Mães, empreendedoras e profissionais: como conciliar família e carreira?

Mulheres buscam qualidade de vida e do convívio familiar através da profissionalização do empreendedorismo

  • Foto do(a) author(a) Carmen Vasconcelos
  • Carmen Vasconcelos

Publicado em 3 de maio de 2021 às 06:00

- Atualizado há 10 meses

. Crédito: Divulgação

Em 2015, Lorena Monteiro trabalhava numa instituição financeira e certa vez, após um dia extenuante de trabalho, ouviu o filho dizer: “Boa noite, mãe. Como foi seu dia?”. A pergunta simples evidenciou como o estresse, as cobranças e determinações de metas profissionais tinham criando um distanciamento da família e dos filhos. “Chegava sempre reclamando e gritando com eles, exigindo que a casa estivesse arrumada e as tarefas escolares feitas. Aquele questionamento me desarmou (foi um choque!) e me fez enxergar que estava infeliz no trabalho e perdendo minha essência de mãe”, contou. 

Armada de coragem, ela pediu demissão da instituição financeira e decidiu apostar na venda de semi joias, que fazia anteriormente, como uma forma de complementar a renda. “Não tinha nada certo, só queria me sentir leve e voltar a ser feliz! Pedi muito a Deus que me amparasse nas minhas decisões e que por mais momentos difíceis, que não me deixasse entregar...cair em depressão, arrependimento”, relembra.

Seis anos depois do que aconteceu com a empresária e dona da Lore Jóias, conciliar maternidade e vida profissional ainda é um desafio enfrentado por muitas mulheres. Por um lado, as responsabilidades com o lar e a educação dos filhos, de outro, o mundo corporativo que, apesar de tantos avanços femininos, ainda cria barreiras e empecilhos para a ascensão profissional das profissionais, desde os processos seletivos até o desenvolvimento dentro das funções.

Mães profissionais que enxergam oportunidades de negócios dentro do contexto em que vivem não é novidade. Num momento de pandemia, quando o home office ganhou aplicação, elas estão enxergando melhor as oportunidades e encarando de forma mais profissional o empreendedorismo materno.

Resultados efetivos 

De acordo com a gerente de desenvolvimento de Talentos e Diversidade da LHH, Mara Turolla, uma boa maneira de mudar mentalidades nas culturas de empresas que ainda mantém políticas de discriminação com profissionais que são mães, é estabelecer e acompanhar indicadores, além do impacto no resultado do negócio que essas profissionais apresentam. “Ter apoio do topo da organização é fundamental para o sucesso e, para isso, é preciso muitos argumentos de negócios. O momento atual em que a sociedade, acionistas e demais stakeholders estão atentos a comportamentos machistas e preconceituosos, essa é uma ótima oportunidade para essa mudança de mindset”, defende.

Para ela, a cultura de diversidade e inclusão está em processo e precisa ser acelerada para que tenhamos melhores resultados nas organizações e na sociedade. “Muitas organizações já perceberam as vantagens dessas mudanças e conseguem estender o posicionamento, estendendo a licença parental para homens também”, ressalta. 

Mara destaca que a pandemia trouxe desafios extras para as mulheres mas também mostrou que, em muitos casos, é possível trabalhar de casa, com homens e mulheres compartilhamento as atividades da casa, da educação dos filhos e o trabalho. “Esse é o ideal que precisamos perseguir. Tem um fator da cultura da empresa e um fator da cultura da sociedade onde a empresa está inserida. Muitas perguntas não podem mais ser feitas na seleção. Processos de seleção inclusiva não aborda uma série de perguntas que os processos antigos abordavam”, salienta.

Para a especialista em RH é importante atuar junto às lideranças, preparando as mulheres para a volta e atualizando os processos de seleção, desenvolvimento e sucessão. “Trabalhar a liderança inclusiva, apoiar a equidade de oportunidades para as mulheres e também para todos os pilares de diversidade como etnia, faixas etárias, gêneros e outros”, completa. 

