Literatura atual: como funcionam os novos bastidores das editoras

CORREIO preparou listas com dicas de redes sociais e sites para leitores e autores; veja também lista de autores baianos

  • Foto do(a) author(a) Vanessa Brunt
  • Vanessa Brunt

Publicado em 18 de setembro de 2018 às 07:30

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Unsplhash/Divulgação

Em uma época em que as redes sociais deixam novos talentos à disposição da sociedade como nunca antes, o (novo) mercado tradicional da literatura brasileira, para alguns, parece não valorizar ‘a caça aos desconhecidos’ e, até, não ter mais nada a ver com a busca por talentos. O processo agora é inverso. Para um autor fechar um contrato com uma grande editora, é preciso unir uma vasta gama de leitores primeiro para, após, ter a chance da publicação.“Não é que isso seja negativo, é apenas um novo formato, porque não podemos esquecer que essas editoras precisam se manter. É um negócio e todos precisamos beber um pouco do marketing hoje em qualquer área profissional. Para os escritores, não é diferente: temos que usar tudo o que a internet pode proporcionar (ou muita coisa) para depois colher os frutos. O bom é que um livro físico, hoje, não é a única forma de concretizar a imagem de um autor como tal”, reflete o escritor paulista Frederico Elboni, de 26 anos, que acumula mais de 900 mil inscritos apenas no seu canal de YouTube.Quando um autor não chama a atenção pelos números, realizar o sonho do livro físico é sinônimo de ter que desembolsar uma quantia que, em geral, é de alto custo. Esse é o formato de editoras menores e médias, que abrem maior espaço para escritores que ainda não ganharam um grande destaque nas mídias digitais.“Elas precisam lucrar, não estão erradas. O custo para enviar obras para as grandes livrarias é alto e, além disso, as livrarias cobram 50% em cima da venda de cada exemplar. É um universo complicado e editoras que visam trabalhar com essa distribuição precisam mesmo ter alguma segurança para os gastos que vem com ela. Por isso buscam youtubers, por exemplo”, explica o editor baiano Gustavo Felicíssimo, dono da editora Mondrongo e autor de cinco livros, incluindo Carta a Rubem Braga, sua última obra lançada, que reúne crônicas.AS PROBLEMÁTICAS NA BAHIA Na Bahia, o caso fica ainda mais complexo para os novos escritores. No estado, são poucas as editoras que vão para além dos livros didáticos. Além dessa problemática, para a soteropolitana Maria Luiza Maia, que é autora independente, falta suporte para que novos autores possam, inclusive, crescer nas redes sociais em Salvador. “É um sistema que se retroalimenta, principalmente no nosso caso, que temos que buscar editoras de fora. Se você já tem alcance, recebe mais alcance justamente por isso, enquanto os que não tem alcance não recebem apoio justamente por isso também”, ponderou a jovem de 23 anos, que foi complementada pelo autor Matheus Peleteiro, também de 23 anos. “O problema é que o cenário literário baiano não costuma ser muito valorizado na própria Bahia”, afirma Peleteiro, autor que acumula cinco livros no currículo e vem ganhando destaque nacional.“Vejo que poucos autores baianos investiram nas mídias sociais, afinal, por aqui ainda se promove autores através de eventos - o que seria ótimo se não houvesse uma articulação quase que hereditária promovendo sempre uma mesma espécie de panelinha”, concluiu Matheus, deixando no ar a sugestão para que ocorram mais eventos literários com inclusão de novos escritores locais.  

“Precisamos de mais eventos literários com diversidade. Seria um começo para que, até nas redes, os autores pudessem crescer mais. É preciso de oportunidades físicas para que isso também se expanda. Talvez, por isso, muitos dos jovens autores que estão em destaque são de São Paulo ou acabam indo para lá”, refletiu Ili Bandeira, leitora assídua e fundadora do blog baino O Clube da Meia Noite.Confira dicas para divulgar o trabalho de escritor ou blogueiro pela web (vídeo de 2016): Saiba mais dicas atuais abaixo. Os livros físicos prosseguem como maiores lucros das grandes às pequenas editoras (Foto: Unsplhash/Divulgação) INDEPENDÊNCIA NO DIGITAL “Aqui na Bahia, sobretudo, o que o público precisa fazer é apoiar cada vez mais os eventos literários, participando, consumindo, compartilhando e divulgando o quanto for possível. Quanto mais espaço a literatura tiver aqui, acredito que mais espaço terá para novos autores também”, afirma a autora Maria que, por outro lado, enxerga o ângulo positivo da realidade digital. “Algo que a internet ajudou a crescer foi essa coragem de publicar. Ver pessoas que estão fazendo isso e obtendo reconhecimento é um fator que nos desperta a vontade de fazer também”, diz a escritora, lembrando da possibilidade de lançar o livro virtualmente em diversas plataformas, podendo também imprimir uma baixa tiragem com gráficas.

