Jovem baleado em desfile do Olodum tem morte cerebral confirmada, diz mãe

Vítima estava internada desde a sexta-feira (1º) no HGE

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  • Tailane Muniz

Publicado em 6 de março de 2019 às 20:12

- Atualizado há um ano

Atingido por um tiro no peito na sexta-feira de Carnaval (1º) enquanto assistia à apresentação da banda Olodum no Circuito Osmar, no Campo Grande, o mecânico Jeferson São Pedro Almeida, 21 anos, que estava internado no Hospital Geral do Estado (HGE), teve a morte cerebral constatada na tarde desta quarta-feira (6). 

A informação foi confirmada ao CORREIO pela mãe do rapaz, a dona de casa Joice Pinheiro de São Pedro, 37, que fez aniversário hoje. Abalada, ela contou que não esperava a piora e, menos ainda, a morte do filho, com quem chegou a conversar no sábado (2), dia seguinte ao crime. Jeferson comentou com a mãe que não viu de onde surgiu o tiro que o atingiu."Ele disse: 'Mãe, eu só ouvi os barulhos e corri. Não consegui mais correr e comecei a sentir meu corpo queimando, queimando'. No domingo, quando voltei ao HGE, ele já estava entubado e com a barriga aberta. Eu não entendo isso", indagou a dona de casa, ao comentar que Jeferson deixa um filho, uma criança de 1 ano e 7 meses.Outras três pessoas também foram atingidas por disparos na mesma circunstância em que Jerferson, enquanto assistiam ao desfile do Olodum, próximo ao Forte de São Pedro. Entre as vítimas, está um cordeiro do bloco e uma vendedora ambulante. Todos os feridos foram atingidos nas imediações do Forte de São Pedro e socorridos para o HGE. Não há informações sobre o estado de saúde dos demais feridos.

O corpo de Jeferson vai ser enterrado em Acupe, distrito de Santo Amaro, no Recôncavo Baiano. A família, que mora no bairro da Federação, em Salvador, é natural do interior. Joice disse que vai fazer o reconhecimento e liberação do corpo do rapaz nesta quinta-feira (7), no Instituto Médico Legal Nina Rodrigues (IMLNR)."Eu só quero que a pessoa que assassinou meu filho seja responsabilizada. Meu filho não era violento, não se drogava e nem bebia. Foi ao Carnaval com amigos, como tantas pessoas. Eu já ouvi a versão de que foi um policial civil, já ouvi que foi briga de facções, eu quero entender", concluiu a mãe da vítima.A princípio, a Secretaria da Segurança Pública (SSP-BA) informou que apurava a relação entre os feridos e um policial civil que foi detido armado, fora de serviço, no Circuito Osmar na passagem do Bloco Olodum. O agente foi conduzido a um posto policial, ouvido e liberado porque, segundo a pasta, as descrições das testemunhas não condiziam com a aparência do policial. Ainda de acordo com a pasta, a arma do agente foi periciada e foi constatado que nenhum projétil foi disparado.

O CORREIO procurou a SSP-BA, após a morte de Jeferson, mas a pasta afirmou que desconhecia a informação de mortes nos circuitos. A pasta afirmou, entretanto, que o responsável de balear as quatro pessoas durante a passagem do Olodum é Edmilson Silva dos Santos Júnior, de idade não informada, que está preso e será apresentado à imprensa na manhã dessa quinta-feira (7).

Onze pessoas foram baleadas durante o Carnaval 2019, sendo oito no Cicuito Osmar e três no Circuito Dodô, próximo ao Morro do Cristo. Edmilson é apontado pela SSP como autor dos disparos que atingiram Jeferson e outros três (Foto: Dilvulgação/SSP) Dos quatro baleados no Forte de São Pedro, Jeferson foi o primeiro a dar entrada no HGE. Ele chegou à unidade por volta das 23h40 de sexta-feira (1º). Pouco depois das 23h50 chegou no HGE o cordeiro do bloco Olodum Jonas Nunes Santos, 27, atingido do lado esquerdo do quadril. Inicialmente, ele recebeu os primeiros atendimentos no posto do Salvar, no Largo dos Aflitos, depois foi levado para o hospital.

Os outros dois baleados deram entrada na unidade médica simultaneamente. A ambulante Gessinice Santana Alves, 39, foi atingida na perna esquerda. Já Paulo Rodrigues de Paula Santos, 20, acabou baleado no pé esquerdo. A ambulante contou que trabalhava quando foi vítima de uma bala perdida. O mesmo projétil atingiu Paulo, que estava ao seu lado. 

Mais baleados No domingo (3), um homem idenfiticado como Fábio Maciel da Silva, o 'Fabinho da Candelária', foi preso com uma arma escondida no isopor da própria mãe, que vendia cerveja na festa. Segundo a SSP-BA, Fábio já era procurado pela pasta e confessou ter atirado em quatro pessoas nas proximidades do relógio de São Pedro, também no circuito do Campo Grande. 

Durante uma briga, ele atirou e atingiu três pessoas nas pernas e uma de raspão no ombro. Ele foi preso logo em seguida, por uma patrulha que passava pelo local. Fabinho da Candelária foi encaminhado à Central de Flagrantes montada no circuito Osmar e autuado por tentativa de homicídio e porte ilegal de arma de fogo.

Fabinho foi preso em flagrante no Circuito Osmar (Foto: Divulgação/SSP) Facções dominam Circuito Osmar Durante a coletiva de balanço do Carnaval, o secretário de Segurança Pública, Maurício Barbosa, afirmou que organizações criminosas marcam ponto de encontro para brigas no Campo Grande e adjacências. “Facções marcam até encontros em determinados pontos. É um circuito muito específico, porque tem muitas entradas e saídas. Atrações que chamam mais público e, infelizmente, o público atraindo mais a presença dessas facções criminosas ”, afirmou o secretário, em referência ao Circuito Osmar, onde a maioria das ocorrências do Carnaval 2019 foi registrada.Ainda de acordo com Barbosa, a secretaria vem, ao longo dos anos, intensificando as abordagens, na tentativa de diminuir as ocorrências.

"Ano que vem nós temos que tentar ao máximo evitar. É impossível não ter um lugar de vulnerabilidade. Claro que há pontos que precisam ser melhorados. Nesses últimos anos, a intensificação das abordagens e conduções de pessoas suspeitas para tentar ao máximo evitar as disputas entre eles", concluiu.

Furtos e roubos crescem  A SSP-BA informou que não registrou baleados nos circuitos da folia em 2017 e 2018. O número de furtos e roubos também aumentou em 35% e 12%, respectivamente.O Carnaval de 2019 registrou 891 furtos contra 656 em 2018. Já os roubos saltaram de 108 para 121.

Nos seis dias oficiais de Carnaval, 4.444 suspeitos foram conduzidos à delegacia e 99 acabaram presos em flagrante pelos crimes de roubo, furto e lesão corporal, entre outros.

Novidade no Carnaval 2019, os postos com atendimento relacionado à violência contra a mulher contabilizaram 10 prisões, cinco medidas protetivas e sete queixas de importunação sexual.

Outra inovação, o posto para casos de racismo e intolerância computou duas situações, sendo uma de homofobia e outra de injúria racial.