Irmã Dulce será interpretada por garota de 15 anos em peça teatral na Fonte Nova

Adolescente conversou com o CORREIO e falou do desafio e responsabilidade em viver a história da santa

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  • Fernanda Varela

Publicado em 4 de outubro de 2019 às 19:08

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Irmã Dulce é a primeira santa brasileira da história (Foto: Divulgação) Os preparativos para a primeira celebração no Brasil pela Canonização de Irmã Dulce estão sendo cuidados nos mínimos detalhes. Ajuste de posicionamento no palco, falas decoradas, coreografias. Tudo está sendo bem amarradinho para, lá de cima, orgulhar o Anjo Bom da Bahia.

Isso porque, no dia 20 de outubro, haverá um evento na Fonte Nova dedicado à nova santa, com missas e apresentações culturais. O ato acontece exatamente uma semana após a canonização da Dulce dos Pobres, como será chamada após a cerimônia no Vaticano, em Roma, na Itália. 

Nesta sexta-feira (4), aconteceu mais um ensaio do espetáculo “Império de Amor”, que faz parte da celebração, no Centro Educacional Santo Antônio (Cesa), núcleo de educação das Obras Sociais Irmã Dulce (Osid), em Simões Filho, na Região Metropolitana de Salvador. 

Uma das mais ansiosas para o grande dia da apresentação é a estudante Ana Almeida, de apenas 15 anos. A tensão não é à toa, afinal, ela terá a responsabilidade de interpretar ninguém menos que a própria Irmã Dulce. "No início foi muito difícil para mim, porque eu levei um susto e não estava acreditando que ia ter essa responsabilidade toda", admite. Ana interpretará Irmã Dulce no espetáculo (Foto: Marina Silva/CORREIO) Dedicada, ela se vira para dar conta dos estudos e dos ensaios. E é mesmo importante praticar, afinal, ela aparece em praticamente todas as cenas do espetáculo."Eu estou sentindo tudo ao mesmo tempo. É incrível, maravilhoso, cansativo, tenso, tudo. Eu nunca atuei para mais de 300 pessoas, estou super nervosa, porque além das 50 mil pessoas da Fonte Nova, tem gravações e gente do mundo inteiro vai ver", completa ela, que atua desde os 12 anos.Para fazer bonito na Fonte Nova, a adolescente estudou sobre a história de Dulce, através de livros, filmes, documentários e reportagens. O que mais encantou Ana foram as frases ditas pela religiosa. "Além disso, me encantei porque ela fez tudo por amor, sem pedir nada em troca. Acho que não sabemos valorizar a importância disso. Ela foi humilhada, passou necessidade e nunca desistiu, tudo por amor", completou. Ana ensaia todos os dias da semana (Foto: Marina Silva/CORREIO) Quem também não vê a hora de entrar em cena é Anderson José Farias do Santos, 21 anos. Morador de Brotas de Macaúbas, na Chapada Diamantina, ele ignorou o cansaço de pegar 590 km de estrada até a capital baiana e não dançou durante toda a preparação, que começou às 14h e teve três horas de duração.

O jovem, que tem paralisia cerebral, fará parte da ala dos deficientes na peça. Auxiliado pela mãe, fez coreografias com os braços e agradeceu pela chance de participar da festa."Estou gostando muito de participar da peça, estou ansioso. Sou paciente da Osid desde os 10 anos, lá é minha segunda casa. Eu não conheci Irmã Dulce, mas considero ela uma segunda mãe. Todas as minhas necessidades, eu recorro a ela e são atendidas", conta ele, que tem a cadeira de rodas guiada pelas mãos da mãe, a comerciante Marizete Ribeiro. Anderson se diverte no ensaio ao lado da mãe e de outros atores mirins (Foto: Marina Silva/CORREIO) Peça Diretor do espetáculo, que terá 1h30 de duração e começará às 15h, Léo Passos conta que ao todo serão 600 atores, sendo 550 crianças e adolescentes das obras, além de voluntários, idosos e funcionários. Segundo ele, a peça abordará o legado deixado pela religiosa.

"Não vamos traçar uma linha do tempo. Vamos falar das obras, da humanidade dela. Do acolhimento, carinho, humanidade. De tudo o que ela fez e ainda faz, porque segue presente nas nossas vidas. É também um apelo para que não deixemos esse trabalho acabar", diz. Léo conta detalhes da peça (Foto: Marina Silva/CORREIO) Os ensaios acontecem diariamente, de segunda a sexta-feira, das 8h às 16h30. Tanta dedicação foi coroada com a notícia da canonização. É que Léo ensaiava seu elenco desde maio para uma peça de celebração dos 60 anos das Osid, até que todos foram surpreendidos com o fato de que Dulce seria, enfim, reconhecida como a primeira santa brasileira da história.