Essa foi a realidade do autor Jaderson Franscisco Rozza, ou JF Rozza, como assina nas obras. O autor do Rio Grande do Sul começou, em 2012, compartilhando textos no próprio Facebook e depois migrou para um blog. Sem respostas das grandes editoras, resolveu criar um site próprio com e-books autorais. O primeiro livro digital lançado alcançou 25 mil vendas online na primeira semana e, a partir daí, ele não parou mais. Neste ano, chegou a ir para a Bienal do Livro de São Paulo, ganhando um estande próprio como único autor independente. “Hoje em dia são outras as redes de maior destaque, mas basta usar com criatividade. Estou adepto ao Instagram, posto trechos por lá, já que é uma plataforma mais visual, e continuo com os textos maiores em outras redes”, pontua o autor. Rozza agora é dono da própria editora, que começou, após tantos lucros, a lançar livros também impressos. “Agora quero focar em dar espaço para autores menores nos quais eu possa acreditar”, comenta o autor, que não concorda com as fórmulas atuais do mercado literário, mas sim, com os pontos positivos de poder criar uma carreira como escritor de forma independente na internet. Com o universo da web, inclusive, grandes marcas passaram a abrir espaços para novos autores. O Kindle, maior leitor de livros digitais no mundo, desenvolvido pela da Amazon, abriu espaço para que novos escritores pudessem lançar as suas obras de forma totalmente gratuita e independente na plataforma. Para publicar, não é necessário sequer passar por um processo de seleção. O livro passará, após, por uma observação da equipe apenas para a confirmação de que não firam regras básicas, como o não incentivo ao suicídios ou a preconceitos sociais. Saiba mais sobre como publicar um livro no Kindle clicando aqui.Os livros digitais, inclusive, têm gerado pontos positivos que os físicos ainda não conseguiram alcançar. “É possível ler no escuro sem prejudicar a visão. A iluminação do Kindle, por exemplo, é feita para isso. Ainda tem o fator de que esses leitores digitais são mais práticos,  baratos (no fim das contas: ao somar vários livros) e mais fáceis de transportar”, afirma a blogueira literária Clayci Oliveira, de 30 anos, do blog Sai da Minha Lente, que afirma descobrir novos autores através de blogs diversos e, inclusive, pouco conhecidos. "Existem muitos blogs bastante profissionais e que focam na literatura nacional", pontua.Apesar das vantagens, porém, os livros físicos prosseguem em ascensão. Em 2016, o presidente da Snel (Sindicato Nacional dos Editores de Livros), Marcos da Veiga, afirmou que as vendas eletrônicas perdem fôlego constantemente. “Já cresceu pra 30% e, pouco depois, caiu pra 12%”. Ainda em 2018, os e-books, dentro das grandes e pequenas editoras, não chegam a ser parte sequer de 30% das vendas. O editor Gustavo Felicíssimo também afirma a instabilidade. “Dentro das editoras a quantidade de vendas é sempre menor em comparação aos livros físicos”, disse, afirmando ter visto, também em 2016, uma pesquisa sobre as vendas dos e-books alcançarem apenas 5% dos lucros das maiores editoras. “Mas hoje existem essas outras plataformas, então os números podem estar mudando”, conclui. “Nada substitui o gosto de estar com o papel nas mãos. Além disso, ler no celular ou computador dispersa bastante. Em um leitor digital, como o Kindle, talvez eu me desse melhor”, reflete a leitora e estudante de arquitetura Susanna Carrozzo, de 23 anos. Terceiro tipo de editora é mais raro, mas existe: elas não cobram nada do autor e publicam 'escritores menores', indo do livro físico ao e-book. Essas editoras, porém, não levam as obras para as grandes livrarias (Foto: Unsplhash/Divulgação) OUTRO FORMATO DE EDITORAS Ainda que o universo digital tenha se tornado meio padrão para que as grandes editoras analisem potenciais autores (através dos engajamentos nas redes) e que outras editoras cobrem altos preços para autores menores, existe ainda um terceiro formato de editoras que, apesar de não tão comum, está perpetuando espaço em grandes eventos literários. É o caso da editora baiana Mondrongo, por exemplo, que não cobra nada para que pequenos autores possam lançar suas obras.“Funciona assim: nós fazemos baixas tiragens e vamos fazendo novas tiragens, sempre pequenas, após esgotar a primeira. Não distribuímos para as grandes livrarias, mas fazemos e-books, vendemos online e criamos todo esse contato com os leitores e carinho com os autores, que são selecionados a dedo, apenas pelo talento”, explica Felicíssimo, que esteve presente na Flipelô com diversos dos títulos da editora. Outra marca que se assemelha à Mondrongo é a editora Penalux, que segue o mesmo modelo.“É preciso que entendam que, mesmo sendo arte, nesse mercado, é um negócio. Sem vendas, o autor não cresce sequer no renome. O que precisa mudar mesmo é a cabeça das pessoas em relação a isso. Pagam 50 reais no cinema, mas acham caro um livro de R$ 35”, alerta o escritor Fred Elboni. Para os leitores que querem descobrir novos nomes da literatura, o CORREIO separou uma lista de autores baianos que são ativos nas redes sociais e que valem a pena o clique. Além disso, uma outra listagem também foi preparada, com dicas para os próprios autores e, ainda, para os leitores. São sites, redes sociais e outras plataformas para que novos escritores divulguem seus trabalhos e para que leitores possam organizar suas leituras (e desvendar novas opções). Confira as listas:

