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Flavia Azevedo
Publicado em 4 de julho de 2025 às 08:00
Quatro anos depois da morte de Marília Mendonça, Murilo Huff entrou na Justiça com um pedido de guarda unilateral do filho Léo, de seis anos, que ele teve com a cantora. Antes desse pedido, Murilo e Dona Ruth (mãe de Marília Mendonça) tinham a guarda compartilhada do menino que vivia com a avó materna desde que perdeu a mãe, em 2021. Em audiência recente, o pai obteve a guarda provisória de Léo. Essa decisão gerou desentendimentos públicos entre Murilo e Dona Ruth. A avó de Léo lamentou a situação, afirmando que a disputa tem sido "cruel" com a criança. Concordo, é cruel. Mas por quê? >
Natural que, com a morte da mãe, a criança passasse a ser cuidada pelo adulto mais próximo. Conforme sabemos, legalmente, os adultos mais próximos de uma criança são mãe e pai. Nesse caso, na ausência da mãe, portanto, o pai assumiria todas as responsabilidades jurídicas, financeiras e emocionais. Permeada por ele, essa responsabilidade poderia ser dividida, claro, e, nesse cenário, a avó materna é das figuras mais importantes. Porém, coadjuvante. A não ser que, por alguma incapacidade do pai, a avó precisasse assumir o papel principal. Pelo jeito, foi o caso.>
Marília estava morta e não poderia mais cuidar do filho. Murilo, então, demonstrou incapacidade de cuidar ao deixar o filho morando com a avó materna. Com isso, abriu mão da paternidade diária, cotidiana, aquela que limita viagens, trabalhos e farras. Aquele compromisso principal e inadiável que é cuidar de uma criança. Um troço tão delicioso quanto complicado, que interfere nos “treinos”, no sono, na alimentação. Uma viagem que nos coloca em outro lugar social. Se você é mãe ou pai funcional sabe que criar um filho é mesmo revolução.>
(E olhe que ele poderia contratar quantas babás desejasse, como fez a avó.)>
Murilo não foi capaz de assumir nada disso. Pelo que se lê na imprensa, durante quatro longos anos, ele foi cuidador secundário, digamos. Então, até onde Léo se lembra da vida, tem a avó – certa ou errada – como referência no cotidiano. Agora, de acordo com Murilo, Dona Ruth cometeu erros gravíssimos, mas é tudo segredo, pelo menos por enquanto. Daqui, fico pensando: se não foi violência, abuso sexual ou semelhantes (e aí a avó deveria estar presa), que erro tão grave é esse que ela pode ter cometido e justifica o afastamento da principal referência de amor e cuidado do menino?>
Murilo abriu mão de estar perto de Léo, há quatro anos. Dona Ruth sentou na cadeira deixada vaga pelo pai, essa é a questão. Agora, tomado de “súbita preocupação”, ele corre pra fazer o que deveria ter feito quando a mãe do menino morreu e isso é estranho. Ou, talvez, nem tanto. Uma criança de quase seis anos já dá bem menos trabalho do que em qualquer momento, antes. Por outro lado, já afastados do calor do momento daquele acidente, esses adultos podem passar a brigar pela herança sem medo de julgamentos. Não é raro que, nessas horas, muitas famílias esqueçam de observar o tal princípio do “melhor interesse da criança”.>
A julgar também pelo que a imprensa publica, “um valor mais alto se alevanta” e quando ricos decidem brigar por dinheiro, não há nada mais importante. Sim, é cruel. Léo sabe de carrinhos, piscinas, colos e canções. Léo sabe que perdeu o maior amor do mundo, quando a mãe nunca mais voltou. Minimamente, seria digna uma transição gradativa na rotina do menino e não a burocratização da avó que passa a ser possível só a cada 15 dias. Léo não é pobre nem rico, não entende nada de herança. Ele quer presença conhecida, dengo e segurança. Agora, o pai que optou por ser recreativo, quer ser obrigatório, cotidiano. Com que interesse? Suponho, tenho um palpite. Mas vejamos. >