Alternativas empreendedoras

A analista Técnica do Sebrae Bahia Mariana Cruz reforça que muitas mães buscam o empreendedorismo como uma alternativa saudável para ter ou complementar a renda familiar, ao tempo em que puderam desenvolver alguma atividade econômica em casa estando mais próximas dos seus filhos. “Durante a pandemia, alguns tipos de negócios tornaram-se mais populares por causa da internet e a própria rotina materna possibilita que as mulheres descubram ou potencializem habilidades inerentes ao seu universo com seus filhos, seja em questões de organização, alimentação, dicas de como fazer tarefas de forma mais eficiente, até mesmo como monetizar as roupas e brinquedos que seus filhos não usam mais por estarem crescendo”, explica.

Antes de iniciar um negócio, no entanto, a representante do Sebrae ressalta que é fundamental que se faça um estudo de mercado, para entender a viabilidade de implantar a ideia, tratando antecipadamente de certas questões que permitem que o risco do investimento seja controlado. “A atuação deve ter um foco claro e bem definido, possibilitando que elas tenham maiores chances de alcançarem resultados positivos. Os métodos mais utilizados atualmente para esta etapa prévia são o Plano de Negócio e o Modelo de Negócio baseado no Canva. Ambos podem ser acessados através dos conteúdos que o Sebrae disponibiliza”, esclarece.

Para começar algo que tenha mais chance de dar certo, Mariana Cruz lembra que é importante ter uma ideia viável, preferencialmente que seja uma oportunidade de mercado e que tenha conexão com o propósito da pessoa. “Um bom caminho para iniciar essa reflexão é começar a verificar quais são as dificuldades, os problemas ou os sonhos de uma pessoa que você pode ajudar de forma prazerosa ela a resolver ao mesmo tempo em que é remunerada por isso. A partir disso, é lembrar que o Sebrae Delas está à disposição das mulheres que decidem ser e se fortalecerem como empreendedoras”, finaliza.

 Direitos assegurados 

Especializado em direito trabalhista, o advogado Breno Novelli lembra que existe o direito, previsto no Ato das Disposições Constitucionais Transitórias (ADCT), da licença-maternidade e da estabilidade gestacional. “Para que esse direito seja resguardado, é importante que as gestantes, assim que tiverem confirmação do estado de gravidez, comuniquem formalmente ao RH das empresas, munindo-se de comprovante de protocolo da notificação, que deve ser acompanhado de exame médico idôneo (ultrassom ou beta hcg)”, explica.  Breno Novelli salienta a importância de conhecer os direito e documentar tudo sobre a maternidade para evitar quaisquer problemas futuros (Foto: Divulgação)  O advogado reforça que a maior recomendação é que as profissionais conheçam seus direitos, consultando um advogado de sua confiança ou, se cabível, a assessoria jurídica de seu sindicato. Novelli ressalta que é assegurado à gestante a estabilidade no emprego, desde a confirmação da gravidez até 05 meses após dar à luz. “Após a licença, ou seja, quando do retorno às atividades, a mulher terá direito a dois intervalos especiais, de meia-hora cada, para amamentação, até que o filho complete 06 meses”, completa. Vale salientar que, caso o estabelecimento empregue mais de 30 mulheres, deverá haver espaço apropriado onde seja permitido às empregadas guardar sob vigilância e assistência os seus filhos no período da amamentação, o que pode ser suprido por convênios com creches públicas ou privadas. 

“Conheçam seus direitos, busquem o diálogo e documentem todas as iniciativas. Consultem um advogado de confiança (ou o jurídico do sindicato ao qual são filiadas) e busquem entender seus direitos (e deveres). Adotem uma postura conciliatória junto ao superior ou o RH, mostrando a situação especial à qual estão vivenciando (gravidez), além dos direitos legais que lhe são conferidos”, coleta as orientações, pontuando a importância de guardar os documentos da cientificação da gravidez, pedido de afastamento, data de início da licença, retorno ao trabalho, dentre outros.