Mãe de baleado no Carnaval resiste a desligar os aparelhos

Jovem teve morte cerebral constatada na quarta-feira (6)

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  • Tailane Muniz

Publicado em 8 de março de 2019 às 06:00

- Atualizado há um ano

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O mecânico Jeferson São Pedro Almeida, 21 anos, foi baleado há sete dias, na sexta-feira de Carnaval (1º), pouco antes da passagem do bloco Olodum no Circuito Osmar, no Campo Grande. Atingido no peito, o rapaz foi socorrido para o Hospital Geral do Estado (HGE), onde teve a morte cerebral constatada na tarde de quarta-feira (6).

Mãe do jovem, a dona de casa Joice São Pedro, 37, no entanto, ainda não autorizou que os médicos desliguem os aparelhos. Joice disse à reportagem, na noite dessa quinta-feira (7), que vai aguardar até domingo (10), pois acredita que o filho vai "reagir". Segundo ela, seu "coração de mãe diz" que ainda há a possibilidade de rever Jeferson com vida. 

Procurada pelo CORREIO, a Secretaria de Saúde do Estado da Bahia (Sesab) afirmou que, para constatar a morte cerebral, há um protocolo médico, definido pela legislação brasileira, que atesta a morte encefálica. Questionada sobre o que acontece nos casos em que a família se nega a permitir que os aparelhos sejam desligados, a Sesab, por meio da assessoria, informou apenas que a questão é regulamentada pelo Conselho Federal de Medicina.

Conforme a mãe do mecânico, uma equipe médica a chamou até o HGE, na quarta-feira (6) à tarde, e comunicou que a morte cerebral do jovem havia sito constatada por volta de 16h30. Quando foi assinar documentos para a desligada dos aparelhos, na quinta, Joice afirmou ter visto no prontuário que o cérebro do filho parou à noite, 21h50, e não à tarde, como os médicos haviam comunicado."Por que eles me disseram uma coisa, e eu vi outra no documento? É tudo tão estranho. Meu filho conversou comigo no sábado (2), no domingo estava entubado, e na segunda-feira está morto? Eu vou esperar até domingo, se ele não ficar bem, eu autorizo e doo os órgãos", disse ela.Protocolo de constatação Um cérebro morto e um coração que ainda bate. Em poucas palavras, esse é o diagnóstico de morte cerebral. Presidente da Fundação de Neurologia e Neurocirurgia do Instituto do Cérebro da Bahia, o neurologista Antônio Andrade explicou à reportagem que o caminho natural é que, em casos como o de Jeferson, a família assine os documentos e autorize o desligamento dos aparelhos e a doação dos órgãos."A morte cerebral é constatada por meio de um protocolo rigoroso, feito por uma equipe de médicos, que é aberto e fechado em um espaço de tempo que varia entre seis e 12 horas. Nele, precisam estar explícitas as mortes por imagem, a morte clínica e a eletrográfica. Ou seja, se foi constatado, não há o que fazer, senão doar os órgãos do paciente".O neurologista comentou, no entanto, que no caso de famílias que perdem seus entes de forma violenta, há uma tendência à negativa da morte. Segundo ele, o protocolo de diagnóstico da morte cerebral é aberto por um médico da Unidade de Terapia Intensiva (UTI).

Em seguida, uma equipe realiza exames como eletroencefalograma, tomografia, angeografia e dosagem sanguínea. A depender dos resultados, um neurologista ou neurocirurgião atesta a morte do paciente. "Por isso é importante que a família compreenda o mais breve, porque o corpo vai parar, e aí os órgãos não mais servirão para outra pessoa", destacou o médico.

Antônio Andrade reiterou que, embora seja compreensível a negativa da família a autorizar o desligamento de aparelhos, o protocolo não deixa dúvidas de que o paciente não mais retornará à vida."É difícil para uma mãe entender que o filho está morto, mas que o coração ainda bate. O que posso dizer é que um neurologista tem total capacidade de diferir um paciente em coma de um paciente com morte cerebral. Os estágios do protocolo existem para que não reste qualquer dúvida".De acordo com o protocolo previsto pela Sesab, a família tem o direito de contratar outro médico para examinar o paciente. Andrade afirmou, ainda, que é dever do Estado viabilizar uma equipe composta por psicólogos, assistentes sociais e outros profissionais que alertem e conscientizem a família de que, em algum momento, os demais órgãos também tendem a parar de responder.

Caroço nega ter sido autor dos disparos (Foto: Alberto Maraux/SSP) Suspeito preso Apontado como o autor dos tiros qua atingiram as quatro pessoas, entre elas Jeferson, Edmilson Silva dos Santos Júnior, conhecido como Caroço, foi apresentado na manhã dessa quinta-feira (7), na sede do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), na Pituba. Ele tem passagem por tráfico de drogas.

Jeferson Almeida estava na companhia da esposa quando levou um tiro no peito. As demais vítimas já receberam alta médica. 

A confusão que gerou os disparos e resultou na morte de Jeferson ocorreu momentos antes da passagem do bloco Olodum pela avenida, nas proximidades da Casa D’Itália. Ao ser apresentado para a imprensa, o suspeito negou o crime.“Eu não atirei em Jeferson, conheço ele e jamais faria isso”, declarou Edmilson no momento da apresentação.