Isaura Maria: 'Estou preocupada com o fim de um clube centenário'

Primeira candidata à presidência do Vitória quer mais mulheres na direção

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  • Vitor Villar

Publicado em 19 de abril de 2019 às 05:10

- Atualizado há um ano

. Crédito: Almiro Lopes / CORREIO

Isaura Maria é a primeira mulher a concorrer à presidência do Vitória. A pioneira tem uma longa história com o rubro-negro: desde torcedora, passando por radialista esportiva nos anos 1980 e colaboradora das categorias de base na década de 1990, época de arranque do Leão em títulos e torcida.

A candidata pela chapa 'Vitória, uma história de amor e paixão' quer trazer mais mulheres para a direção do clube e aproximar o torcedor dos jogadores e das dependências da Toca do Leão. Também quer realizar shows como a 'Melhor Segunda-Feira do Mundo' no Barradão e já tem um indicado para o dirigir o futebol rubro-negro.

Pelas regras, as primeiras perguntas serão igualmente feitas para todos os candidatos. As últimas cinco foram elaboradas especialmente para cada entrevistado, observando sua trajetória.

O CORREIO já publicou entrevistas com os candidatos Raimundo Viana e com Gílson Presídio. Na sequência, será a vez de Paulo Carneiro. O candidato Walter Seijo não quis conceder entrevista.

Confira a entrevista completa:

Por que você decidiu concorrer à presidência do Vitória?

Por ver hoje o Vitória como nunca vi em minha vida. O Vitória precisa de pessoas que realmente o amem. Não posso aceitar o clube gerido por pessoas que queiram fazer negócio com ele. Tenho recebido ligações para que eu desista, mas vou até o fim. Já estou acostumada com essa pressão. É porque sou mulher. Também enfrentei isso em 1983, quando fui a primeira repórter (esportiva) da Bahia. Nunca tive vontade de ser presidente, mas agora estou preocupada com o fim de um clube centenário.

Essa é sua primeira eleição. Por que acredita que vai sair vitoriosa?

Eu não esperava que a repercussão fosse tão grande. Meu telefone não para, é o dia todo com ligações do Rio de Janeiro, São Paulo, Brasília... Minha irmã viu no Facebook um rapaz me chamando de ‘vovó do Vitória.’ Eu fico grata, porque ser avó é ser mãe duas vezes. Antes de lançar candidatura procurei Raimundo Viana, mas não deu certo. Sempre votei em Viana e achei que se não me liberasse para concorrer estaria o traindo. Quando ele me disse ‘pode ir Isaura, porque uma mulher vai engrandecer o pleito do clube’ me senti ainda mais encorajada.Sempre votei em Viana e achei que se não me liberasse para concorrer estaria o traindo.De onde tirar dinheiro agora, a curto prazo, para investir e tirar o time da Série B?

Não quero prometer nada, preciso ver como está a situação. Por exemplo, temos no estádio espaços para alugar para shows. Se faz Lollapalooza em São Paulo e Rock in Rio no Rio de Janeiro, por que não fazer algo assim no Barradão? Por exemplo, temos dois homens e duas mulheres que são Vitória e quero que eles façam seus shows lá. Ivete Sangalo, Daniela Mercury, Léo Santana. Xanddy não tem a ‘Melhor Segunda-Feira do Mundo’? Por que não faz no Barradão?

Como fazer uma reformulação no time sem dinheiro?

Sobre futebol, quem pode dar maiores esclarecimentos é nosso diretor de futebol, Luiz Santos e Santos. Na minha gestão vai ser cada um na sua função.

Como trazer a torcida de volta para o estádio?

Temos que chamar o torcedor para dentro do clube. Ele não tem que ir ao Barradão só para ver o jogo e acabou, ele tem que participar do dia a dia. Você já viu algum torcedor ser quem entrega o troféu ao time? Já viu torcedor homenageado com medalha do Vitória? Queremos que o sócio conheça concentração, base, mostrar que aquilo é deles. Agora, o torcedor não pode ficar só reclamando de falta de motivação. Ora, se você tem um filho que está passando por um problema você vai botar ele para fora de casa? Não vai. O certo é abraçar.Queremos que o sócio conheça concentração, base, mostrar que aquilo é deles.O técnico Claudio Tencati e o gerente de futebol Alarcon Pacheco ficam?