CONFIRA SITES, REDES SOCIAIS E OUTRAS PLATAFORMAS PARA LEITORES E AUTORES:

1. SKOOB  Skoob é uma rede social colaborativa brasileira para leitores, lançada em janeiro de 2009. O site tornou-se um ponto de encontro para leitores e novos escritores, que trocam sugestões de leitura e marcam reuniões em livrarias. No site, assim como no aplicativo, é possível avaliar e descobrir livros, postar e ler resenhas, além de organizar as listas de leituras. Os novos autores podem criar perfis próprios, colocando as suas obras nos catálogos. 

2. ORELHA DE LIVRO Semelhante ao Skoob, o Orelha de Livro é uma rede social que pode ser vinculada ao Facebook e apresenta a possibilidade para que os usuários ‘montem’ a própria biblioteca virtual com os livros que já leram, estão lendo, ou que pretende ler. É possível seguir os autores mais influentes e descobrir novos lançamentos. No ar desde julho de 2012, o aplicativo conta atualmente com mais de 90 mil usuários. Outra dica de redes sociais são: Livreto, Shelfari e Minhateca.

3. WATTPAD Aplicativo e site, o Wattpad é uma plataforma de publicação, na qual já foram descobertos diversos livros que foram lançados por editoras, como é o caso de After, da escrito Anna Todd. Na plataforma, é possível publicar o que quiser, sejam livros inteiros ou contos, crônicas e poesias. Um dos principais pontos da ferramenta é a possibilidade de postar aos poucos, como um capítulo por vez, por exemplo. Enquanto ‘solta’ as partes ou os novos escritos, é possível receber feedbacks dos leitores.

4. CLUBE DE AUTORES O Clube de Autores foi o primeiro site brasileiro que permitiu a publicação gratuita de livros de forma 100% sob demanda. Em outras palavras, o autor pode ‘subir’ o seu livro, determinar quanto deseja ganhar por venda e disponibilizá-lo na loja sem pagar absolutamente nada por isso. 5. WIDBOOK O Widbook é um serviço online para a publicação de livros digitais. Nele, existe o crowdwriting, que é definido como um espaço colaborativo para escritores e leitores exporem suas ideias e opinarem sobre as obras publicadas. A plataforma reúne um acervo com mais de três mil obras disponíveis e 12 mil títulos em "processo de escrita". Ou seja, existem livros ainda incompletos que recebem pitacos"dos leitores e podem ser compartilhados de capítulo em capítulo, assim como no Wattpad. Os usuários podem, ainda, disponibilizar o material gratuito nas redes sociais. 

