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Paulo Leandro
Publicado em 26 de outubro de 2019 às 05:00
- Atualizado há um ano
Admiro os torcedores capazes de fruir o futilball de hoje como experiência estética assim como os anteriores a mim deveriam espantar-se com os espetáculos (e as retrancas) de meu tempo.
Se ser está relacionado à temporalidade, podemos linkar estas alterações de percepção ao modo como constituímos este mundo do bretão. Tenho a sensação de sorte por ter apreciado, na infância, um super-Internacional.
Começava pelo goleiro, Manga, cujas mãos deformadas eram a prova cabal da evolução defendida por Darwin, pois aquelas garras ajustavam com perfeição a esfericidade da bola. Mais além de encaixar ou segurar, tornava a bola parte de seu ente, agasalhando-a.
O zagueiro Elias Figueroa foi um Odisseu a peitar os monstros atacantes. Ao marcar, de cabeça, o gol do título brasileiro, na vitória de 1x0 sobre o Cruzeiro, em 1975, passou a ser aceito nos banquetes do Olimpo. Viva Chile e Allende!
Caçapava cumpria o papel do Cérbero, vigilante e destruidor, capacitado a devorar todo aquele que ousava aproximar-se da grande área colorada, liberando os homens de criação.
Naquele Inter, pontificava a figura deslizante de um Paulo César, cujo acréscimo do sobrenome Carpegiani se deu quando foi jogar no Flamengo campeão mundial. Qual um surfista prateado, colava a bola aos pés como uma prancha no mar verde do campo.
Este colorado irreal não deve ter existido - não seria humano! -, especialmente se lembramos de seu ‘Salvador Dali’, o genial Paulo Roberto Falcão, tendo em Batista um pintor à altura.
A dignidade moral de quem tenta aprimorar-se a cada cruzamento vem de Valdomiro, colecionador de títulos e referência de humildade, a conviver com os semideuses do Beira-rio, corrigindo erros e ampliando limites.
Já o talento em essência, Mário Sérgio Pontes de Paiva, deixava a veste vermelha cair sobre o short, meiões arriados, no título invicto de 1979, olhando prum lado e abrindo o jogo pro outro, um estrábico, mas só de sacanagem.
O Inter teve Claudiomiro, Flávio e Dadá Maravilha, a camisa 9 sempre bem vestida em artilheiros, cada qual ao seu modo de ser-no-mundo-do-gol. Teve um bom Jair de luz..
Na ponta esquerda, o Inter teve Lula, cujos cruzamentos na medida o fizeram um titular absoluto de um time superumano.
Poderíamos encerrar citando Escurinho, o risonho da cabeçada certeira, já no segundo tempo, solução final diante de carrancudas retrancas enfrentadas nos alçapões do Campeonato Gaúcho.
Não se pode desonrar a memória do Inter treinado por Rubens Minelli, com qualquer comparação, mas toda esta louvação é pura nostalgia – lembrança do que nos alegra – da criança prestes a virar vovô agora em abril de 2020.
Vejam o Inter dos anos 1970, (lembrei agora de Cláudio, Marinho Peres, Vacaria, Bráulio...) no YouTube e vamos combinar: o passado nada diz do futuro. O futilball segue: não vamos botar gosto ruim, mas dêem uma olhadinha como era e me digam.
Que tenhamos neste sábado (26) um bom duelo, entre o colorado dos nossos queridos Elias, Oscar e Murilo e o nosso bom Baêa da Cidadania, time para o qual o Inter curvou-se, dentro do Gigante da Beira-Rio, já na década seguinte, em 1988.
Paulo Leandro é jornalista e professor Doutor em Cultura e Sociedade