Leone Peter: 'Senai Cimatec Park é solução para lacuna existente no país'

Diretor do Senai Cimatec Park comenta detalhes do equipamento que coloca a Bahia em destaque

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  • Priscila Natividade

Publicado em 11 de novembro de 2019 às 05:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: João Alvarez/ Divulgação

A visão estratégica de quem começou sua carreira profissional como técnico em mecânica, mostrou o caminho que era preciso percorrer até se tornar o diretor de Tecnologia e Inovação do Senai Cimatec Park. Graças a ela, Leone Peter está a frente da gestão do equipamento que é visto como uma experiência pioneira no mundo e que deve colocar o estado em um patamar próximo ao de grandes polos de inovação, como o Vale do Silício, nos EUA. 

Com uma proposta de reunir multicompetências, o primeiro centro no globo que vai integrar em um só lugar quatro parques diferentes (Ciência, Tecnologia, Ecologia e Negócios) inaugura sua primeira etapa hoje.

Instalado na região metropolitana de Salvador, no município de Camaçari, o equipamento reúne investimentos na nessa primeira etapa cerca de R$ 87 milhões.

“O Senai Cimatec Park foi pensado como uma solução para uma lacuna existente no país. Existe um grande gargalo no Brasil de centros tecnológicos com características industriais. De um lado, as universidades realizam pesquisas que vão até o nível de bancada. Do outro, as empresas têm suas estruturas voltadas para a produção. Raras são as empresas que dispõem de plantas piloto. É principalmente nesses ambientes que acontece o processo de inovação”, afirma Peter.  

Em entrevista ao CORREIO, Leone Peter destaca os principais diferenciais do Senai Cimatec Park, as particularidades do processo de planejamento e construção do equipamento e também as estratégias fundamentais para que a Bahia ganhe espaço enquanto polo de desenvolvimento, pesquisa e inovação.

“É um motivo de orgulho para o estado. O Senai Cimatec Park, junto com o Senai Cimatec, terá papel fundamental e protagonista não apenas na transformação digital da indústria baiana, mas também na atração e criação de novos negócios, principalmente por meio do suporte ao surgimento de startups”, avalia. 

Enquanto uma extensão do Senai Cimatec Piatã, o diretor destaca ainda o papel do parque de inovação no aumento da competitividade da indústria baiana. “O Senai Cimatec Park, juntamente com a Rede de Institutos Senai de Inovação, alcançará esta demanda nacional por plantas piloto que atendam às condições de controle e operação especiais, dando o suporte à inovação nas indústrias, principalmente na fase pré-competitiva dos desenvolvimentos de produtos e ou processos”. Veja mais detalhes na entrevista a seguir. 

O que é o Senai Cimatec Park?  

O Senai Cimatec Park é uma extensão do atual Senai Cimatec sediado em Salvador, na Avenida Orlando Gomes, e já consolidado como uma referência em educação, ciência, tecnologia, inovação e empreendedorismo para a indústria brasileira. É um empreendimento de grande magnitude, cujo horizonte de implantação foi planejado para mais de 20 anos.  Nessa primeira etapa de implantação, o foco será pesquisa, desenvolvimento e inovação.O espaço terá uma robusta infraestrutura para suportar todo o processo de desenvolvimento tecnológico e inovação industrial e será capaz de abrigar projetos em que o escalonamento da produção, a prototipagem em escala real, os testes em estruturas de grande porte e a fabricação e operação de plantas piloto. 

Que conceitos fundamentam este novo Cimatec? 

Ele é um reflexo dos bons resultados alcançados pelo Senai Cimatec ao longo desses 17 anos de vida, que também atestam o sucesso do modelo integrado de operação da instituição. O Senai Cimatec Park nasce com um proposta de integração de três modelos de operação: um Science Park, fortalecido pela presença do centro universitário e da pesquisa aplicada; um Technology Park com laboratórios próprios e de empresas parceiras que suportarão o desenvolvimento de projetos aplicados, teste e validação de protótipos e tecnologias num ambiente industrial; o terceiro está relacionado a um Business Park, que viabiliza o suporte e a operação de startups e outras empresas de base tecnológica, criando assim um novo e diferenciado ecossistema de inovação para a Bahia e para o Brasil. 

Por que este tipo de estrutura está na Bahia?

Justamente porque a Bahia tem uma indústria muito concentrada setorialmente e geograficamente. Além disso, a indústria baiana apresentou, a partir da década de 1990, grandes desafios na busca por maior competitividade e pela atração de novos e grandes empreendimentos, como por exemplo a Ford, a então Monsanto (hoje Bayer), a Suzano e a Veracel.Portanto, a Bahia apresentava, no início dos anos 2000, um cenário de grandes desafios e oportunidades.

O que as pessoas vão encontrar no Cimatec? 

Já houve casos de pessoas que associam a imagem do Senai Cimatec Park ao Vale do Silício, na Califórnia. Óbvio que estamos longe disso, já que estamos apenas no começo. Por outro lado, há um processo contínuo que busca implementar um ambiente moderno, alegre, dinâmico e ousado, que quer fazer diferença no processo de desenvolvimento econômico e social da região.

