Livro do crítico Mauricio Stycer revela o lado B de Silvio Santos

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  • Hagamenon Brito

Publicado em 3 de dezembro de 2018 às 05:00

- Atualizado há um ano

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Apresentador de televisão mais popular da história do Brasil, Silvio Santos completa 88 anos no próximo dia 12 e tem seu lado empresarial e político analisado no bom livro Topa Tudo por Dinheiro - As Muitas Faces do Empresário Silvio Santos (Todavia | R$ 54,90 | 256 páginas), de Mauricio Stycer, 57, respeitado jornalista, crítico de TV e colunista da Folha de S. Paulo. Confira a entrevista. O apresentador e empresário Silvio Santos é tema do livro Topa Tudo por Dinheiro, do jornalista Mauricio Stycer (Foto/Divulgação) Como você mesmo diz no livro, existem seis biografias sobre Silvio Santos. O que te motivou a escrever Topa Tudo por Dinheiro, que mostra, digamos, o lado B do apresentador e empresário?

Basicamente, o que me levou a fazer a pesquisa e escrever o livro foi o incômodo com o fato de Silvio ser tratado frequentemente como uma figura mitológica nas biografias anteriores. Tive a pretensão de mostrar que ele é um tipo de carne e osso, falível como qualquer mortal. Sua trajetória é espetacular e deve isso ao seu talento em múltiplas áreas. Mas também cometeu erros, fez bobagens e agiu de forma errada em alguns episódios. O livro não tem ambição iconoclasta, mas busca desfazer alguns mitos, esclarecer lugares comuns que se cristalizaram e mostrar como o próprio Silvio, mesmo sendo uma figura vaidosa, foi transparente em relação a questões desabonadoras para ele.

Sabemos que, politicamente, Silvio nunca contrariou os presidentes do país, desde os generais da ditadura militar. No seu entender, esse oportunismo tem a ver apenas com o lado empresarial ou condiz também com o perfil do cidadão Silvio Santos?

Difícil dizer. Acho que a bajulação explícita aos donos do poder, que ele nunca escondeu, deriva da compreensão de que é algo útil e necessário para o negócio. Mas Silvio confunde, realmente, porque faz isso sem transparecer as suas preferências. Ainda assim, com base em muitas declarações que deu, especialmente no período em que se candidatou à Presidência, em 1989, eu diria que o perfil político dele o aproxima do centro, no espectro político e na visão liberal da economia. Se ele tivesse nascido nos Estados Unidos, um país que admira, eu diria que ele votaria no Partido Republicano. Mauricio Stycer, o autor do livro: jornalista, crítico de TV e colunista da Folha de S. Paulo (Foto/Divulgação) A boa relação de Silvio Santos com o regime militar foi decisiva para o sucesso do SBT?

Sem dúvida. Mas o livro lembra, e outras pesquisas comprovam, que o regime militar foi generoso, do ponto de vista dos negócios, com muitas empresas de comunicação. O que diferencia Silvio é que, no duplo papel de empresário e apresentador, ele sempre se expôs muito mais do que outros donos de emissoras de TV ou editoras ou jornais. Silvio elogiou os ditadores no seu programa de domingo e criou "A Semana do Presidente” para festejar o general Figueiredo...

Como crítico de tevê experiente, para você quais seriam as principais qualidades de Silvio Santos como apresentador?

Acho que a maior qualidade dele é a capacidade de falar de igual para igual com qualquer pessoa, do mais humilde ao mais poderoso. É uma característica que muitos almejam, mas ninguém alcança com a naturalidade do Silvio. E é interessante observar como ele persegue essa simplicidade desde os primórdios, nos anos 1960. Tenho a impressão que ele teve uma visão muito cedo e se manteve fiel a ela, se transformando num dos comunicadores mais capazes da história da TV brasileira. E os principais problemas dele como empresário de comunicação?

Um, como eu já disse, é o desprezo pelo jornalismo. Outro, de efeito mais cômico, é a sua fé na própria intuição. Graças a ela, tomou algumas decisões geniais e outras, bestiais. É o que dá novo significado à sigla SBT, “Silvio Brincando de Televisão”. Agindo assim, causou muitos problemas à própria emissora, atrapalhou programas e provocou a saída de gente qualificada, entre outros efeitos colaterais do fato de agir sem pedir a opinião de ninguém.

Recentemente, Silvio foi grosseiro e machista com a cantora Claudia Leitte no palco do Teleton. Ele sempre foi politicamente incorreto, mas com o tempo piorou nas "brincadeiras". Qual a sua opinião sobre o episódio? Chegou a hora de Silvio parar, inclusive, de apresentar programas de auditório?

É uma pergunta difícil, talvez porque não caiba a ninguém, senão ao próprio, dar uma resposta a ela. Mais de uma vez já me perguntei se é justo exigir que um homem nascido em 1930 pense e aja em sintonia com valores aceitos como óbvios no século 21. No cotidiano, a experiência mostra ser mais fácil ignorar ou se afastar de pessoas que pensam de forma radicalmente diferente e ofensiva do que convencê-las a mudar de ideia. Mas Silvio Santos não é um amigo ou um parente. É alguém que entra na televisão, uma concessão pública, por quatro horas, aos domingos. Silvio claramente deixou Claudia Leitte constrangida. Recuando no palco e abaixando o vestido, ela deu sinais de ter se sentido assediada. Neste momento em que estamos vivendo, acho que ele deveria ser mais responsável, mas tenho a impressão que não está nem aí. Uma questão que emerge desta discussão seria: agindo assim, Silvio ainda está em sintonia com seu público? Tenho a impressão que uma parte deste público hoje diria que não.