Larissa Luz, Orquestra Afrosinfônica e Adão Negro enchem o Rio Vermelho de negritude

Trio comandou o Festival da Primavera nesta sexta-feira (28)

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  • Gabriel Moura

Publicado em 28 de setembro de 2019 às 21:49

- Atualizado há um ano

. Crédito: Mauro Akin Nassor/CORREIO

O espelho na mão de Iemanjá, divindade africana, refletia sua imagem e, em volta, sua semelhança no Largo da Mariquita, na noite deste sábado (28). O Rio Vermelho era das peles pretas, do sorriso branco e dos cabelos crespos na penúltima noite do Festival da Primavera, comandada pela Orquestra Afrosinfônica, a cantora Larissa Luz e o grupo Adão Negro, que levaram uma multidão para curtir sonoridades diversas e engajadas.

Afros, negros e cheios de luz que através da mistura de estilos, desde o Reggae da Adão ao afropunk de Larissa, embebedou de negritude a Meca da boemia soteropolitana. E os bares rio-vermelhenses, acostumados a ter rock, sofrência e pagodão em sua playlist, aderiram a esta nova trilha sonora regida – pra combinar com a orquestra afro – por um povo disposto a tomar para si o lugar que lhe é devido.“Salvador é uma cidade majoritariamente negra e a cena cultural daqui é regida pela nossa diáspora. É justo que a gente tenha esse espaço para falar sobre o que é nosso. Fico feliz de ver que os novos artistas soteropolitanos que estão surgindo estão representando e lutando pela retomada de um lugar que é devidamente nosso. Estamos neste processo constante de conquista e não vamos parar”, comentou Larissa Luz.Segunda a se apresentar na noite ilustrada, a artista subiu ao palco duplamente feliz. É que na última terça-feira (24) ela recebeu o Prêmio Bibi Ferreira, principal honraria do teatro musical brasileiro, como melhor atriz por sua atuação como Elza Soares no espetáculo “Elza”. 

“O universo deu um jeito de me presentear duplamente. Primeiro pelo prêmio e segundo pela oportunidade de comemorá-lo em Salvador, a terra que me deu régua e compasso e é fonte das minhas inspirações. Mas, acima de tudo, esta é uma conquista coletiva que representa muito sobre ocupação de espaço e lugar de fala”, complementou. (Foto: Mauro Akin Nassor/CORREIO) Em família Se a ancestralidade cultural estava representada no palco, a analista comercial Juliana da Silva Gonçalves, 28 anos, tratou de fazer a genética se unir parte ao espetáculo, trazendo sua mãe Arlinda Lúcia Gonçalves, 58, para o Festival da Primavera. A analista, que herdou o gosto musical da matriarca, não escondia a felicidade de se ver representada no palco.“Música na verdade é o que move o estado de espírito, traz renovação. E, além da parte artística, fico muito feliz em saber o quanto as pessoas estão respeitando e dando espaço para esses artistas, que não eram bem vistos, mas agora estão despertando esta ancestralidade, já que a maior parte da nossa cultura é negra”, comemora. Entretanto, o monopólio negro não foi proposital. Ao menos é o que garante Isaac Edington, presidente da Empresa Salvador Turismo (Saltur), um dos órgãos da Prefeitura que estão organizando o festival. Para ele, o talento foi o único critério na hora de escolher os artistas.

“Claro que tudo de uma certa forma é proposital, mas a escolha dos artistas que se apresentaram nesta noite não se baseou em raça, foi apenas uma feliz coincidência. Mas é importante termos eles o ano inteiro. Salvador é uma cidade cuja cultura é majoritariamente negra e o talento destes artistas acabam superando qualquer preconceito”, declarou Edington.

*Com supervisão do editor João Galdea.