Karim Aïnouz lança documentário Aeroporto Central, sobre refugiados

Novo filme do diretor de A Vida Invisível chega ao VOD

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  • Da Redação

Publicado em 24 de abril de 2020 às 06:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: José Sarmiento

Conhecido por dramas como Madame Satã (2002) e A Vida Invisível (2019), o cineasta cearense Karim Aïnouz, 54, está lançando seu primeiro longa documental, Aeroporto Central, que chega hoje às plataformas de VOD (sigla para 'video on demand', que corresponde a uma espécie de aluguel virtual de um filme ou de qualquer produto audiovisual). O filme está nas plataformas Now, Vivo Play, Oi Play, Itunes, Google Filmes, Filme Filme e Looke.

O título se refere ao Aeroporto de Tempelhof, em Berlim, onde o filme se passa. Aquela imponente estrutura havia sido construída pelo regime nazista e, como desejava Adolf Hitler (1889-1945), deveria ser o maior aeroporto do mundo. Por anos,  foi considerada uma das 20 maiores construções do planeta, mas, durante a Segunda Guerra, foi tomado pelos americanos e, com o fim do conflito e a derrota da Alemanha, acabou diminuindo muito sua importância, passando a receber poucos voos comerciais. Em 2008, acabou sendo desativado. O Aeroporto Central de Berlim (foto: José Sarmiento) Abrigo Somente em 2015, a unidade voltou a ter importância. Mas, àquela altura, já tinha outra função: seus enormes hangares foram usados como um dos maiores abrigos de emergência da Alemanha para refugiados que buscavam asilo.  Ao longo de um ano, entre 2015 e 2016, o filme acompanha o estudante sírio de 18 anos Ibrahim e o fisioterapeuta iraquiano Qutaiba. O filme mostra o dia a dia desses dois personagens fascinantes, que aparecem dando entrevistas ao serviço social ou tendo aulas de alemão. 

Karim retrata também a saudade e a ansiedade de seus protagonistas, que não sabem se poderão residir no país ou se serão deportados.

Mas, antes de receber os imigrantes, o aeroporto foi transformado em parque público, em 2010. Foi assim que Karim, que mora perto dali, interessou-se pela construção: “Eu vou ao parque com muita frequência. Os antigos hangares foram significativamente transformados com a chegada de solicitantes de asilo a partir de outubro de 2015. Os hangares tornaram-se abrigos de emergência. Eu estava lá quando as pessoas estavam chegando e senti a necessidade de documentar aquilo. Eu pensei que daqui a 10 anos seria importante ter um registro dessa experiência singular e cheia de ironia”.

Mas o diretor diz que não foi fácil obter autorização para filmar e que, inicialmente, houve uma resistência muito grande dos refugiados. “Passei seis meses frequentando o aeroporto, não pude filmar porque no início eles não queriam ser filmados. Passei esse tempo ouvindo, conversando e fiquei no lugar da escuta. Houve umas tentativas de entrevistas, mas não usei, achava meio arrogante”.

Na edição final, não há entrevistas e a câmera funciona apenas como uma 'observadora’. “À medida que passei mais tempo, a câmera se aproxima, a imagem vai pra mão deles, por exemplo. Queria contar a história do lugar e por isso optei pela observação em vez das entrevistas”, argumenta Karim.

O diretor, que é filho de um argelino, diz que sempre lhe incomodou a forma como a mídia retrata os árabes. Ele, que morou na França, quando adolescente, sentiu na pele a discriminação, que, segundo ele, era muito acentuada em Paris. “Eu tinha mesmo uma indignação com a forma como os árabes são retratados, como vilões. Eu queria um retrato daqueles que estão fugindo da guerra e não um retrato da vilania”.

E a escolha dos dois protagonistas é fundamental para que Karim cumpra seu objetivo. O sírio Ibrahim é um jovem que foi obrigado a se separar da família, que, talvez, ele jamais veja novamente. Mas ele se resigna e, como lembra Karim, tem uma serenidade impressionante. Já o iraquiano Qutaiba revela-se muito solidário, bem-humorado e sempre disposto a ajudar os demais refugiados.

Classificação: ótimo