‘Lava uma e lava a outra’: alunos vivem primeiro dia de aula após suspeitas de Covid-19

Pais, escolas e universidades estão reforçando os cuidados para evitar a contaminação

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  • Gil Santos

Publicado em 3 de março de 2020 às 05:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Arisson Marinho/ CORREIO

O primeiro dia de aulas após o aumento no número de casos suspeitos de coronavírus no Brasil e na Bahia foi de reforço nas ações de higienização e atenção para a prevenção ao contágio. Em escolas infantis, professores se dedicaram a ensinar as crianças como higienizar corretamente as mãos. Já alguns pais já enviaram os filhos para as salas de aula com os próprios frascos de álcool gel.

Mesmo que já seja praxe não mandar as crianças à escola quando estão doentes, a recomendação de infectologistas é ainda mais clara em tempos de coronavírus: crianças doentes devem ficar em casa, fazendo o tratamento indicado, já que o sistema imunológico delas ainda não está preparado para lidar com algumas doenças. Na prática, o risco de que elas contraiam infecções respíratórias - como aquela provocada pelo novo vírus - é ainda maior.

De acordo com boletim divulgado na noite desta segunda-feira (2) pela Secretaria de Saúde do Estado da Bahia (Sesab) e pela Secretaria Municipal de Saúde de Salvador (SMS), 17 casos suspeitos de Covid-19 estavam em investigação na Bahia. Até ontem, dos 49 notificados, 32 já tinham sido descartados. Os casos suspeitos eram em Salvador (7), Vitória da Conquista (5), Camaçari (2), Ilhéus, Jequié e Lauro de Freitas (1 cada). Higienizar as mãos é regra indispensável (Foto: Arisson Marinho/ CORREIO) No Centro Educacional Vitória-Régia, a professora Lorena Cardoso se esforçou para ensinar os pequenos estudantes de 4 anos a lavar as mãos corretamente. “Primeiro, a gente espalha o álcool na palma da mão, depois, passa no dorso, na parte de cima das mãozinhas, entre os dedinhos, e no punho, onde a gente coloca o relógio e as pulseiras. Posso colocar a mão suja na boca ou no olho?”, perguntou, recebendo um uníssono “Não!”, das crianças.

Sentadas um ao lado da outra, como um círculo, elas fixavam os olhos atentos nos movimentos encenados pela professora e repetiam em seguida. Um dos garotos se gabou de ter terminado logo o processo. “Acabei, tio. Fiz rápido”, disse, sorridente, enquanto colocava as mãos no chão e em seguida levava ao rosto. Alunos aprendem a como limpar as mãos corretamente (Foto: Arisson Marinho/ CORREIO) A diretora de Educação Infantil do colégio, Andreia Politano, contou que a espontaneidade das crianças é um desafio a mais no enfrentamento ao Covid-19 ou a qualquer outro tipo de vírus. “Criança mexe em tudo e depois põe a mão na boca. Elas gostam de abraçar, isso é da nossa cultura, então, não temos como evitar. Criamos algumas brincadeiras de cumprimentar com os pés, já vi algumas pessoas fazendo isso aqui na escola, mas isso leva um tempo para mudar”, afirmou.

Enquanto a diretora conversava com a reportagem, o recipiente com álcool gel estava à vista, e à mão. Funcionários contaram que sempre houve esse recurso, mas que aconteceu uma intensificação do uso do produto nas últimas semanas. No segundo dia de aula, antes do Carnaval, professores reforçaram a necessidade da higienização das mãos.

Para Andreia, essa conscientização é que faz a diferença. A partir desta semana, os estudantes vão assistir a palestras e fazer trabalhos, com vídeos e cartazes, sobre o tema. Em relação à saúde dos 1,4 mil alunos da instituição, sendo 390 apenas na educação infantil, a estratégia adotada é a mesma para outros casos de contaminação.“Avisamos à família sempre que eles ficam doentes e pedimos para que venha buscar o aluno. Não somos médicos, não temos como diagnosticar nada, mas quando a gente percebe que uma criança está com algum tipo de secreção, mole, ou com febre, avisamos. Além do aproveitamento dela dentro da sala não ser bom, ela ainda pode contaminar outras crianças. Essa é uma das medidas, além dos informativos de saúde que a gente divulga”, afirmou.   Estudante antes de entrar na sala de aula (Foto: Arisson Marinho/ CORREIO) As medidas para prevenção não se resumem somente às escolas particulares. De acordo com a coordenadora de Transversalidade da Secretaria Municipal de Educação (Smed), Jaqueline Araújo Barros, as 185 escolas de Salvador contam com apoio da Secretaria Municipal de Saúde (SMS) para tratar das questões de saúde e prevenção a doenças.

“A gente incentiva sempre as formas de prevenção, que não são só para o coronavírus, mas toda e qualquer doença viral”, garantiu. Jaqueline acrescenta que algumas unidades já costumam adotar o uso do álcool gel, mas a Smed quer reforçar a utilização enviando material aos colégios.

