Jornaleiro pop-star: conheça banca que vende Correio desde 1979

Seu Adeládio fez história no Pau Miúdo, já recebeu Hillary Clinton e transformou banca em ouvidoria

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  • Fernanda Santana

Publicado em 15 de janeiro de 2019 às 02:00

- Atualizado há um ano

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Hillary Clinton esteve no Pau Miúdo. E, quando saía de um projeto social no bairro, em 1995, mirou Seu Adeládio em frente à sua banca de jornal na Rua Marquês de Maracá. Trocaram um olhar simpático e a política seguiu para o próximo destino. Tornou-se mais uma personagem das histórias contadas e ouvidas no ponto. Os casos parecem sair das páginas de jornais e revistas para ganhar vida naquela calçada. É de lá, o mais antigo ponto de venda do Jornal Correio, que Adeládio Nunes, 64, o proprietário, une e confronta a própria vida com a do jornal fundado em 1979.

O olhar da norte-americana como que eleva a banca a um ponto turístico. Na verdade, uma espécie de ouvidoria, composta por moradores, visitantes, e, desde Hillary, turistas e forasteiro.“Não que a gente tenha se falado, mas senti a empatia no olhar dela”, lembra Seu Adeládio.CLIQUE AQUI E VEJA ESPECIAL COMPLETO CORREIO 40 ANOS+

De domingo a domingo, das 8h às 20h, Seu Adeládio tenta fazer jus ao título, talvez único, mas bastante merecido, segundo vizinhos da Rua Marquês de Caracá. “Acho que sou conhecido no mundo todo, de ponta a ponta”, diz, entre a brincadeira e a completa seriedade. “Mas, como?”, é provável e até lógico que você se pergunte. Seu Adeládio: o baiano que transformou a banca de jornal numa espécie de ouvidoria e ponto turístico (Foto: Arisson Marinho) Talvez seja uma mistura de rotina e metodologistas. Seu Adeládio é um homem de métodos. Determinou: a apresentação do produto e a fidelização do cliente deve acontecer em 20 segundos. São o suficiente, ele jura. A meta dos próximos 40 anos, a idade em que encontrou o tom, é reduzir para dez segundos. “Acho que, de alguma maneira, o Correio também foi buscando uma forma de melhorar. O colorido [adotado a partir de 1999], por exemplo, melhorou muito. Eu ouço do cliente e repasso”, explica.

A banca surge do instinto de comerciante, leitor e contador, em 1978, ano de registro do Correio da Bahia. “Eu vi que o tamanho do ombro era ombro de gigante”, costuma dizer sobre o jornal. O seu próprio vigor era e é de gigante. Quando a crise do mercado editorial reduziu tiragens e sacudiu empresas, Seu Eládio balançou para encontrar o movimento ideal.“Tirei o ‘s’ de crise e ficou ‘crie’. Eu crio. E outra, eu me mantenho próxima das pessoas. Temos que estar próximos”, acredita.Foi decidido a criar, sempre criar, que o então jovem de Ubaíra, em 1973, saiu do centro-sul baiano para Salvador. Chegou para trabalhar como vendedor numa delicatessen, pediu demissão, em 1975, como gerente. Todas as noites, faz um exercício mental. Totalmente particular. Pensa no dia, estuda os clientes e analisa erros e acertos. Numa dessas introspecções, transformou a banca num estoque de variedades.

Não estranhe se encontrar no Popular Nunes um violão ser vendido ao lado de jornais e revistas perto de salgadinhos. “Coloco as coisas na promoção, vendo aguinha... vou tentando criar, não ficar nessa de crise”, repete a máxima de vida. Ali, há de um tudo. Só não pode faltar história. “Leio tudo, começo pelo Correio”, comenta. “Mas coisas fúteis eu passo por cima”, brinca. O olho está sempre para a leitura, até que o próximo cliente chegue à ouvidoria do Pau Miúdo e, quem sabe, fique mais de 20 segundos.