Luta contra aquecimento global precisa de 7 bilhões de líderes

Martin Frick, diretor da ONU, defende papel individual como diferencial para a diminuir mudança climática

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  • Da Redação

Publicado em 29 de agosto de 2019 às 05:55

- Atualizado há um ano

. Crédito: (Mauro Akin Nassor)

O combate ao aquecimento global deve ser realizado diariamente por cada um de nós. É o que defende Martin Frick, diretor sênior de Políticas e Coordenação de Programas de Mudança Climática da Organização das Nações Unidas (ONU), um dos representantes da entidade na Semana do Clima da América Latina e Caribe (Climate Week).

Para ele, a mudança pode começar com mudanças na rotina, a exemplo de alimentos consumidos e a forma com que nos locomovemos. Ele destacou que cada pessoa pode se tornar um líder na defesa da preservanção do planeta. Frick elogiou a organização do evento em Salvador e as ações adotadas pela cidade para mitigar os efeitos da mudança climática.

Qual é o papel da ONU no combate ao aquecimento global?  A Organização das Nações Unidas (ONU) juntou cada nação do planeta em um longo processo para o Acordo de Paris. Esse acordo foi a maior conferência global que já teve no planeta e definiu uma meta muito ambiciosa para reprimir o aquecimento global bem abaixo do que temos atualmente. Hoje, através da ciência, nós sabemos que 1,5º C é o máximo que podemos aceitar. Agora estamos em 1º C e já podemos ver o que está acontecendo em diversos lugares. Nós não podemos aceitar que a temperatura fique maior do que isso. Então, o nosso papel na ONU é achar um consenso internacional para fazer o Acordo de Paris uma realidade.

Quais são os avanços registrados no combate à mudança climática? Existem retrocessos?

Sempre existem regressões, mas eu acredito que nós estamos agora em um ponto onde ninguém nega a ciência e as pessoas realmente entendem que estamos em uma crise global. Para mim, a mudança climática também é uma oportunidade para todas as pessoas porque precisamos de um novo nível de cooperação, uma cooperação sem precedentes e é isso o que a mudança climática está nos desafiando a fazer. A mudança climática não liga se você está no Brasil, na África, ou nos Estados Unidos. Está em todo o lugar e deve ser combatido de forma conjunta.

Qual o papel de empresas, governo e sociedade no combate às mudanças climáticas?

É muito encorajador ver tantas empresas privadas entendendo a sua responsabilidade e que elas também estão expostas à mudança climática. E porque eles são conduzidas por pessoas inteligentes, elas vêem oportunidades de negócio, que são enormes.

Como podemos transformar esse discurso de mudança em atitudes efetivas?

Nós precisamos de 7 bilhões de pessoas para fazer isso, porque temos 7 bilhões de pessoas no planeta. É importante que cada indivíduo preste atenção no que está comendo, consumindo, como está se transportando. Mas, ao mesmo tempo, é uma responsabilidade para aqueles que representam as pessoas e a sociedade têm que demandar de seus líderes políticos ações fortes para o clima, porque nós precisamos dos dois: das lideranças e das ações individuais.

Como está o Brasil comparado a outros países?

O Brasil é um país muito importante. Não é apenas líder na Latina América, é um líder global no G20 e tem tido um papel muito instrumental. Deixe eu lembrar que em 1992 uma audiência no Rio foi o grande começo para as discussões climáticas, a ECO-92. Nós estamos em contato com o Brasil e vemos progressos. 

Qual é o legado da Semana do Clima?

Eu acredito que são muitos legados. Nós temos novas parcerias, uma forte articulação em toda a América Latina para setembro, quando o secretário geral da ONU vai reunir líderes globais em Nova York para discutir isso. Acredito que tivemos um grande impacto também na vida das pessoas porque elas entendem (o aquecimento global), elas vêem as consequências da mudança climática, elas vêem as pequenas coisas que elas podem fazer (para mitigar os efeitos do aquecimento) e entendem a urgência do problema. Estou muito feliz e estimulado com a Semana do Clima. 

Qual mensagem você deixa para as pessoas do Brasil?

Eu diria primeiro um grande obrigado por nos receber, por serem maravilhosos anfitriões, por serem amigos da gente por tantos anos. E também dizer que essa é uma ótima oportunidade para as pessoas se transformarem em líderes, porque todos podem ser líderes no combate à mudança climática. Seja na sua comunidade, na sua cidade, com os seus amigos. O que eu vi aqui (em Salvador) foi uma forma feliz de se viver. Se você olhar para a comida orgânica que é produzida, para pessoas que pegam a bicicleta em vez de se locomover de carro... As pessoas estão criando uma linda forma de viver. Eu levo daqui a felicidade que vem disso, e a satisfação que os indivíduos têm de tomar ações individuais (contra o aquecimento global).