Jamais seremos os mesmos, nem os finados, nem os afinados, nem os desafinados

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  • Da Redação

Publicado em 3 de novembro de 2020 às 11:43

- Atualizado há um ano

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André Luiz Simões (Foto: Reprodução) Não gostava de dia disso, dia daquilo, para tratar de assuntos de complexidades humanas, mas há algum tempo, reformulei meus conceitos sobre a visibilidade, que concentrar atenção e energia em um tema, pode, ao menos uma vez no ano, estimular o debate para a estruturação de uma mente mais ampla, tão necessária aos tempos.

O Dia de Finados para mim sempre foi como construi em mim: um dia de AFINnados. Dia de emitir memória e acolhimento para os que me foram afins, no sentindo de partilhar a existência neste tempo.

Neste dia faço como em todos os outros: falo com elas e eles. Quem me vem à mente vou falando. Conversa do maior requinte de fantasia, com direito a inventar tudo que eu sentir e conssentir.

Porém, este dois de novembro de dois mil e vinte está escrito em nossa trilha de testemunhas da pandemia. O dia, no qual, mais uma vez, nos lembramos dos muitos que partiram. 

Gente que amamos. Gente que nos forjou gente. Gente que nos ama. Gente que levou um pedaço da gente.

Neste dia vou pedir permissão aos meus e a todas e todos, para dar as mãos aos que ficaram. E juntos, acolhermo-nos com quem se foi. Somos os que dividiremos as lembranças e saudades. Ainda nos resta viver, mesmo que despedaçados.

Nestes tempos, todo mundo ampliou-se um pouco em seu mundo interior, que como disse uma amiga e que parelha com o que penso: "mesmo que nem todos tenham se dado conta".  

A OFERTA DA VIDA nunca nos foi tão substantiva e sentida. Jamais seremos os mesmos, nem os finados, nem os afinados, nem os desafinados. Nem os que ficaram, nem os que partiram, que sei continuarão a existir, principalmente ao cultuarmos nossas memórias, das quais, quem se foi, partilha.

Hoje foi dia de partilhar memórias. De se colocar em estado de lembrança com quem nos habita. De sentir, mais do que falar. De externar, mais do que omitir. De amar, além do impossível. De materializar aquele corpo que você talvez não tenha podido ver partir, pelas restrições de presença e acesso a enfermos e enterros.

Me identifico com você que ficou, pela mesma razão que não foi: você não sabe de nada! Você não controla nada. Você é miúdo em possibilidade e gigante em impossibilidade. Estamos em um mar, navegando em barcos muito desiguais, em um oceano de vida ou morte. 

E o detalhe: ninguém sabe para onde estamos indo. A navegação entrou em colapso. As bússolas não reconhecem mais um norte para todos, mas apontam para um norte pessoal para todos. Cada um com o seu e todos perdidos. (Foto: Reprodução) Que a vida se faça em toda a sua plenitude, que não alcanço, mas sigo que nem cachorro atrás do próprio rabo. 

Aos finados, nós. A nós, os finados. Que sigam conosco existindo em cada lembrança, afeto, sorriso, sentimento e conexão. Que a substância do amor nos seja comum e possa nos sustentar nessa travessia, que alterna turbulência e abalo, a  cada instante.

Um abraço possível em cada uma e cada um, na razão direta da amorosidade, que desejo lhe acolha e invada.

Agradecidíssimo por lerem, sentirem e abraçarem os seus, daqui com cuidados, e de lá, sem mais barreiras e limites.

Cuidemos de nós e dos outros. Acatemos a maldade que nos entranha e espalhemos a mais pura atitude e vibração de bondade entre nós. Abracemo-nos, sobrevivamos e vivamos. 

*André Luiz Simões, terapeuta junguiano, produtor artístico e apresentador.

Texto originalmente publicado no Instagram e republicado com autorização.