Justiça aceita denúncia e torna réu advogado que matou namorada no Rio Vermelho

Imagens mostram José Luiz de Britto Meira Júnior arrastando corpo da vítima

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  • Da Redação

Publicado em 26 de novembro de 2021 às 13:56

- Atualizado há um ano

. Crédito: Reprodução/TV Bahia

O Tribunal de Justiça do Estado da Bahia (TJ-BA) acatou a denúncia do Ministério Público da Bahia (MP-BA), tornando réu o advogado José Luiz de Britto Meira Júnior, acusado pela morte da namorada, Kézia Stefany da Silva Ribeiro, de 21 anos, no bairro do Rio Vermelho, em outubro.

O crime aconteceu em 17 de outubro, no apartamento de José Luiz, no Rio Vermelho. Depois de balear Kézia, ele a levou até o Hospital Geral do Estado (HGE) e fugiu em seguida. Ele foi preso no mesmo dia na casa de um familiar. O advogado alega que o disparo aconteceu acidentalmente durante uma briga e que agia para se defender.

O advogado foi visto por uma testemunha arrastando o corpo de Kézia pelo corredor e colocando no carro. Imagens das câmeras de segurança mostrando a cena foram anexadas aos documentos enviados à Justiça pelo MP-BA e divulgados pela TV Bahia. 

As imagens mostram o passo a passo do crime. Kézia chegou a sair do apartamento e ir na portaria para pedir ajuda, mas volta em seguida. O advogado então sai e já volta depois com o corpo de Kézia, que leva até a garagem e, com dificuldade, coloca no carro.

O advogado foi indiciado por homicídio duplamente qualificado com agravantes pela vítima ser mulher (feminicídio) e motivo fútil. 

Ele está preso no Batalhão de Choque da Polícia Militar, em Lauro de Freitas, por ter direito a uma cela chamada de Sala de Estado-Maior, que não existe na Bahia. A defesa chegou a pedir para ele ficar em prisão domiciliar, mas a Justiça entendeu que o Batalhão de Choque oferece condições adequadas de higiene e segurança para cumprir a lei. (Foto: Reprodução) Denúncia O advogado José Luiz de Brito Meira Júnior foi denunciado pelo Ministério Público estadual por feminicídio cometido por motivo fútil contra a namorada, Kézia Stefany da Silva Ribeiro. A denúncia foi oferecida na quinta-feira (4) pelo promotor de Justiça Ariomar Figueiredo, que se manifestou favorável à manutenção da prisão preventiva do acusado. O crime aconteceu no último dia 17 de outubro, no apartamento do advogado no Rio Vermelho. 

O laudo cadavérico mostra que Kézia morreu com um tiro na boca. Além disso, o promotor destaca que os peritos não encontraram resíduos de disparo de arma de fogo nas mãos direita e esquerda da vítima. Para ele, isso contraria a versão do advogado de que Kézia estava com a pistola na mão no momento em que aconteceu o tiro - segundo ele, de maneira acidental, enquanto tentava desarmá-la.

O promotor destaca também que se trata de um feminicídio, por se tratar de um crime cometido contra uma mulher, em razão do sexo feminino, em situação de violência doméstica. 

A denúncia aponta que atos violentos já haviam sido cometidos antes pelo advogado contra a namorada, o que motivou Kézia a ter o desejo de terminar o relacionamento, depois de se aconselhar com parentes. No dia do crime, os dois brigaram por conta de um desentendimento em relação ao "uso recreativo de entorpecente", segundo a investigação policial. Isso motivou o crime, o que caracteriza um motivo fútil, acrescenta o MP.