6. MEDIUM Medium é uma plataforma de autopublicação fundada pelo co-fundador do Twitter, Evan Williams, em agosto de 2012. A plataforma evoluiu para um híbrido de contribuições não-profissionais e profissionais pagas, sendo então um exemplo de jornalismo social. Algumas de suas publicações incluem a revista de música online Cuepoint, editada por Jonathan Shecter, e a publicação de tecnologia Backchannel, editada por Steven Levy. Diversos novos escritores postam trechos ou obras inteiras na plataforma, que permite o recebimento de feedbacks. 

7. SPIRIT FANFICS Especial para quem gosta de fanfics: que são tramas inventadas com base em personagens já existente - de outros livros e filmes ou, até, com base nas vidas de artistas. No  aplicativo, é possível descobrir diversas fanfics já concluídas ou em andamento. É possível visualizar sinopses, comentários e curtidas em cada uma, além de postar as próprias.8. SPRITZ O Spritz utiliza um método de leitura dinâmica revolucionário. As palavras são adicionadas uma a uma em vez de páginas inteiras. Assim você consegue ler sem levantar os olhos e, consequentemente, mais rápido do que da forma tradicional. Tudo isso com a promessa de não prejudicar a compreensão do texto.

9. KINDLE O Kindle, como dito no decorrer desta matéria, é a maior leitor de livros digitais no mundo, desenvolvido pela da Amazon, e abriu espaço para que novos escritores pudessem lançar as suas obras de forma totalmente gratuita e independente na plataforma. Para publicar, não é necessário sequer passar por um processo de seleção. Saiba mais sobre como publicar um livro no Kindle clicando aqui.

DESCUBRA SEIS AUTORES BAIANOS QUE SÃO ATIVOS NAS REDES SOCIAIS: 1. @MATHEUSROCHA Com mais de 500 mil seguidores apenas no Instagram, Matheus Rocha é cronista e  criador da página Neologismos e autor de três livros. Assíduo nas redes sociais, ele responde o máximo possível de leitores e posta frases e trechos diariamente, além de  tweets. Nas legendas das fotos, chega a postar textos maiores. (Foto: Instagram/Reprodução) 2. @MIRIAMORAES__ Com uma veia feminista, Moraes escreve textos e poesias. A autora criou, inclusive, um projeto no qual recebe histórias das leitoras para que possam inspirar novos dos seus escritos. No perfil, Míria posta trechos próprios e poesias completas, além de frases e citações de outros autores que acompanha. (Foto: Instagram/Reprodução) 3. @_MATHEUSPELETEIRO Comparado a Jorge Amado por diversos críticos, Matheus Peleteiro veio conquistando âmbitos nacionais com suas obras, que vão desde a ficção até a poesia. Nas redes, o autor divulga eventos nos quais estará presente, além de trechos de escritos próprios e de outros autores que acompanha: entre eles, diversos nacionais e baianos.  (Foto: Instagram/Reprodução)   4. @MRLUIZAMAIA Maria Luiza Maia é autora independente e criou o projeto @oquelidasmulheres. No perfil do Instagram do projeto, a autora traz dicas literárias de livros feitos por mulheres, com foco nas escritoras baianas. Em seu perfil pessoal, Maria, que escreve textos e poesias, posta trechos próprios variados, além de dicas extras.  (Foto: Instagram/Reprodução) 5. @TATIANAAMARALOFICIAL Autora best-seller da Amazon com treze livros, Tatiana Amaral mantém contato intenso com os leitores nas redes e chega a republicar fotos deles. No Instagram pessoal, a escritora de ficções informa sobre eventos e novos livros para os seguidores, além de, vez ou outra, postar trechos das obras. (Foto: Instagram/Reprodução)   *A jornalista @vanessabrunt é autora de cinco livros e posta frases e trechos com frequência nas redes sociais. (Foto: Livro Depois Daquilo – Vanessa Brunt/Reprodução/Instagram) *Reportagem com orientação da editora Ana Cristina Pereira