Cuidado redobrado Apesar dos cuidados, os pais estão tranquilos e não houve muita procura por informações à escola. Na casa de Matheus Queiroz, 12 anos, lavar as mãos não é nenhum mistério. Nesta segunda (2), depois de correr com os amigos pelos corredores do colégio e antes de entrar na sala de aula, ele parou para fazer a higiene em um dispenser que estava no pátio e contou que esse é um hábito, principalmente, antes de comer.“Às vezes, eu esqueço, mas minha mãe pergunta se eu já lavei as mãos, então, eu acabo lembrando. Acho legal que a escola ofereça isso, porque é importante para prevenir a gente das doenças. Os professores sempre falam disso”, contou.Os especialistas concordam. Segundo o infectologista e professor do curso de Medicina da UniFTC, Antonio Bandeira, lavar as mãos é o recurso mais eficiente na luta contra a contaminação, mas é preciso fazer a higienização de forma correta, observado a palma, o dorso, as pontas dos dedos e o polegar, como ensinou a professora Lorena mais acima.  

“Já as máscaras não são para as pessoas que estão sadias, elas servem para aqueles que estão com problemas respiratórios porque evita que eles contaminem outras pessoas. O contagio se dá através das gotículas que surgem quando espirramos ou tossimos, então, a recomendação é sempre permanecer a, pelo menos, 1 metro de distância”, contou. Cuidado precisa ser redobrado com as crianças (Foto: Arisson Marinho/ CORREIO) No caso das crianças o cuidado precisa ser redobrado porque o sistema imunológico dos pequenos ainda não está preparado para lidar com algumas doenças. Segundo o infectologista, uma criança tem de 7 a 8 infecções respiratórias por ano, quando um adulto tem, em média, apenas uma.“Por isso, a recomendação é manter as crianças doentes em casa. Ela precisa tomar a medicação e seguir o procedimento adequado. Além disso, as crianças gostam de abraçar, beijar, pega o brinquedo do coleguinha e pôr na boca, enfim, são muitas as possibilidades de contágio”, afirmou. Matheus aprendeu a fazer a higiene em casa (Foto: Arisson Marinho/ CORREIO) Para garantir Na semana passada, a Universidade Federal da Bahia (Ufba) divulgou um comunicado afirmando que acompanha com atenção as informações oficiais acerca da evolução da propagação do novo coronavírus e informou que estão mantidas, normalmente, as atividades de ensino, pesquisa, extensão e assistência estudantil na universidade.

As aulas foram retomadas ontem e o clima no campus de Ondina era de aparente tranquilidade. Sentada na sombra de uma árvore, a estudante do curso de Medicina Veterinária Natália Loureiro, 24, contou que ficou assustada com a rapidez com que o vírus de propagou pelo mundo, principalmente porque ela esteve em diferentes territórios da Bahia nas últimas semanas.

“Meu namorado e eu estivemos em várias cidades do interior nos últimos dias, como Santa Maria da Vitória, Alcobaça, Prado e São Francisco do Conde. Um dos primeiros casos suspeitos que surgiu na Bahia foi em Itabuna, e nós estivemos lá perto. Voltamos resfriados, então, ficamos um pouco tensos, mas foi apenas um resfriado mesmo”, contou, aliviada. Natália levou o álcool gel na bolsa (Foto: Arisson Marinho/ CORREIO) Apesar de dizer que está tudo bem, ela levou na bolsa um frasco com álcool gel “só para garantir”. Na primeira aula, nem o professor nem os colegas de turma tocaram no assunto do Covid-19.

“Acredito que as pessoas ainda não entenderam a dimensão do problema, até porque não tivemos casos confirmados no estado. Acabei mudando o hábito e comprando o álcool gel, o que eu não fazia antes. Agora, vou começar também a lavar as mãos com mais frequência. O que mais assusta é que ele está se espalhando muito rápido”, afirmou.

As faculdades particulares FTC, Unisba e Unime informaram à reportagem que têm adotado medidas de prevenção à doenças disponibilizando álcool em gel para suas comunidades internas. A assessoria da FTC disse que o item é oferecido aos estudantes continuamente, durante todo o ano, mesmo quando não há incidência de doenças infectocontagiosas.

A Unisba acrescentou que repostou em suas redes sociais um informativo produzido pelo Ministério da Saúde sobre como prevenir o contágio do coronavírus, além de ter enviado um documento por e-mail para estudantes e seus familiares sobre o assunto. 

A universidade recomendou ainda uma limpeza mais contínua dos ambientes e utilização de máscaras entre os alunos e funcionários com sintomas de viroses. A Unisba disse ainda que tem orientado as pessoas para que procurem atendimento médico para uma avaliação mais precisa dos casos clínicos.  

Ministério da Saúde explica como se prevenir do Covid-19

- Lavar as mãos frequentemente com água e sabonete por pelo menos 20 segundos, respeitando os 5 momentos de higienização. Se não houver água e sabonete, usar um desinfetante para as mãos à base de álcool.

- Evitar tocar nos olhos, nariz e boca com as mãos não lavadas.

- Evitar contato próximo com pessoas doentes.

- Ficar em casa quando estiver doente.

- Cobrir boca e nariz ao tossir ou espirrar com um lenço de papel e jogar no lixo.

- Limpar e desinfetar objetos e superfícies tocados com frequência.

- Profissionais de saúde devem utilizar medidas de precaução padrão (máscara cirúrgica, luvas, avental não estéril e óculos de proteção).

- Os principais são sintomas conhecidos até o momento são: febre, tosse e dificuldade para respirar.

- O tratamento do coronavírus é feito através de medicamento para dor e febre (antitérmicos e analgésicos), e do uso de umidificador no quarto. É recomendado tomar banho quente para auxiliar no alívio da dor de garanta e tosse.