A ideia maior é estruturar um completo ecossistema de educação, ciência, tecnologia, inovação, empreendedorismo e negócios, totalmente alinhado com os conceitos de sustentabilidade.Para tanto, já estamos trabalhando diversas ações em alinhamento com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da Organização das Nações Unidas (ODS/ONU). Afinal, a indústria do futuro, assim como todas as demais atividades econômicas, terá que ser necessariamente sustentável para ser perene.

O que só o Cimatec tem? 

Uma cultura de forte integração de competências e processos, pessoal e infraestrutura diferenciados, aproximação com o  setor industrial e grande capacidade de mobilização de recursos e fontes de financiamento para o desenvolvimento de soluções inovadoras. Além de uma metodologia própria e profissional de desenvolvimento de tecnologia e de produtos, por meio de projetos de pesquisa aplicada.

Com base no plano diretor que foi desenvolvido, como o Cimatec deve estar daqui a 10, 20 e 30 anos? 

O Senai Cimatec Park tem planejada uma rampa de crescimento consistente para as próximas décadas. Em 10 anos já teremos as grandes vias de tráfego do Park definidas e outros setores do terreno de 4 milhões de m² já estarão ocupados, como os espaços destinados a grandes projetos na área de óleo e gás e mobilidade.Acreditamos que em 20 anos o Senai Cimatec Park já terá a sua configuração definitiva, inclusive com a integração plena à educação de níveis médio e superior. 

Qual o principal desafio do Senai Cimatec no desenvolvimento do conceito de Indústria 4.0 na Bahia? 

O seu grande desafio é manter-se em contínuo crescimento nos próximos 20 ou 30 anos. Desde a sua criação, o Senai Cimatec cresce e expande as suas competências a taxas elevadas.O Plano Diretor do Senai Cimatec Park  é um grande motivador para todos nós. Ele será o nosso norte pelas próximas décadas. Qual o caminho para transformar o estado em um polo de inovação? 

Acredito que o melhor caminho é justamente criar um ecossistema adequado, que dê suporte às pessoas e às empresas para que elas possam criar, desenvolver ideias e empreender.O Senai Cimatec Park será um importante ator no apoio ao surgimento de um polo de inovação em Camaçari. Não temos dúvida de que o empreendimento contribuirá para o desenvolvimento socioeconômico do município e do ambiente de negócios na Região Metropolitana de Salvador.No fundo, confiamos que o Senai Cimatec Park terá uma influência nacional e será um sítio de desenvolvimento de projetos oriundos de todo o país e até mesmo de outras partes do mundo.  

QUEM É

Leone Peter  é diretor de Tecnologia e Inovação do Senai Cimatec Park. Responsável pela concepção e estruturação do que é hoje um dos mais importantes centros de tecnologia e inovação do país, Peter tem doutorado pelo Instituto de Tecnologia da Aeronáutica (ITA), foi professor da Ufba e do Ifba, além de empreender  as diversas fases de implantação do Senai Cimatec. 

PROJETOS EM OPERAÇÃO NO SENAI CIMATEC PARK

Planta Piloto de Extração de Metais Desenvolvida no âmbito da Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (EMBRAPII), através de parceria entre o SENAI CIMATEC e a NEXA Resources (antiga Votorantim Metais), o projeto pretende recuperar metais valiosos contidos em resíduos industriais e urbanos. 

Planta Piloto de Biotecnologia  O projeto atende a diferentes demandas biotecnológicas em áreas estratégicas das indústrias química, farmacêutica, cosmética, de alimentos e afins.  

Planta Piloto de Fármacos A planta oferece diferentes alternativas tecnológicas para a síntese de novas moléculas ou princípios ativos que apresentem potencial de aplicação para o desenvolvimento de novos medicamentos. 

Fábrica de Plantas Piloto  Voltada para o desenvolvimento de novos produtos e tecnologias, a fábrica constrói protótipos e sistemas em escala reduzida, com o objetivo de testar e validar um conceito que trará valor e inovação para indústria.

Conformação e União de Materiais   A iniciativa torna mais dinâmica o desenvolvimento e a inovação dentro de setores como o Metal Mecânico, Siderúrgico, Óleo e Gás, Mobilidade, dentre outros, através de projetos que atuam desde o desenvolvimento de conceitos até o nível de escala produtiva.

E2I: Engenharia para Inovação Industrial    A ideia é implementar a primeira escola ‘chão de fábrica’ do Brasil. Dedicada à educação e à pesquisa aplicada, o ambiente vai permitir que os alunos desenvolvam projetos focados em solucionar problemas reais da indústria. 

Galpão de Automação  O galpão contará com uma infraestrutura robusta, equipada com robôs industriais, área para montagens elétricas e mecânicas e realização de integração e testes.

Laboratório de desempenho das construções   O equipamento vai avaliar o desempenho das construções para atendimento às empresas do setor.