Irecê: duas casas desabam e 88 pessoas ficam desabrigadas após chuva

No fim da tarde de terça, voltou a chover forte na cidade

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  • Da Redação

Publicado em 3 de novembro de 2020 às 20:45

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Ascom/Prefeitura de Irecê

Assim que começou a chover em Irecê, por volta das 18h de segunda-feira (2), a água invadiu a casa do pizzaiolo Vitor Félix, 19 anos, no bairro de Shampoo Charme. Outras tantas residências ficaram alagadas. As ruas foram tomadas pela enxurrada, que adentrou lojas e arrastou um carro e uma moto. O Hospital Regional Dr. Mário Dourado Sobrinho também foi atingido. Segundo a prefeitura, a situação deixou 88 pessoas desalojadas. Ainda de acordo com a gestão municipal, dois imóveis desabaram com o temporal. Por volta das 17h desta terça (3), voltou a chover forte em Irecê.

Os desabrigados estão alojados na Escola Creche Silvia Pereira, na Igreja Católica Santa Teresinha e no Colégio Municipal Odete Nunes Dourado. A Defesa Civil do Estado da Bahia (Sudec) aponta que 50 famílias ficaram desabrigadas e outras 300 tiveram que ir para a casa de parentes e amigos durante a chuva, mas já retornam para suas residências.

Quem não puder retornar para as suas casas deve receber o aluguel social, disse o prefeito de Irecê, Elmo Vaz. “Estamos fazendo o cadastro com a Defesa Civil Estadual para saber como proceder em cada caso. A cidade pode ofertar o auxílio. Existem casas que não caíram, mas perderam forro e paredes tendo a estrutura comprometida”, explicou Vaz.

A cidade decretou situação de emergência por 60 dias nesta terça e vai integrar o decreto estadual que será publicado na quarta (4). Segundo o texto, choveu cerca de 180 milímetros em 3h durante a noite de segunda. O Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), entretanto, registrou 140.6 mm de chuva nas últimas 24h. O documento cita ainda a danificação e destruição do calçamento, entupimento de bueiros, obstrução de vias e dos sistemas de drenagens pluviais.

A meteorologista do instituto, Cláudia Valéria da Silva, informou que a quantidade de chuva registrada na cidade nas últimas 24h ultrapassou a média para todo o mês de novembro, que é de 100 mm. Ela ressalta que a ocorrência de tempestades não é algo estranho para o Nordeste. 

“O Nordeste não tem uma chuva bem distribuída e possui essa característica de chuvas intensas. O volume foi superior ao que normalmente ocorre devido ao intenso período quente que passávamos e a maior quantidade de humidade. Esse fenômeno assusta por provocar danos, mas ocorre todo os anos pela Bahia”, explicou da Silva.

Retorno da chuva A chuva mais intensa ocorreu entre às 18h30 e às 21h30 da segunda, afirmou o prefeito. Depois, a tempestade perdeu intensidade até estiar por volta da meia-noite. Uma garoa voltou a cair ao meio-dia de terça ganhando intensidade no final da tarde.

O retorno da chuva acende o alerta da população. O superintendente da Defesa Civil da Bahia (Sudec), Paulo Sérgio Luz, relatou a ocorrência de raios e trovoadas na cidade. Depois de ter tido a casa alagada, Vitor teme a reincidência da água. 

“Estou apreensivo, limpei tudo hoje de manhã. A casa estava suja de lama. Se chover como ontem, eu sei que vai alargar de novo. O jeito é esperar para ver”, lamentou o jovem.

A previsão é que continue chovendo na cidade até o final de semana. As equipes que atuam em Irecê estão de prontidão para atender novas ocorrências e alertam as pessoas para deixar áreas de risco. A meteorologista do Inmet prevê que as chuvas percam volume, mas continuem durante todo o restante da semana, que deve manter um tempo mais nublado e instável. Da Silva aponta que os últimos sete dias registraram volumes de chuva elevados em todas as regiões da Bahia.

Vitor acredita que as enxurradas são consequência do asfaltamento das ruas e a falta de bueiros na cidade. "A água fica acumulada e desce para os bairros de baixo destruindo tudo", afirmou.

