Jornalismo profissional é caminho para evitar cair na desinformação

Presidente da Associação Nacional dos Jornais (ANJ) defende papel da imprensa na era das redes sociais

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Publicado em 3 de abril de 2019 às 06:03

- Atualizado há um ano

. Crédito: Evandro Veiga
Café da manhã organizado pelo Jornal Correio no Hotel Quality São Salvador por Fotos: Evandro Veiga

Marcelo Rech acredita que jornais fazem a diferença (Foto: Evandro Veiga/CORREIO) Por que jornal, pergunta o quarentão com ares de menino novo. A resposta é dada por ele mesmo, anunciantes e representantes do mercado de comunicação: alguém precisa atestar a veracidade da informação, em um cenário de difusão de mensagens sem nenhum precedente na história da humanidade. Como parte das comemorações pelo aniversário de 40 anos, o CORREIO reuniu anunciantes, agências de publicidade, assessorias de comunicação e representantes do setor produtivo para discutir o papel do jornal, independente do seu meio de propagação, impresso, digital, na TV ou no rádio. “Com a velocidade e a facilidade que existem hoje para a difusão da informação, se a gente perder a barreira da verificação, ficaremos abertos aos bandoleiros da desinformação”, avisou o palestrante da manhã, o jornalista Marcelo Rech, presidente da Associação Nacional dos Jornais (ANJ), além de vice-presidente editorial do Grupo RBS e vice-presidente do Fórum Mundial de Editores. A uma plateia atenta, no auditório do Quality São Salvador, o jornalista destacou a importância do jornalismo profissional para a sociedade. “Há uma questão de grande importância que precisa ser vista como tal, porque a desinformação pode literalmente provocar a destruição da sociedade se não houver barreiras de verificação. Esta barreira é a produção profissional de informação”, destacou. 

Marcelo Rech lembrou, como exemplo dos prejuízos causados pela disseminação de falsas informações, uma entrevista forjada com um suposto ministro da defesa de Israel, no início da guerra da Síria. Com afirmações fortes, a publicação dizia que o país do Oriente Médio estaria pronto a atacar o Paquistão no caso de uma entrada do país no conflito armado. “O verdadeiro ministro da defesa do Paquistão viu a publicação no Twitter e respondeu, dizendo não temer Israel e ameaçando utilizar seu arsenal nuclear”, conta Rech. Não fossem os desmentidos, quem sabe que efeitos a falsa publicação teria sobre a geopolítica mundial? Marcelo Rech, presidente da ANJ (Foto: Evandro Veiga) Desinformação, por sinal, foi o termo escolhido por Rech para se referir ao que nos últimos tempos se popularizou como sendo fake news. “Fake news é uma maneira pejorativa de se referir à produção de informação. O que se verifica atualmente é a existência de uma enorme onda de desinformação”, explica. Não que os veículos de comunicação profissionais não errem, frisa o jornalista. “Quando isso acontece, até no Jornal Nacional, o erro é admitido publicamente, às vezes na mesma edição, e isso diferencia aquele conteúdo de todo o restante, que é verdadeiro”, afirma.

Para o jornalista, o questionamento que se faz ao jornalismo atualmente é parte de um fenômeno mais amplo, que atinge em menor ou maior grau todos os setores da sociedade. “Todas as atividades humanas estão passando por um processo de disrupção profundo. Nós percebemos mais este processo no jornalismo, porque a atividade entrou nesta fase há mais tempo, mas veja a mudança que estamos verificando no sistema bancário, por exemplo”, comparou. “Todas essas mudanças tornam o jornal ainda mais essencial para a sociedade. Os veículos precisam ser contrapontos à desinformação, portos seguros contra a disseminação das inverdades que permeiam o mundo digital”, ressaltou.  Renata Correia, acionista do CORREIO (Foto: Evandro Veiga) Marcelo Rech ressaltou ainda o papel dos veículos regionais de comunicação. “Se analisarmos, veremos que 80% do que se publica em um jornal como o CORREIO é informação sobre a Bahia. Ninguém mais pode fazer isso. Não são o Google e o Facebook quem irão produzir conteúdo com o olhar dos baianos”, aponta. Para ele, o fortalecimento desses veículos regionais é do mais elevado interesse da sociedade. Enquanto pouco mais de 30% dos brasileiros acredita naquilo que vê nas redes sociais, a credibilidade dos jornais, sejam impressos ou digitais, atinge 61%, compara o jornalista.  Diferente dos outros meios de comunicação, o jornal impresso tem como característica a possibilidade de concentrar a atenção do leitor, destacou o jornalista. Ao ler uma reportagem, ele não faz nenhuma outra coisa. 

