Mãe, Mulher, Maria: bloco Olodum vai homenagear a mulher no Carnaval 2020

Tema foi divulgado durante comemoração dos 40 anos do grupo, com show no Pelourinho

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  • Yasmin Garrido

Publicado em 28 de abril de 2019 às 19:51

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Marina Silva/CORREIO

O Bloco Olodum comemorou 40 anos de história e samba reggae, neste domingo (28), com show no Largo Tereza Batista, no Pelourinho. A festa reuniu fãs e muitos cantores que fazem parte da trajetória do bloco afro, como Jau e Serginho, da Banda Adão Negro.

Em meio à festa, foi divulgado também o tema do bloco para o Carnaval 2020: “Mãe, Mulher, Maria, Olodum”. Um dos vocalistas, Mateus Vidal, falou sobre a importância da figura feminina no discurso do grupo quarentão:“As mulheres sempre foram uma referência para o que a gente toca. E dentro do bloco não é diferente. São personalidades e mulheres comuns, que, juntas, ajudaram e ajudam a fazer do Olodum um bloco de resistência”, disse.Ainda segundo Mateus, o tema é inspirado também em uma música do grupo, lançada em 1982. “A gente canta ‘Mãe, Mulher, Maria, Olodum amamentando o dia’. E é exatamente isso, a mulher como a base de tudo, sendo essa a nossa homenagem no próximo Carnaval”, declarou. Jau participa do show de 40 anos do bloco (Foto: Marina Silva/ CORREIO) O presidente do Olodum, João Jorge, descreveu passado, presente e futuro do bloco. “O passado representa as raízes, a Mãe África, a cultura, o candomblé e a capoeira. O presente é a força maravilhosa que a Bahia dá ao Olodum. E o futuro é começar de novo, construindo, cada vez mais, história”, disse ele ao CORREIO.

Cores vibrantes Fã do Olodum, o músico e pedreiro Evandro Lima, 40 anos, contou que o bloco inspira a vida dele em tudo, inclusive no visual. “O Olodum tem uma história, escrita desde 1979, que ressalta a africanidade do povo baiano, o respeito à diversidade, à cultura. E eu trago isso para a minha vida, desde as influências do samba reggae até o estilo do grupo, com cores vibrantes e arte na cabeça”, afirmou. O músico e pedreiro Evandro Lima, 40 anos, é fã do bloco (Foto: Marina Silva/ CORREIO) A festa dos 40 anos contou com a presença de convidados mais do que especiais e que também fazem parte da história do bloco. O cantor Jau disse que é um filho do Olodum.“Esse bloco é o maior pilar da condição musical, cultural e de resistência negra. A importância do bloco é a de um pai e uma mãe para um filho - é ser útero, cuidar. E é aí que entra o tema do Carnaval 2020, uma homenagem a todas as mulheres e também a quem tem o instinto maternal”, destacou.Outro convidado, Serginho, vocalista da Banda Adão Negro, que tem 22 anos de existência, falou das influências do bloco afro para a própria formação musical. “Quando a gente chega em outro país e é reconhecido pela música, eu faço questão de dizer que temos bons pais como referência, como Olodum, Ilê Aiyê, Edson Gomes, pessoas que representam força e militância”. Fãs dão os parabéns ao Olodum (Foto: Marina Silva/ CORREIO) Paixão A professora Marília Paiva, 53 anos, veio de Paulo Afonso, no Centro-Norte baiano, especialmente para participar dos 40 anos do Olodum. “Eu acompanho sempre o bloco, nos carnavais ou quando tem ensaio e eu estou em Salvador. Acho que eles representam um reforço da cultura africana e da luta política, já que, depois de quatro décadas, continuam com letras tão fortes politicamente”, declarou.

Na porta do camarim, no Largo Tereza Batista, 34 anos, estava Vanessa Brandão, que se autodeclarou a maior fã do Olodum. “Sou fanática, apaixonada pelo Olodum, não só pela música, mas pela força do grupo. Os fundadores, como Lazinho, Narcizinho e outros que vieram depois, representam com tanta força a nossa cor, nossa cultura, as raízes africanas, tudo isso com letras de resistência e protesto”.

Antes de se tornar vocalista do Olodum, Lazinho já tinha três filhos e trabalhava como lavador de carros.“Naquela época, muita gente dizia que eu não chegaria aos 18 anos, porque a violência estava entranhada não só em mim, mas na maioria de nós, jovens negros do Pelourinho. O Olodum salvou muitas vidas, inclusive a minha”, contou.Mãe, Mulher, Maria Tema do Carnaval 2020, o Olodum mostrou que depende da força da mulher para continuar representando as culturas de matriz africana e  povo negro. Quem vê os tambores coloridos não imagina que eles também sejam tocados por mãos femininas.

Da banda de batucada em latas formada por moradores do Taboão para o time principal de percussionistas do Olodum. Essa é a trajetória de Andreia Reis, a primeira maestrina de percussão do grupo.

“Quando chegamos à sede do bloco, a nossa inscrição foi negada. Foi aí que Neguinho [do Samba] bateu o pé e disse que a partir daquele momento estava autorizada a participação feminina”, revelou ela, ao contar a história de 32 anos atrás. “A partir daí, o Olodum se fortaleceu ainda mais, porque a mulher é isso, é força”, concluiu.

O Olodum surgiu de uma brincadeira carnavalesca em 25 de abril de 1979 e ganhou o mundo, com apresentações ao lado de artistas internacionais, como Michael Jackson, Paul Simon e Alpha Blondy. Aos 40 anos, o bloco permanece cantando a cultura negra, com letras que reforçam as influências africanas.

E as comemorações não terminaram. Nessa segunda-feira (29), às 10 horas, vai ser instalada, no Centro de Documentação Digital e Memória Olodum (CDMO), uma placa em homenagem aos Coordenadores e Professores da Escola Olodum. O evento vai contar, ainda, com a presença do ministro das Relações Exteriores da Alemanha, Heiko Maas, que está em viagem pela América Latina e ainda vai visitar México e Colômbia.

* Com supervisão da subeditora Tharsila Prates