Jovem morto na Boca do Rio teve o amigo assassinado em janeiro

Vivaldo Neto, 23 anos, e mais quatro pessoas foram atingidas em ataque no Curralinho

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  • Gil Santos

Publicado em 13 de abril de 2021 às 05:30

- Atualizado há um ano

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Há menos de três meses o chapista Vivaldo José dos Santos Neto, 23 anos, estava chorando a morte do amigo Wagner Silva, 19 anos, que foi baleado a esmo na Estrada do Curralinho, na Boca do Rio. Neste domingo (11), ele foi assaltado e assassinado na porta de casa, a 100 metros de onde o amigo morreu. O sepultamento aconteceu no final da tarde de segunda-feira (12), no Cemitério Quinta dos Lázaros.

O enterro do corpo de Marcelo Nascimento, tio de Vivaldo que também foi baleado no ataque e morreu no hospital, ainda não tem o local e o horário definidos. 

Vivaldo e Wagner moravam próximos e eram amigos de longa data. Em janeiro, oito bandidos armados passaram pela região a pé e atirando. Wagner ficou assustado e tentou correr, mas foi atingido. Desta vez, os criminosos estavam de carro e Vivaldo e Marcelo, tio dele, foram as vítimas. Outras três pessoas ficaram feridas. O local dos ataques fica a 200 metros da 9ª Delegacia (Boca do Rio).

Quando Vivaldo nasceu ele era um bebê tão pequeno, e foi uma criança tão magrinha, que recebeu o apelido de Bilinho. Filho caçula, era grudado no pai, com quem aprendeu a trabalhar, e antes dos 18 anos já fazia serviços de chaparia na oficina improvisada da família.

Os vizinhos de Bilinho estão incrédulos. A notícia do assassinato, e a forma como tudo aconteceu, deixou a comunidade do Curralinho, na Boca do Rio, indignada. Eles fizeram protesto, queimaram pneus, bloquearam ruas, e realizaram uma passeata. Vivaldo Neto tinha 23 anos, uma esposa e duas filhas de 5 e 2 anos. Muro, portão e mesa com as marcas dos disparos (Foto: Nara Gentil/ CORREIO) O crime Era noite de domingo, e a família seguiu a rotina de todo fim de semana. Eles colocaram uma mesa e algumas cadeiras na calçada, compraram algumas bebidas e sentaram para resenhar. Por volta das 20h, um carro sandero de cor escura, com cinco homens, e uma moto, com mais dois bandidos, se aproximaram e pararam em frente às vítimas. O tio de Bilinho, o também chapista Derivaldo dos Santos, 42, contou o que aconteceu.“Alguns deles desceram do carro, rouparam os celulares do meu sobrinho e das outras pessoas [sete aparelhos] e, quando voltavam para o carro, atiraram. Não houve motivo. Não houve reação. Ninguém tinha corrido. Atiraram por maldade”, contou.Bilinho foi atingido na cabeça e no tórax. Ele não resistiu e morreu no local. A esposa dele, Cleilane Sousa, 23, recebeu uma bala no pé. O primo, Maurício Dias, 19, e o amigo Edilson Vitório, 22, também foram baleados. O tio, Marcelo Nascimento, 45, passava no momento do ataque e também foi atingido. Marcelo morreu no dia seguinte, deixando esposa e um filho de 2 anos. Vítimas estavam na porta de casa (Foto: Nara Gentil/ CORREIO) Planos Bilinho trabalhava na oficina do pai, uma estrutura montada de forma improvisada com dois toldos a alguns metros da casa da família, onde eram feitos serviço de reparo em veículos. Era conhecido no bairro e querido pelos vizinhos. Os amigos descreveram o jovem como uma pessoa bem humorada e um bom profissional, e disseram que a maior diversão dele era reunir a turma para confraternizar, como aconteceu no domingo.

Os tios contaram que Vivaldo e o pai estavam planejando investir na oficina para tentar ampliar o número de clientes, e que o jovem já tinha comprado parte do material para dar início da construção da casa em que pretendia morar com a esposa e as duas filhas. Por enquanto, eles estavam vivendo com a sogra de Bilinho.

