Joias voltam para o lar: painéis retirados há 20 anos da Igreja do Pilar são devolvidos

Obras do pintor José Teófilo de Jesus ainda não foram penduradas porque a Irmandade diz não ter condições de fazer a instalação

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  • Da Redação

Publicado em 25 de novembro de 2021 às 05:00

- Atualizado há 10 meses

. Crédito: Arisson Marinho
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Há 20 anos, 17 painéis de autoria do baiano José Teófilo de Jesus eram retirados da Igreja Matriz de Nossa Senhora do Pilar e Santa Luzia, no bairro do Comércio, e levados para ficar sob tutela do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) e do Museu de Arte Sacra da Ufba. As pinturas possuem um valor simbólico gigantesco, uma vez que foram feitas por aquele que é considerado o maior pintor ativo da Bahia na primeira metade do século XIX. Agora, os painéis retornaram para o seu local de origem.

O padre Renato Minho, que está à frente da igreja desde 2019, foi quem começou a organizar a articulação que trouxe de volta os painéis: “Eu, assim como todos os outros que entravam aqui, me perguntava onde estavam as pinturas dessas molduras vazias”, relembra. Segundo o padre, elas foram retiradas do local em 2001 por questões de segurança, além de um problema de infiltração, que teria inclusive danificado uma das imagens.    O padre Roberto Minho está há dois anos à frente da Igreja e foi quem começou o movimento de trazer as imagens de volta. (Foto: Arisson Marinho) A igreja ficou cerca de 17 anos fechada devido às condições precárias que se encontrava e foi reaberta em 2012, depois de processos de requalificação feitos pelo Iphan e o Instituto do Patrimônio Histórico e Cultural da Bahia (Ipac). José Dirceu Argôlo, doutor em restauração de obras de arte, chegou a trabalhar com pinturas de José Teófilo de Jesus e explica que a volta dessas artes é essencial não só para os fiéis, mas para toda a sociedade.

“Esse retorno é uma ação a se aplaudir, a igreja perde muito da sua importância sem os painéis, as obras ajudam a dar originalidade, além de serem ligadas à fé”, afirma Argôlo. As imagens datam da primeira metade do século XIX, quando o jovem pintor e dourador foi convidado pelo comendador Pedro Rodrigues Bandeira para, com liberdade, confeccionar as telas. José Teófilo de Jesus tem um estilo considerado como de transição entre o barroco e o neoclássico.

Argôlo, que trabalha há mais de trinta anos com restauração, explica que o estilo barroco é mais rebuscado, possui mais saliências e drama. Já no neoclássico, há uma perda desse movimento exagerado, característico do período anterior. Enquanto o primeiro deles ficou conhecido como a marca do Brasil colônia, o segundo é próprio do império, quando a corte portuguesa veio para o país. 

“A Igreja do Pilar é uma das mais importantes de Salvador e esses painéis são uma joia absoluta da Bahia”, explica o historiador e artista plástico Rafael Dantas. Ele conta que as pinturas possuíam uma grande função representativa na época em que foram produzidas, pois eram uma forma das pessoas se informarem. Como naquele período haviam poucos alfabetizados, as imagens religiosas, além de narrarem histórias, transmitiam recomendações bíblicas para os fiéis.  Enquanto não são penduradas, as pinturas ficam no chão da Igreja (Foto: Arisson Marinho) Uma polêmica tem rondado o assunto dos retornos das obras ao seu local de origem: um dos painéis de José Teófilo de Jesus está desaparecido. O restaurador José Dirceu Argôlo e Rafael Dantas são algumas das pessoas que cobram que seja explicado onde essa imagem de valor altíssimo se encontra e o que aconteceu com ela. 

Segundo o Iphan, todos os bens pertencentes ao monumento foram inventariados em 2001 e o instituto mantinha sob sua guarda três dessas imagens, que foram devolvidas. O superintendente do órgão na Bahia, Bruno Tavares, afirma que essa obra provavelmente foi perdida em um desabamento seguido de incêndio que aconteceu na igreja antes da realização do primeiro inventário.  

Ele diz ainda que será realizada uma vistoria no local para atualizar os registros das peças e que os serviços necessários à reinstalação estão sob responsabilidade da Irmandade.

A Irmandade pede ajuda

Apesar das pinturas terem voltado, a igreja diz que não possui condições de instalar os painéis, que têm ficado no chão enquanto não são pendurados. As imagens são pesadas e devem ser tratadas com todo o cuidado possível, por isso o padre pede que benfeitores façam doações para que o trabalho seja realizado e que empresas especializadas também se apresentem. Quem puder ajudar, é só entrar em contato com o padre Renato Minho no telefone (71) 98656-6998.

A Igreja Matriz de Nossa Senhora do Pilar e Santa Luzia começou a ser construída em 1756 e foi tombada pelo Iphan na década de 30. No seu pátio interno, se encontra a fonte que, segundo a religião, possui águas milagrosas; há também um cemitério, o primeiro construído em anexo de uma Igreja Católica em Salvador, de estrutura neoclássica. Ele foi finalizado em 1799 e tinha como função evitar problemas sanitários decorrentes dos enterros dentro da própria Igreja.