Em seu segundo dia de visitas na Bahia, falando sobre a importância do jornalismo profissional e dos jornais, Marcelo Rech também esteve com o governador Rui Costa, no Centro Administrativo da Bahia (CAB). No dia anterior, ele conversou com o prefeito ACM Neto e jornalistas do CORREIO e da TV Bahia.  Antonio Carlos Júnior, presidente da Rede Bahia (Foto: Evandro Veiga) Mercado publicitário e anunciantes destacam importância dos jornais O publicitário Cláudio Carvalho, da Morya, destaca a credibilidade como um diferencial para os jornais. “As pessoas pegam o jornal para ler, ainda que já tenham visto uma determinada notícia no dia anterior, porque precisam da chancela de um veículo que tem uma grande história”, avalia. No caso do CORREIO, ele destaca o envolvimento que o jornal demonstra em relação à sociedade e o esforço por se reinventar. Como exemplo, ele cita o Afro Fashion Day. “É uma maneira diferente de transmitir conteúdo na nossa comunidade, onde a questão afro é tão presente”, avalia. 

Carvalho conta que o formato atraiu o Salvador Shopping, cliente da Morya, a investir no evento. “O shopping patrocinou o evento, levou uma das etapas para lá e ainda anunciou no jornal. É um investimento que foi feito porque o produto é muito bom. Se fosse apenas o anúncio tradicional, provavelmente não teria acontecido”, destaca. Juliana Marinho da JCPM (Foto: Evandro Veiga/CORREIO) Case de sucesso A gerente regional de marketing do Grupo JCPM, Juliana Marinho confirma o apreço pela oferta de conteúdos inovadores por parte do CORREIO. O JCPM é o proprietário dos shoppings Salvador e Salvador Norte. “Nós investimos muito em parcerias com o jornal por conta da possibilidade de usufruir de conteúdos que vão além do anúncio ou das reportagens em si”, aponta. Ela cita como exemplos recentes uma exposição sobre o Carnaval e um debate a respeito do papel da mulher na sociedade. “É muito importante esse movimento de produção de conteúdos tanto no impresso quanto no digital, inclusive criando espaços fora do próprio jornal, como nestes eventos”, defende ela.  

Crença no jornal

O presidente do Sindicato das Agências de Propaganda do Estado da Bahia (SINAPRO), Gustavo Queiroz considera o jornal como a base da produção de conteúdos. Para ele, é importante entretanto não confundir jornal e papel. “O Steve Jobs dizia 'eu acredito piamente no jornal, mas não se pode confundir jornal e papel'. Precisamos da produção de conteúdos de boa qualidade, independente de em qual meio seja”, avalia. Para Queiroz, a explosão de notícias falsas tornam ainda mais importante o papel dos veículos de comunicação. “Há dois anos, o termo fake news foi o verbete mais importante da Webster”, conta Queiroz, em referência a uma respeitada enciclopédia. [[galeria]]

Veículo consolidado Para o publicitário Luis Eduardo Lima, da SLA, o jornal é importante por ser um meio de comunicação consolidado. “Neste cenário de mudanças, com a ascensão dos meios digitais, o jornal ganha ainda mais importância, como foi dito aqui no evento”, destacou. “A grande diferença dos veículos tradicionais é a confiança que eles passam. Confiança é tudo o que um anunciante busca. Sem contar que a informação tem uma durabilidade maior”, avalia o empresário Claudio Cunha, presidente da Associação de Dirigentes de Empresas do Mercado Imobiliário da Bahia (Ademi-Ba).Queda de mitos O presidente da Associação Baiana de Imprensa, Walter Pinheiro, parabenizou o CORREIO pelos 40 anos de existência. “Um jornal só consegue sobreviver por 40 anos em uma região como o Nordeste provando ser relevante”, diz. Pinheiro ressaltou a importância do evento. “Neste encontro de hoje foi possível derrubar mitos, como o de que se lê pouco no Brasil. Com a internet, se lê muito”, destacou. 

Credibilidade Para a diretora do CORREIO, Renata Correia, o momento atual é uma prova da relevância do veículo para a sociedade. “Estamos celebrando 40 anos aqui com os principais anunciantes e mostrando que o nosso diferencial, a verdadeira essência, que nós temos é a credibilidade. Ela destaca o movimento de reinvenção constante do CORREIO.

O presidente da Rede Bahia, Antonio Carlos Júnior, destaca os desafios que o jornal tem para se manter moderno após os 40 anos de existência. “Nós queremos renovar o compromisso de estar sempre perto do povo baiano neste momento em que completamos quatro décadas de existência. Este debate é extremamente importante para nos ajudar a enfrentar os novos desafios e as novas atribuições do jornal”, avaliou.“A relação das pessoas com a informação se dá a partir de fontes confiáveis. Confiamos naquelas pessoas com quem temos algum tipo de relação. As marcas que atuam há algum tempo costumam ter a preferência na hora de se estabelecer uma fonte de informação”, acredita o diretor de Jornalismo da Rede Bahia, Eurico Meira.Papel na sociedade Para a gerente de comunicação institucional da Federação das Indústrias do Estado da Bahia (Fieb), Monica Mello, a discussão foi importante para ajudar empresas e instituições entenderem o papel da imprensa na sociedade. “É um grande erro desprezar o papel dos jornais por conta da ascensão das redes sociais”, acredita. 

A jornalista Suely Temporal, da Atcom, frisou a importância de se discutir o papel dos jornais “na era das fake news”. “A verdade, a informação tratada com respeito é o maior antídoto contra as fake news”, acredita.