Ferimento Um instrumento de ação cortante e contundente. Segundo laudo do Departamento de Polícia Técnica (DPT), foi isso que causou as lesões encontradas no corpo do advogado criminalista José Luiz de Britto Meira Júnior, 50 anos, preso acusado de matar com um tiro a namorada Kezia Stefany, de 21 anos, no último dia 17. O exame de lesões corporais foi realizado 12h após o crime, conforme documento ao qual o CORREIO teve acesso. Em seu depoimento à polícia, José Luiz disse que a namorada usou uma tesoura para atacá-lo durante briga que antecedeu ao disparo que a matou.    Foto: Arquivo pessoal O laudo é assinado pelo perito médico legal Marcelo Barreto Bastos e aponta que o advogado tem um corte no braço direito. “Ferida cortante em terço médio do braço direito medindo 40 mm e 30 mm em sua face externa”, diz trecho do documento, que coincide com o interrogatório do acusado no DHPP, ao qual o CORREIO também teve acesso. “Que Kezia pegou uma tesoura e agrediu o interrogado com o aludido instrumento, dentro do banheiro; Que o interrogado foi ferido no braço direito, na altura do ombro; Que o interrogado conseguiu tomar a tesoura das mãos de Kezia”, diz o depoimento.

Para a polícia, o advogado contou que em seguida houve uma luta corporal e, logo depois, ele tentou tomar a pistola de 9 mm que  lhe pertencia, e que Kezia teria pego no cofre, que estava quebrado e, por isso, sem travas. Ainda segundo o acusado, a arma acabou disparando, acertando a namorada na boca. A versão de que o tiro foi acidental é questionada pela família da vítima. 

O irmão de Kezia, o motorista de carro-forte Devid Francis Silva, afirmou que os dois brigavam constantemente e que, por conta da privação de liberdade que ela sofreria, Kezia já tinha dito que queria terminar o relacionamento.

“Eles se agrediam. Já presenciamos várias situações de os dois estarem arranhados. Os dois trocavam agressões por causa dos ciúmes dele”, disse Devid, no último dia 18. As brigas foram confirmadas por um porteiro que trabalha no condomínio Terrazzo Rio Vermelho, onde ocorreu o crime no dia 17.

Ainda de acordo com o laudo de lesões corporais, José Luiz apresentou  equimoses (extravasamento de sangue dos vasos sanguíneos da pele que se rompem formando uma área de cor roxa), que surgem após a pessoa sofrer algum trauma no local, como socos, chutes ou pancada provocada por objetos. O perito aponta também escoriações, que são arranhões, nas regiões orbitaria (ao redor do olho), malar, braços, mesogástrico (abdômen superior) e hipogástrico (abdômen inferior), além de punho e lábio.

Na portaria Instantes depois de chegar ao condomínio na companhia do namorado, a jovem Kezia Stefany da Silva Ribeiro retornou à portaria ensanguentada pedindo ajuda. “Luiz quer me matar ”, disse a vítima, de acordo com o depoimento desse mesmo porteiro que confirmou as brigas do casal. Ele estava de plantão no dia do crime.

O CORREIO teve acesso em primeira mão ao conteúdo do interrogatório do funcionário. Nele, o porteiro disse que, na madrugada do último dia 17, o casal chegou ao Terrazzo Rio Vermelho por volta da 1h30. Cerca de cinco minutos depois, ele percebeu que havia uma confusão no prédio e que uma mulher gritava por socorro. Ele relatou à polícia que, por volta das 2h, Kezia acessou o elevador e chegou à portaria “estando ensanguentada, afirmando: ‘Luiz quer me matar ’”, diz trecho do depoimento, que não especifica o tipo das lesões que causaram o sangramento da vítima. 

O porteiro relatou ainda que, na hora, acalmou Kezia, pedindo que ela ficasse na portaria. A namorada do advogado criminalista ficou no local por 15 minutos e depois decidiu retornar ao apartamento onde morava com o acusado. Logo em seguida, o porteiro ouviu um tiro. Minutos depois, Luiz bateu no vidro da portaria, “pedindo auxílio e depois desceu, voltando para o apartamento, trazendo a Sra. Kezia que estava baleada”, conforme trecho do documento.

Um policial perguntou se o porteiro tinha conhecimento de brigas anteriores do casal. “Positivamente, inclusive algumas vezes pediu para proibir a entrada dela no condomínio, mas depois era o próprio sr. Luiz quem a levava ao imóvel.”