Líder em Salvador, Pernambués rompe a marca de 4 mil casos de covid-19

Pituba e Brotas, que lideravam a lista durante a primeira onda, seguem logo atrás; veja top 10

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  • Daniel Aloísio

Publicado em 8 de janeiro de 2021 às 05:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Arisson Marinho/CORREIO

Mesmo sendo apenas o quarto bairro mais populoso de Salvador, desde julho Pernambués é o campeão no número de casos de covid-19. Com aproximadamente 65 mil habitantes, segundo os dados utilizados pela Secretaria Municipal de Saúde (SMS), o bairro lidera com 4.005 infectados, primeiro a ultrapassar a marca de 4 mil pessoas que adoeceram desde o início da pandemia, em março.

Na sequência, a Pituba aparece com 3,8 mil casos, seguida por Brotas (3 mil), Santa Cruz (2,6 mil) e Itapuã (2,4 mil). Desses, só a Santa Cruz possui população menor que Pernambués, de 27 mil pessoas, o que a faz ser um dos bairros com maior incidência do vírus: 95,96 doentes para cada 1 mil habitantes.   

Os dados mostram que a quantidade de pessoas que vivem em um determinado local não é suficiente para explicar as contaminações pela covid-19. Na análise do arquiteto e urbanista Ernesto Pereira Galindo, pesquisador do grupo Geocombate, outros fatores devem ser levados em conta. “Podemos considerar Pernambués como um bairro popular, que no geral a gente observa mais dificuldade em viver o distanciamento social”, explica. 

O pesquisador lembra também como os estudos científicos identificaram a forma de disseminação do vírus. “Basicamente, ela começou nos grandes centros, na população de alta renda, que mais viajava e que tinha potencial de transitar no mundo todo. Essa realidade é a primeira afetada, até que depois o vírus se dissemina nos bairros de renda mais baixa, no interior e no mundo todo de uma forma geral. Os dados mostram isso: o vírus começou com a população branca de alta renda, com muitos casos nos hospitais particulares e depois passou mais para os bairros populares e hospitais públicos”, recorda. 

Evolução  Quando a divulgação dos casos por bairro em Salvador começou, no dia 23 de março de 2020, a Pituba, considerado um bairro nobre, despontou na frente, com seis casos da doença. Pernambués tinha apenas um. Com o passar dos dias, em abril, Brotas apareceu na segunda colocação da lista de bairros com mais infectados, e Pernambués sequer se encontrava entre os sete primeiros – que tinha ainda Patamares, Imbuí, Barra, Federação e Rio Vermelho, além da líder Pituba.  

Depois, em maio, o vírus se espalhou profundamente em Pernambués, a ponto de se tornar o bairro que mais registrou casos naquele mês. Isso fez com que, na época, o então prefeito ACM Neto colocasse o local na lista dos espaços que tinham medidas restritivas mais duras para evitar o contágio da covid-19. Àquela altura Brotas alternava a liderança no número de casos com a Pituba, cenário que durou até 25 de julho, quando Pernambués tomou a ponta e não largou mais.  

Desde então, os casos aumentaram tanto a ponto de ter ficado com uma diferença superior a mil pessoas infectadas em comparação com o segundo colocado. Em 3 de outubro, quando o número de novas contaminações no geral estava em desaceleração, Pernambués tinha 3.360 infectados, enquanto a Pituba somava 2.305.

Tudo isso fez com que a prefeitura de Salvador intensificasse as ações de combate ao vírus no local. A última vez que isso aconteceu foi a partir do dia 8 de dezembro e durou até essa quinta-feira, dia 7 de janeiro. A partir de hoje, o bairro sai da lista dos que passam por ações mais duras do poder público, mesmo ainda sendo o líder no número de casos.  

Em nota, a prefeitura explicou que os números em Pernambués estão estabilizados graças às ações adotadas e que continua monitorando o bairro. De fato, a partir de outubro, o número de novos infectados cresceu mais na Pituba, a ponto de hoje estar a menos de 200 casos de distância do líder. Se continuar nesse ritmo, é provável que o bairro litorâneo volte a assumir a liderança ainda neste mês.    “A Pituba passou muito tempo como primeiro. Se o bairro teve um pico antes que agora está voltando, isso cria uma suspeita de que é, na verdade, uma retomada de casos naqueles que conseguiram se proteger antes e agora não têm cumprido tanto o isolamento. Algumas pessoas cansaram e desistiram de se cuidar”, lamenta o pesquisador do Geocombate.  Realidade  Para quem vive no bairro com mais casos de covid-19 em Salvador, por mais que a prefeitura registre que há desaceleração, a situação é de incômodo com as aglomerações vistas todo final de semana. “Eu percebo que as pessoas não estão nem aí, andam sem máscara e tem paredão direto perto da minha rua. É zero cuidado. Tenho medo quando saio por aqui”, contou a estudante Débora Oliveira, 23 anos, que teve um vizinho e um primo que mora perto de sua casa, próximo à Madeireira Brotas, infectados pelo vírus.  

Já a estudante Kamilla Carvalho, 23 anos, vive do outro lado de Pernambués, próximo ao Cabula. Por ser uma região mais comercial, ela não tem visto tantas aglomerações, a não ser nos próprios estabelecimentos. “No início da pandemia, as pessoas respeitavam mais. Tinha marcação no chão das filas, controle de acesso, alguém medindo sua temperatura... Hoje em dia não tem mais isso. Eu já deixei de entrar em um local, pois estava cheio”, explicou.  

Essa realidade faz com que a estudante tome atitudes para se proteger. “Eu tenho medo por morar no bairro com mais infectados. Às vezes evito de circular na rua, comprar por aqui, opto por outros locais. Felizmente ninguém em casa pegou a doença”, disse Kamilla.

Os 10 bairros com mais casos de covid-19 em Salvador: Fonte: SMS Bairro  Casos de covid-19   População  Pernambués  4.005  64.983  Pituba  3.825 65.160  Brotas  3.056  70.158  Santa Cruz  2.651  27.083  Itapuã  2.451  66.961  Fazenda Grande do Retiro  2.250  53.806  São Cristóvão  2.233  53.906  Liberdade  2.032  41.802  Federação  2.001  36.362  São Marcos  1.960  28.591  * Com orientação da subchefe de reportagem Monique Lôbo