Jovens empreendedoras sociais colocam Bahia em destaque 

Rede Autoestima-se e Casinha de Livros foram os projetos eleitos como transformadores no Brasil

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  • Carmen Vasconcelos

Publicado em 5 de abril de 2021 às 06:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Shutterstock/reprodução

Em fevereiro de 2020, a estudante Mariana Nunes Santos Gomes decidiu que implantaria na sua cidade natal, Conceição do Almeida, no Recôncavo baiano, uma iniciativa capaz de oferecer às pessoas assistência psicológica. Ela chegava impactada pelo que havia visto durante a participação no Parlamento Jovem Brasileiro em 2019, especialmente por dois projetos de lei: um relacionado à meditação e yoga como forma de tratamento no auxílio para vítimas do tráfico de pessoas e outro na área das práticas holísticas nas escolas brasileiras. O anúncio da pandemia poderia comprometer as ideias da jovem, mas ela conseguiu inovar e prestar quase 100 atendimentos por meio da Rede Autoestima-se. Mariana Nunes conseguiu a façanha de realizar quase 100 atendimentos por meio da Rede Autoestime-se e pretende ampliar a marca em 2021 (Foto: Junior Mascarenhas/Divulgação) O feito de Mariana num cenário de tantas dificuldades e incertezas fez com que ela fosse reconhecida  como uma das  15 Jovens Transformadores no Brasil, pela  organização civil global, pioneira na promoção do empreendedorismo social, a  Ashoka. O feita dessa jovem foi acompanhado de perto por outra baiana: Clara Beatriz Nunes Dourado, de Irecê, responsável pela startup Casinha de Livros.  

De acordo com a líder da Estratégia de Juventude para a América Latina na Ashoka, Helena Singer, os novos Jovens Transformadores Ashoka representam histórias, iniciativas, trajetórias e perspectivas incríveis e demonstraram como praticam a empatia, o trabalho em equipe, a liderança compartilhada e de que forma moldam suas iniciativas para alcançar mudanças estruturais. “Eles se destacaram pela capacidade de perseverar e reinventar suas iniciativas durante a pandemia", diz Helena. A representante da Ashoka salientou que eles precisaram redesenhar totalmente seus projetos e, em alguns casos, os objetivos de transformação social, dada a urgência da crise e a impossibilidade de realizar suas atividades presenciais. "Eles criaram estratégias remotas de engajamento que, muitas vezes, superaram o impacto que tinham antes da pandemia", completou.

Os novos integrantes do grupo agregam diversidade regional, representando nove estados (Alagoas, Bahia, Ceará, Goiás, Minas Gerais, Paraná, Pernambuco, Rio de Janeiro e São Paulo), sendo que 55% vêm de cidades do interior do país.

Nova alfabetização

Para os jovens eleitos, o reconhecimento abre novas portas, traz visibilidade, conexão com uma comunidade internacional e no país, além de possibilitar trocas e aprendizados entre pares.

Nos últimos meses, eles apresentaram os projetos de inovação social para painéis formados por empreendedores sociais, educadores, comunicadores e gestores públicos. Com o início dessa jornada, passam também a ampliar suas redes de colaboração e fortalecer suas capacidades de subverter a lógica da desigualdade.

“A Ashoka identifica jovens, entre 12 e 20 anos, que estão desenvolvendo musculatura para realizar mudanças sistêmicas na sociedade”, diz Andrea Margit, vice-presidente da Ashoka na América Latina. “Eles estão à frente de algum movimento ou projeto e entendem que seu maior desafio está em inspirar a agência de transformação em outras pessoas de sua comunidade.” 

Além disso, por meio de processos de aprendizagem colaborativa, a Ashoka apoia esses jovens no mapeamento dos sistemas que eles visam mudar e a criar estratégias que levam em conta as lições aprendidas por empreendedores sociais e parceiros experientes. Na verdade, o reconhecimento dos Jovens Transformadores é, hoje, uma das principais estratégias da atuação da Ashoka, que co-lidera o movimento Todos Somos Agentes de Transformação.  Bill Drayton defende que é fundamental preparar a juventude para as transformações propostas por meio do empreendedorismo social (Foto: Divulgação) Para o fundador e CEO da Ashoka Global, Bill Drayton, existem no mundo hoje ferramentas, mecanismos e abordagens para a mudança social que podem e devem ser ensinados com a mesma importância que a alfabetização teve 150 anos atrás. “As crises estão se sobrepondo nesta nova realidade. Nossa missão é permitir que toda criança e todo jovem possam praticar a empatia e se perceberem como agentes de transformação, desnaturalizando a desigualdade e contribuindo com mudanças que beneficiem a todos. Precisamos alfabetizar os jovens para a mudança”, defende.

Liderança juvenil 

Mariana não se satisfaz com o que conseguiu. Ela quer mais e diz que, agora, a startup buscará recursos financeiros para ajudar no desenvolvimento da Rede e fazer mais doações sociais para as comunidades. “Queremos lançar alguns cadastros dentro da Rede Autoestima-se para estudantes do curso de psicologia, psicólogos e de Institutos educacionais (escolas e universidades), para receberem as produções desenvolvidas e pesquisadas na rede, assim como expandir a quantidade de palestras que ofertamos”, planeja. 

Mariana pretende ainda abrir o acesso de mais psicólogos e demais profissionais da saúde mental para atender ao público, além de aliar as pautas da Rede com as necessidades de defesa da profissão da psicologia e atender aos pais e responsáveis de crianças e adolescentes através de orientações psicológicas. “A Ashoka traz uma grande esperança de futuro, para os jovens, para mim e aqueles que dela fazem parte e acompanham. Este reconhecimento representa a equipe da Rede Autoestima-se, minha comunidade, os profissionais da saúde mental e todos aqueles que acreditam em um presente e futuro através da juventude. É uma conquista e uma luz no caminho que transforma vidas”, diz.

Com apenas 13 anos e cursando o oitavo ano, Clara Beatriz salienta que desde 2018 até hoje, já foram inúmeras pessoas impactadas com a Casinha de Livros e que cerca de 9.000  livros (infantil e adulto) já circularam pelas nove casinhas, distribuídas na Comunidade Quilombola de Lagoa dos Batatas, em Ibititá; Central; Salvaterra, na Ilha de Marajó, no Pará, além das seis unidades em Irecê. Clara Beatriz tem planos de ampliar a startup Casinha de Livros e diz que é importante acreditar na capacidade de transformação social sempre (Foto: Divulgação) Ela diz que, assim que a pandemia permitir, serão inauguradas mais duas unidades na Cidade de São Gabriel; uma em João Dourado; Povoado de Itapicuru, em Irecê; Comunidade Compra Fiado, em Brejo Santo, no Ceará. “Quero seguir com a expansão do projeto para mais cidades”, afirma determinada. Para a estudante, o processo de seleção da Ashoka, ocorrido durante boa parte do ano de 2020, foi fundamental para que ela entendesse a importância do projeto, possibilitando que ela se enxergasse como uma jovem transformadora, mesmo morando em uma pequena cidade do interior da Bahia. “Você pode fazer algo aí onde está, não importando se mora em uma comunidade rural, uma cidade pequena ou grande, com os recursos que você tem, comece logo!”, finaliza.