Intercâmbio cultural: projeto leva estudantes baianos da rede pública à Europa

Alunos são de Salvador, Mata de São João e Jacobina e passarão 10 dias em Portugal

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  • Da Redação

Publicado em 22 de janeiro de 2022 às 05:00

Em 1500, os portugueses chegaram ao Brasil. Invasão ou descoberta? Como aconteceu o processo de colonização? Quais as transformações e impactos instituídos por Portugal na vida de pessoas inviabilizadas pela história? É isso que estudantes do oitavo e nono anos da rede pública de ensino investigam durante a quinta edição do projeto “Era uma Vez... Brasil”, em que 700 alunos baianos se inscreveram. Desse total, 200 passaram para a segunda fase e, para fechar com chave de ouro, em maio deste ano, cerca de 30 deles terão a oportunidade de ir ao território luso em um intercâmbio cultural de 10 dias.   Desde a primeira edição do “Era uma Vez... Brasil”, em 2016, mais de 5 mil estudantes baianos participaram da primeira etapa. Para a edição atual, a iniciativa mobiliza, desde março de 2020, 1.500 alunos e mais de 70 professores de três cidades baianas (Salvador, Mata de São João e Jacobina) e mais três municípios brasileiros (Belo Jardim, em Pernambuco, e Lençóis Paulista e Macatuba, em São Paulo). Em março, serão divulgados os nomes de cerca de 90 alunos que irão para Portugal, uma média de 30 por estado, mas tudo depende da avaliação final, em que os estudantes desenvolvem um curta-metragem. 

A diretora da Origem Produções, realizadora do projeto, Marici Villa, explica que a iniciativa se desenvolve em quatro etapas. A primeira são aulas de formação para os professores da rede pública de ensino, com oficinas de histórias em quadrinhos e de audiovisual.“Esse conhecimento é passado para os alunos que, então, desenvolvem suas HQ’s baseadas na chegada da família real ao Brasil, em 1808. Os selecionados nesta etapa seguem para a segunda fase, que é chamada campus”, explica a coordenadora. Na etapa dois, os alunos fazem uma imersão em dois colégios públicos da Bahia, localizados em Mata de São João e Jacobina. Os estudantes de cada um desses municípios ficam nessas instituições por sete dias. Por uma questão de custo interno do projeto, os inscritos de Salvador ficam “hospedados” com os alunos de Mata de São João. Nesta fase, os participantes terão oficinas de audiovisual para desenvolver outro desafio: produzir um curta-metragem.

“Na etapa campus, os alunos também saem para fazer visitas a comunidades, conhecer as pessoas, as lideranças dos locais e as suas lutas, que também são nossas. A ideia é colocá-los em contato com territórios de resistência do Brasil, entender a importância da demarcação de terras e todas essas questões”, específica Marici. 

Já na última etapa, em Portugal, os estudantes conhecem outros alunos da rede pública do país e, nesse momento, tentam mostrar que a chegada dos portugueses ao Brasil não foi uma descoberta, mas sim uma invasão, pois os indígenas já ocupavam o território. Nesta fase, os participantes também mostram um livro com os HQ’s da edição e o filme com os curtas. 

Cauã Furtado, de 14 anos, um dos alunos de Mata de São João, afirma que era uma pessoa muito tímida antes de participar da iniciativa, mas hoje já consegue fazer novos amigos e conhecer histórias diferentes. O aluno admitiu estar ansioso para viver uma das experiências do campus: visitar um quilombo. “Quero fazer várias perguntas, coisa que não fazia antes. É uma experiência que vai marcar muito a minha vida”, acredita. 

Para Yamin Miranda, 14, também de Mata de São João, o projeto é importante por proporcionar que ela conheça culturas diferentes. “Estou aprendendo muito sobre respeito. Têm pessoas, profissionais, que são ruins por não respeitarem o próximo e eu estou aprendendo muito para ser uma pessoa melhor. É um conhecimento que vamos levar pra vida”, comenta. 

O ator Ednei William, 18, participou do programa quando tinha apenas 13 anos e hoje é monitor da quinta edição. Para ele, ter toda experiência como aluno é uma transformação de vida, de entender mais sobre diversidade, sendo incrível voltar para o campus como um tutor.“Essa é a mensagem que temos para dar: a educação é transformadora, tanto para alunos como para gente que é professor”, avisa.*Com orientação da subchefe de reportagem Monique Lôbo