"O anúncio foi feito em julho e, desde então, houve essa mudança de planos. O espetáculo vai ser lindo, terá canções feitas para a peça. Usaremos também músicas de Roberto Carlos, porque ela era fã, e Doce Luz, a música oficial desse processo todo dela", completou. A expectativa é que 55 mil pessoas assistam à apresentação, que também reunirá personalidades da música baiana, como Margareth Menezes, Waldonys, Saulo, Tuca Fernandes e Padre Antônio Maria.

Irmã Dulce
Infogram

Além da peça teatral, o evento contará também com uma missa presidida pelo arcebispo de Salvador e Primaz do Brasil, Dom Murilo Krieger, com início previsto para as 17h. Peça relembrará galinheiro onde Irmã Dulce ergueu hospital (Foto: Marina Silva/CORREIO)

Ingressos Os ingressos para participar da festa serão gratuitos e distribuídos através das paróquias da Arquidiocese de Salvador. Já para o público de outras cidades e estados brasileiros, a distribuição ficará a cargo da Secretaria da Canonização das Obras Sociais Irmã Dulce.

Os interessados devem solicitar o bilhete através do e-mail [email protected]. Nestes casos, a retirada será no Santuário de Irmã Dulce até o dia 19 de outubro ou na Arena Fonte Nova, no próprio dia do evento, 20.

Crianças de até 2 anos não precisam de ingresso para ter acesso ao estádio.

Canonização  Religiosa da Congregação das Irmãs Missionárias da Imaculada Conceição da Mãe de Deus, Irmã Dulce nasceu em Salvador, em 26 de maio de 1914. Na capital, morreu em 22 de maio de 1992. A religiosa foi beatificada em 22 de maio de 2011, em cerimônia no Parque de Exposições. 

José Maurício, baiano que mora em Recife, foi o objeto do segundo milagre de Irmã Dulce. Através das orações para Dulce, José voltou a ver. José Maurício era cego e voltou a enxergar (Foto: Thais Borges/CORREIO) A Canonização de Irmã Dulce começou em janeiro de 2000. Com o início do processo, seus restos mortais, que desde 1992 estavam na Igreja da Conceição da Praia, foram então transferidos para a Capela do Convento Santo Antônio, na sede das Obras Sociais Irmã Dulce (Osid), também em Salvador.

A validação jurídica do virtual milagre presente no processo foi emitida pela Santa Sé em junho de 2003. Já em abril de 2009, o Papa Bento XVI reconheceu as virtudes heróicas da Serva de Deus Dulce Lopes Pontes, autorizando oficialmente a concessão do título de Venerável à freira baiana. O título foi o reconhecimento de que Irmã Dulce viveu, em grau heróico, as virtudes cristãs da Fé, Esperança e Caridade.

O voto favorável e unânime da Congregação para a Causa dos Santos, que levou ao título de Venerável, havia sido concedido em 2008 e anunciado em janeiro de 2009 pelo colégio de cardeais, bispos e teólogos após a análise da Positio – documento canônico misto de relato biográfico e das virtudes e resumo dos testemunhos do processo. Os teólogos que estudaram a vida e as obras de Irmã Dulce a definiram como a “Madre Teresa do Brasil”, pelas semelhanças do seu testemunho cristão com a Beata de Calcutá, sendo “um conforto para os pobres e um exame de consciência para os ricos”.

O título de Bem-Aventurada Dulce dos Pobres foi concedido depois que foi reconhecido como milagre a salvação, pela intercessão de Irmã Dulce, da sergipana Cláudia Cristiane Santos. Em janeiro de 2001, ela sofreu durante 18 horas com sangramentos após o parto do seu filho, Gabriel, na Casa de Saúde e Maternidade São José, na cidade de Itabaiana. Após o padre José Almí de Menezes rezar por Irmã Dulce, Cláudia se viu curada instantaneamente.  Cláudia e seu filho Gabriel: salvos no primeiro milagre de Irmã Dulce (Foto: Reprodução) No dia 9 de junho de 2010 é realizada a exumação e transferência das relíquias (termo utilizado para designar o corpo ou parte do corpo dos beatos ou santos) da Venerável Dulce para sua capela definitiva, localizada na Igreja da Imaculada Conceição da Mãe de Deus, situada ao lado da sede da Osid, no Largo de Roma. A Capela das Relíquias foi construída na própria Igreja da Imaculada Conceição, erguida no local do antigo Cine Roma e do Círculo Operário da Bahia, construídos pela freira na década de 40.

No dia 13 de outubro, além de Irmã Dulce, serão canonizados os seguintes beatos: John Henry Newman, cardeal, fundador do Oratório de São Filipe Néri na Inglaterra; Giuseppina Vannini (no século Giuditta Adelaide Agata), fundadora das Filhas de São Camilo;  Maria Teresa Chiramel Mankidiyan, fundadora da Congregação das Irmãs da Sagrada Família e Margherita Bays, Virgem, da Ordem Terceira de São Francisco de Assis.

SERVIÇO - CELEBRAÇÃO PELA CANONIZAÇÃO DE IRMÃ DULCE Data: 20 de outubro Local: Arena Fonte Nova (Salvador-Bahia) Horário: a partir das 12h30