O prefeito refuta a afirmação do morador. De acordo com Vaz, a cidade não possui um planejamento de macrodrenagem, o que impede que a água das chuvas sejam escoadas rapidamente. “O asfalto torna o solo mais impermeável, mas os alagamentos são resultado da chuva histórica. Aqui fica muito tempo sem chover e as pessoas esquecem que isso pode ocorrer”, afirmou. Paredes da casa de Vitor ficaram marcadas após água invadir o local (Foto: Reprodução/Arquivo Pessoal) Regiões periféricas são mais afetadas Durante a chuva, Vitor foi ilhado na própria casa com a água na altura da canela. Ele contou ter ficado desesperado e nervoso, mas restava esperar o fim do alagamento. Quando o tempo melhorou, o jovem retirou a geladeira e o fogão de casa para evitar possíveis danos causados pela água. Ele disse ainda nunca ter visto uma chuva tão forte na cidade.

“Meu primo só conseguiu chegar aqui depois das 21h porque a enxurrada fez a água bater no teto do carro. Estava perigoso sair naquela hora”, contou o jovem, que passou a noite na casa do primo, mas já retornou para a sua residência.

Segundo o prefeito de Irecê, a região do ginásio de esportes foi a mais afetada pelas chuvas, seguida do loteamento de Washington e do bairro São Francisco, que também registraram muito acúmulo de água. As regiões periféricas da cidade foram as mais afetadas por ficar na parte baixa do município.

“A gente estava usando ônibus ontem para realizar o resgate das pessoas. Hoje, estamos fazendo a limpeza das ruas com máquinas e abrindo as áreas de alagamento. O Corpo de Bombeiros e as Defesas Civis estadual e municipal avaliam as casas com possíveis danos. O desabrigados ainda recebem refeições e doações”, pontuou o prefeito ao citar as ações realizadas no município. Moradoradores e empresas fazem doações para auxiliar população afetada pelos alagamentos (Foto: Ascom/Prefeitura de Irecê) Comandante do 7º batalhão da Polícia Militar de Irecê, o Tenente Coronel Carlos Augusto, colocou seus militares para apoiar as ações da prefeitura na cidade e realizar guarnições nas áreas de difícil acesso para alertar a população dos riscos desses locais. A PM ainda arrecada doações. Segundo o Tenente Coronel, a corporação já recebeu quase 200 cestas básicas e mais de 2 mil peças de roupas. Todo material é distribuído para as famílias afetadas pelas chuvas. 

“Não tem como saber quantas casas foram alagadas, mas foram muitas, a maioria nos bairros mais periféricos, que ficam na parte mais baixa da cidade. Algumas pessoas não deixam suas casas mesmo com elas alagadas por terem medo de furtos”, comentou o militar.

A prefeitura acionou o Corpo de Bombeiros de Lençóis, que enviou 10 bombeiros para a cidade. A Polícia Rodoviária Federal também foi acionada para verificar uma pista da região que corria o risco de romper.

Em nota, o Hospital Regional informa que parte da Fundação Hemoba, que fica em um prédio anexo ao hospital, e de alguns setores do hospital foram invadidos pela água. A unidade de saúde não interrompeu os atendimentos e os pacientes das áreas afetadas foram remanejados para outros locais do hospital, sem nenhum prejuízo ao tratamento prestado. Segundo a direção da unidade, já foi realizada a retirada da água, limpeza e desinfecção das áreas afetadas.

Nesta terça, o Inmet voltou a publicar alerta laranja para chuvas na Bahia. O aviso aponta para uma situação meteorológica perigosa, com fortes chuvas e ventos intensos, o que pode causar corte de energia elétrica, queda de galhos de árvores, alagamentos e de descargas elétricas.

Previsão do tempo Para a quarta (4), a previsão de sol com muitas nuvens durante o dia, com períodos nublados e chuva a qualquer hora, segundo o Climatempo. A chance de chuva é de 90%. A mínima deve ser 19ºC e a máxima pode chegar a 24ºC.

Na quinta (5), a previsão é de tempo chuvoso durane o dia e noite. Segundo o Climatempo, a chance de chuva é de 90%. A mínima pode chegar a 19ºC e a máxima deve ser 23ºC.

Na sexta (6), a chance de chover continua em 90%. Segundo o Climatempo, a pevisão é de sol com muitas nuvens durante o dia, com períodos nublados e chuva a qualquer hora. A mínima pode chegar a 20ºC e a máxima deve ser 27ºC.

No sábado (7), a previsão é de sol com aumento de nuvens de manhã e pancadas de chuva à tarde e à noite. Há a possibilidade  de 90% de chuva no dia, segundo o Climatempo. A  mínima pode chegar a 19ºC e a máxima deve ser 27ºC.

No domingo (8), o Climatempo não prevê chuva na cidade, que deve registrar sol com algumas nuvens. A  mínima pode chegar a 21ºC e a máxima deve ser 32ºC.

*Com orientação da chefe de reportagem Perla Ribeiro