Jaguaribe em 1992: praia lotada e barracas funcionando

Demolição das barracas de praia da orla de Salvador completou dez anos em 2020

Publicado em 18 de outubro de 2020 às 07:00

- Atualizado há um ano

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Praia de Jaguaribe lotada e Barraca do Gaúcho funcionando no verão de 1992 (Foto: Luiz Hermano/Arquivo CORREIO) Parece um passado distante, mas faz só dez anos que a orla de Salvador não conta mais com barracas de praia. Essa de Jaguaribe foi fotografada em 25 de fevereiro de 1992 - alto verão na capital baiana - por Luiz Hermano. Mas o 'desaparecimento' das barracas é bem mais recente - elas começaram a ir ao chão em 2009. Primeiro, Pituaçu; depois, Jaguaribe. No ano seguinte, a justiça federal mandou demolir mais 353 barracas que ainda restavam na orla da cidade, por conta de uma disputa que havia começado quatro anos antes, em 2006.

O dia 23 de agosto de 2010 foi tenso na orla. Naquele dia, máquinas da prefeitura iniciaram o trabalho de derrubada. Só naquela segunda-feira, 102 estruturas foram ao chão, mas não pacificamente. Donos e funcionários de barracas, que tinham suas vidas atreladas ao trabalho na orla, bradaram, choraram, xingaram, imploraram, sem sucesso.

Os repórteres Jorge Gauthier, Arisson Marinho, Bruno Menezes e Robson Mendes acompanharam a demolição de perto. Pessoas atravessaram a pista, bloquearam o trânsito em protesto e até usaram fogo para tentar impedir a demolição, que aconteceu mesmo assim."O fogo foi o instrumento de muitos para evitar a derrubada. 'Prefiro ver pegando fogo do que ver um trator derrubar minha via de trabalho', bradava o barraqueiro Eduardo Melo dos Santos, que sofreu um infarto depois de receber a notificação de derrubada de sua barraca. Além da barraca dele, manifestantes atearam fogo em outras duas em Itapuã", dizia um trecho da reportagem de Jorge Gauthier naquele ano.As primeiras barracas a cair foram as de luxo, algumas avaliadas em até R$ 1 milhão. Os donos se juntaram no lamento aos garçons, que trabalhavam nos estabelecimentos e, a partir daquele momento, não tinham mais para onde ir. As demolições seguiram até o final da semana. Todas as barracas que ocupavam a faixa de areia da orla foram demolidas. Ficaram de pé somente os restaurantes que eram instalados na parte de cima, como o Jangada e o Língua de Prata, em Itapuã - estes dois foram demolidos em 2015 no processo de revitalização da orla de Itapuã. No dia 23 de agosto de 2010, 102 barracas foram demolidas na orla de Salvador (Foto: Arisson Marinho/Arquivo CORREIO) As demolições O processo que resultou nas demolições das barracas de praia de Salvador começou em 2006. Em outubro daquele ano, o Ministério Público Federal entrou com uma ação contra a prefeitura porque esta havia começado a fazer ampliações nas barracas, sem licença ambiental, na faixa de areia. Em maio de 2007, a Justiça mandou derrubar as barracas, mas a prefeitura intercedeu e entrou com uma ação para tentar impedir a derrubada.

Os barraqueiros entraram com uma ação contra o juiz federal Carlos D'Ávila, afirmando que ele não tinha imparcialidade para julgar o caso, e o processo ficou parado até o ano seguinte, 2008, quando o Tribunal Regional Federal negou o recurso. Em 2009, os barraqueiros entraram com outra ação contra o juiz e o processo foi novamente suspenso. Mas, a prefeitura retirou o pedido judicial que impedia a derrubada.

Naquele mesmo ano, o município apresentou uma proposta para reduzir o número de barracas na orla de Salvador de 496 para 266. O juiz aceitou a proposta, mas um novo recurso suspendeu o processo. Em agosto de 2009, a Vigilância Sanitária de Salvador encontrou irregularidades em 137 barracas e pediu a demolição delas - foi aí que começou a derrubada em Pituaçu e Jaguaribe, com 98 demolições.

No final de julho de 2010, o juiz Carlos D'Ávila ordenou a demolição das 353 barracas que restavam na orla de Salvador e nas ilhas que pertencem à cidade: Ilha de Maré, Ilha de Bom Jesus dos Passos e Ilha dos Frades.