No local do crime, e em outros dois muros próximos, foi pinchada a palavra “Luto”. Uma vizinha comentou. “A violência está demais. Não temos mais o direito de ficar nem na porta de casa. Foi ele, mas poderia ter sido qualquer um de nós que moramos aqui. Ele era um bom menino”, disse. Moradores fizeram uma passeata pelas ruas do bairro pedindo paz (Foto: Nara Gentil/ CORREIO) Outras vítimas O trabalhador de serviços gerais Moisés Dias, 49, estava conversando na porta de casa quando o sandero e a moto com os bandidos passaram. Ele não percebeu nada estranho até ouvir os tiros que foram disparados alguns metros depois, na porta da casa do sobrinho dele, Bilinho. Moisés correu para tentar ajudar, mas encontrou o jovem morto e o filho dele, Maurício Dias, 19, baleado.

“Os vizinhos deram socorro, e meu filho está melhor. Tinha passado a noite na UTI do Hospital Geral do Estado (HGE), mas hoje [segunda-feira] foi transferido para a enfermaria. Ainda não consegui falar com ele, não tenho certeza de qual parte do corpo dele foi atingida, mas está se recuperando” contou.

O reciclador Marcelo Nascimento, 45, não teve a mesma sorte. Ele foi atingido diversas vezes no tórax, socorrido para o HGE, mas não resistiu. O cunhado Jonatas Dias, 40, foi uma das pessoas que ajudaram no resgate. “Quando a gente carregou ele para colocar no carro ele não dizia nada, só emitia uns sons como se estivesse doendo”, disse, emocionado. População fechou Estrada do Curralinho em protesto (Foto: Nara Gentil/ CORREIO) Todas as vítimas foram socorridas para o Pronto Atendimento do Marback e depois transferidas para o HGE. Edilson foi o único encaminhado para o Hospital da Bahia. Não há informações sobre o estado de saúde dele.

Cleilane, a esposa de Bilinho, foi a primeira a receber alta médica. Com o pé enfaixado e apoiado sobre uma cadeira, ela acompanhou de longe a manifestação desta segunda (12). Emocionada, não quis comentar o caso. A mãe do jovem e a esposa de Marcelo também estavam muito abaladas e sem condições de conversar.

Bandidos A rua estava movimentada no momento do ataque e as testemunhas contaram que teve correria. Os moradores acreditam que o crime tem relação com a disputa pelo tráfico de drogas. Há alguns meses bandidos estão brigando por pontos de tráfico na região. O homicídio dessa vez aconteceu a 200 metros da 9ª Delegacia (Boca do Rio).

Coube ao pai de Bilinho, Vivaldo José dos Santos Júnior, que estava visivelmente abalado, reconhecer o corpo do filho no Instituto Médico Legal Nina Rodrigues, nos Barris. Ele acredita que os assassinos implicaram com o jovem.  “Um deles olhou para meu filho, disse que não ia com a cara dele, e atirou na cabeça do meu filho. A vida está tão banal que mataram ele como se fosse um inseto. É uma ferida que não sara, que nunca vai sarar. Ver meu filho baleado no chão, caído que nem um cachorro, dói muito”, disse.Ele reclamou da violência. “Quem fez isso eu não sei, o que eu sei é que meu filho é ficha limpa, deixou duas filhas e que essa violência nunca vai terminar. Eles [bandidos] agem como se fossem um jogo de futebol, uns ganham e outros perdem, e nessa disputa a gente chora lágrimas de sangue”, desabafou. Vivaldo e o filho tinham planos para a oficina (Foto: Nara Gentil/ CORREIO) Esse foi o segundo caso de violência nas proximidades da 9ª Delegacia em menos de três meses. No dia 23 de janeiro, oito bandidos armados dispararam a esmo e balearam o balconista Wagner Santana Bispo da Silva, 19 anos. Ele não resistiu aos fermentos. Nesta segunda, o pai dele Valmir Gago esteve no protesto pela morte de Bilinho para dar apoio à família. “É o segundo jovem inocente morto. Até quando?”, questionou.

Em nota, a Polícia Civil informou que o Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) está investigando o caso. O comunicado fala em seis vítimas, porque antes de atacar os moradores do Curralinho os mesmos bandidos balearam outra pessoa em uma comunidade vizinha.