exemplo de inteligência artificial está intimamente ligado às redes sociais. Desde às publicações que aparecem no feed de notícias às notificações recebidas, tudo isso é impactado por IA, que funciona como uma linha histórica do comportamento de cada um diante das redes.

“A gente costuma falar em algoritmo, mas essas ‘coincidências’ que vemos na internet vão muito além deles e só existem por causa da inteligência artificial”, garante Erick Sperandio, do Cimatec. E ele ainda completou dizendo que “IA é o que permite uma combinação de dados e algoritmos”. 

Erick ressaltou que o cenário de inteligência artificial é tão comum, que até setores mais conservadores, como os bancos, já se apropriaram dele. “Basta observar as diversas propagandas das máquinas inteligentes que já respondem pelas instituições bancárias e ajudam o cliente na solução de problemas e operação das contas”, afirmou.

Plataformas de serviços na web que utilizam IA:Concursos: Para os concurseiros de plantão, é possível acessar o site EduQC, que possui um sistema de inteligência artificial próprio para identificar as principais dificuldades dos candidatos e apontar o que pode ser feito para corrigir os erros.

Crédito Pessoal: A Rebel é uma plataforma de empréstimo pessoal, que utiliza IA no processo de validação do crédito, tudo isso feito com base nos perfis dos clientes. 

Buscar Emprego: Outra opção de AI é a Revelo, uma empresa de recrutamento digital, que reúne candidatos e empresas assinantes. É como um cardápio de vagas e profissionais e as empresas acessam o sistema para, a partir do perfil do qual necessitam, encontrar o ocupante ideal para a vaga.

Prevenir Desmatamento na Amazônia: O projeto Rainforest Connection utiliza smartphones para detectar sons de motosserras ou outros ruídos na Amazônia. Por meio de geolocalização, o usuário sinaliza a área onde há a suspeita de desmatamento e um comunicado é enviado às autoridades.

Identificar Doenças em Plantas: Dois alunos de ensino médio dos Estados Unidos criaram o TensorFlow, que reconhece quando alguma planta apresenta um problema. O sistema funciona a partir do cruzamento de bancos de dados abertos, disponíveis na web, capaz de detectar a doença da planta.Tecnologia x planejamento para empresas

Uma pesquisa do banco Morgan Stanley apontou que, na área de Tecnologia da Informação (TI), os gastos com inteligência artificial aumentaram consideravelmente em 2018: 48% dos CIOs (Chief Information Officer) de empresas aplicaram ou testaram sistemas de IA e machine learning este ano, contra 33% no ano passado. Neste sentido, Rita Pellegrino, que lida diretamente com a área de pessoal da TOTVS, afirmou que “está cada vez mais difícil buscar mão de obra especializada para as áreas ligadas às tecnologias”. 

Ainda de acordo com ela, em recente pesquisa desenvolvida pela empresa, 2 em cada 3 brasileiros assumiram não estar capacitados para assumir as vagas do setor. “Se levarmos em consideração que temos, hoje, quase 14 milhões de desempregados no país, não se qualificar para este novo cenário é um equívoco”, disse.

Rita também destacou que qualquer empresa pode acessar o ‘novo mundo’ trazido pela Indústria 4.0. “A gente tem pessoas especializadas em produzir um ERP, que nada mais é, em português, do que um planejamento de recursos da empresa”, explicou.

Ainda de acordo com ela, por meio do planejamento é possível escolher o melhor software para otimizar a produção, os custos e, consequentemente, a receita líquida da companhia. “Um ERP melhora a produtividade da empresa, integra as equipes, facilita o acompanhamento de resultados, aumenta a satisfação dos clientes e agrega valor ao produto final”, ressaltou.

No entanto, se o negócio for pequeno, Rita explicou que a pessoa pode conseguir transformar a atuação da empresa em algo relacionado à tecnologia apenas com a ajuda da internet. “É uma espécie de autodidata, já que com o Google é possível ter acesso a quase tudo, inclusive a modelos de negócios”.

Veja empresas que estão com vagas abertas para setores de tecnologia:Amazon - A gigante do e-commerce está com vagas abertas para atuação no escritório da empresa em São Paulo. As áreas são variadas, a exemplo de arquitetura de soluções, desenvolvimento de software, vendas, marketing, finanças e recursos humanos.

Apple - As vagas são, principalmente, para engenheiros de hardware com disponibilidade para morar em Recife. No entanto, no site é possível encontrar outras vagas em São Paulo ou no Rio de Janeiro.

Google - A empresa dos sonhos está com vagas abertas em São Paulo e Minas Gerais, para funções que vão desde engenheiros de softwares até profissionais do setor de vendas. 

Nubank:- A empresa do cartão roxinho está recrutando profissionais para o escritório em São Paulo, com vagas abertas nos setores de cientista de dados, designer, engenheiro de software e analista financeiro.Humanos x máquinas

Um ponto importante destacado por Erick Sperandio aborda a ideia de que as máquinas poderão tirar os trabalhos dos humanos. “Pensar dessa forma é terrível. A máquina, por mais inteligente que seja, não faz nada sozinha. No entanto, é preciso que o ser humano se qualifique para saber operá-la”.

Esse foi caso de Patrícia Lessa, 44 anos. Ela, como analista de sistemas, confessou que busca estar sempre se atualizando no mercado para dar conta - sozinha - dos novos desafios. “Eu acredito que cabe a cada um se preocupar com a própria formação e isso, hoje em dia, tem praticamente custo zero, requerendo apenas tempo e dedicação”, opina. 

Outro que não perdeu tempo foi o analista de T.I Luís Gaspar, 39, que, apesar de já conviver com essa realidade digital, não deixa de, como ele mesmo definiu, “se atualizar”. Segundo ele, “com o Google, Youtube e outros sites especializados em tecnologia, inclusive voltados para programação, é fácil conseguir aprender. Basta querer”.

Erick concluiu contando um caso que marcou a carreira dele de palestrante: “um dia eu fui palestrar para médicos, aqueles de carreira, que já têm cabelos brancos, e eles me perguntaram se perderiam espaço nas cirurgias para a tecnologia. Minha resposta foi exatamente essa - se não se qualificar, vai ficar para trás”.

O Fórum Agenda Bahia 2018 é uma realização do jornal CORREIO, com patrocínio da Braskem, Sotero Ambiental e Oi, apoio institucional da Prefeitura Municipal de Salvador, Consulado-Geral dos EUA no Rio de Janeiro, Federação das Indústrias da Bahia (Fieb) e Rede Bahia; e apoio do Sebrae e da  VINCI Airports.

*Com supervisão do editor Flávio Oliveira