O supervisor (Alarcon) que tem lá desde o início não gostei da contratação dele, nem do anterior (Jorge Macedo). Nós temos pessoas capacitadas aqui na Bahia para ser diretor de futebol. Eu não faria muita questão de mantê-lo, não. O técnico a gente vai conversar, porque ele é bom.

Ser a primeira mulher a concorrer à presidência é uma vantagem no pleito?

Acho que é uma vantagem. Te pergunto: tem alguma mulher diretora no Vitória? Agora vai ter duas, eu como presidente e a minha vice-presidente, Iracy Teixeira. E pretendo trazer mais mulheres para o clube. Não é só pelo fato de ser mulher, tem que ter competência para trabalhar e ser forte. Você sabe que nesse ramo é difícil uma mulher perseverar. Eu, como repórter, sempre fui muito respeitada, mais foi difícil. (NOTA: Isaura não sabia, mas Many Gleize é atual coordenadora de esportes olímpicos e de futebol feminino).Pretendo trazer mais mulheres para o clube. Não é só pelo fato de ser mulher, tem que ter competência para trabalhar.Você acredita que os jogadores precisam ser mais valorizados?

A gente quer conversar com os jogadores, mostrar a eles que são valorizados pela torcida. Como era feito antigamente, lembro que meu pai entrava no vestiário e conversava com os atletas, como se fossem pai e filhos. Lembro que Seu Palmeiras (antigo dirigente) entrava com pirulitos de morango no vestiário e saíam os jogadores – aquela turma de André Catimba, Romenil, França - para o campo com a boca vermelha do pirulito. A gente tratava o jogador como se fosse criança, porque ele tem que saber que é importante para a torcida.

Uma das suas propostas é dar transparência aos contratos. Como fazer isso se contraria o que é de praxe no mercado?

Para ter mais transparência dos contratos. Por exemplo, se você chega pra mim e pergunta sobre um contrato eu não sei. O clube não pode se negar a dar credibilidade. Se não é praxe, a gente não pode ser igual. No dia que algum começar com transparência todo mundo vai. Por exemplo, se vendo o jogador por R$ 1 milhão por que vou dizer que vendi por R$ 500 mil? Tenho que mostrar que foi R$ 1 milhão, para acabar com os repasses a empresários e tantos outros.

Você não tem experiência como dirigente de futebol. Como lidar com isso?

No futebol eu só vou dar a posição final. Vai ficar totalmente na mão de Luiz Santos e Santos. Ele que será o diretor de futebol. Porque, se eu fosse fazer o futebol, eu não teria por que ter um diretor, não é verdade? Se você é cardiologista, vai cuidar do coração. Se é ortopedista, vai cuidar dos ossos. A gente não pode misturar as coisas. Porque panela em que muito se mexe ou ela salga ou fica insossa. Vou confiar na expertise dele.No futebol eu só vou dar a posição final. Vai ficar totalmente na mão de Luiz Santos e Santos.Quem é esse diretor que você confia tanto? Pode fazer um perfil dele?

Luiz Antônio Santos e Santos. Ele é advogado, doutorando em ciências jurídicas e sociais, professor, policial aposentado, gestor de futebol formado na Suíça e gestor de carreiras. Foi diretor no futebol de Sergipe e de São Paulo e hoje está ajudando o Lanús, da Argentina. Aliás, foi ele quem levou Tiago (ex-zagueiro do Bahia) para o Lanús, é o único jogador brasileiro no futebol argentino.

Quem é Isaura Maria Isaura Maria Conceição é ex-funcionária da Petrobras e trabalhou nos anos 80 como radialista esportiva. No início dos anos 90, trabalhou na base do Vitória. É também autora do livro "Vitória, uma história de amor e paixão".