Mais ajuda: voluntários se unem para limpar praias oleadas na Bahia

Cerca de 12 ajudantes tiraram os resíduos da praia de Pedra do Sal, em Itapuã, nesta sexta (18)

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  • Da Redação

Publicado em 18 de outubro de 2019 às 20:50

- Atualizado há um ano

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A poluição e os impactos ambientais causados pelas manchas de óleo que atingem a Bahia sensibilizam os baianos, que já se organizaram para formar mutirões de limpeza nas praias. Até o início da tarde desta sexta-feira (18), foram retiradas 81 toneladas de resíduos da costa.

É no grupo Guardiões do Litoral que a engenheira civil Bárbara Teixeira, 30 anos, se mantém informada sobre as ações de limpeza e das localidades oleadas. Ela é surfista e cancelou vários compromissos durante a semana para ajudar a limpar as praias. Neste sábado (19), os mutirões dos Guardiões do Litoral estão marcados para acontecer nas praias de Stella Maris, Jaguaribe e Ipitanga. A praia de Vilas do Atlântico, em Lauro de Freitas, também terá multirão a partir de 8h. O ponto de encontro é na Escola Ebasurf (Barraca da Gávea).

“Estamos com condições ótimas de surfe, mas não conseguimos surfar. A chegada do óleo me sensibiliza muito, eu amo o mar. Eu vim quase todos os dias em campo e, quando não estava aqui, fiquei na organização”, contou Bárbara, enquanto trabalhava na limpeza da praia de Pedra do Sal, em Itapuã. (Foto: Marina Hortélio/CORREIO) A limpeza das praias e especialmente das pedras é um trabalho braçal. Por esse motivo, os voluntários se preocupam em estar atentos nos novos pontos de contato do óleo. Nos mutirões locais locais, foi estabelecido uma pessoa para observar as praias em cada manhã. Assim, sabe-se onde é preciso de mais trabalho de limpeza. Nesta sexta (18), a prioridade foi a praia da Pedra do Sal. “Ontem [quinta] estava bem pior porque a mancha chegou e aqui foi o local mais comprometido do nosso litoral. Como aqui tem muita pedra, a gente sabia que hoje teria muita coisa porque já ficou muito resíduo de ontem”, disse Bárbara.

O prefeito ACM Neto concorda que mesmo sem novas manchas de óleo, ainda é necessário um grande trabalho de limpeza nos locais afetados.“Se nenhuma incidência nova acontecer, só pelo que está colocado nas praias ainda vamos ter um trabalho bastante longo, especialmente, nessas regiões que tem muitas pedras”, disse o gestor municipal durante inspeção dos trabalhos na praia de Pedra do Sal.Orientações Para se protegerem das substâncias tóxicas do óleo, os voluntários devem usar equipamentos de proteção individual. Entretanto, muitos deles mexem com o resíduo sem qualquer proteção. Bárbara explica que é necessário usar luvas, calças, camisas de manga comprida, galochas e máscaras. Pás e peneiras são recomendadas para ajudar na retirada e separação das manchas das superfícies.“O trabalho da pedras e da areia são diferentes. Em Pedra do Sal, temos muito óleo na pedras e o ideal é raspar e pegar com a mão com uma luva e colocar no balde ou num saco resistente”, disse.Os voluntários se preocupam também com os impactos do desastre na fauna e na flora. O administrador e uma das 12 pessoas que trabalhavam de forma voluntária no local, Miguel Sehbe, 37, conta ter visto animais mortos, crustáceos em decomposição e algas cobertas de óleo durante os trabalhos com o mutirão de limpeza. (Foto: Marina Hortélio/CORREIO) Para quem está ajudando na retirada do resíduo, é necessário descobrir qual é a origem do óleo e cessar de vez o problema. Com a #dequeméoóleo e um perfil no Instagram (@guardioes_do_litoral), os voluntários buscam pressionar o governo por respostas. “A gente precisa preciosas essa investigação para conseguir resolver o problema”, disse Bárbara.

De onde vem o óleo A procedência dos resíduos também intriga quem tem conhecimento no assunto. Tanto a Marinha quanto a empresa internacional Itopf, que presta assessoria técnica no caso, concordam que o incidente no Nordeste é único no mundo por unir as grandes proporções - cerca de 2.500 Km - à origem desconhecida.“A efetividade da resposta depende da concentração do resíduo. A contaminação está muito espalhada e é difícil prover algum tipo de contenção para a contaminação. Isso torna o incidente único e muito desafiador”, disse o assessor técnico do Grupo de Acompanhamento e Avaliação (GAA), Miguel Patel, que trabalha para a Itopf.Segundo ele, a Marinha e o Ibama trabalha por cerca de cinco anos com a Itopf para preparar os órgãos para lidar com derramamentos de óleo. Mesmo assim, as características do incidente não se encaixam no treinamento.

O Contra-Almirante Rodolfo Sabóia, que coordena o GAA, contou que o grupo deve dar apoio às empresas responsáveis pelo derramamento de óleo para conter o incidente. Nesse caso, por ter uma fonte desconhecida, a equipe tem que coordenar e pensar toda a ação como se fosse a responsável pela dispersão dos resíduos.

“Nosso trabalho é articular as ferramentas e instituições envolvidas nas ações de resposta. Assim, condenamos a ação de emprego dos recursos e funcionamos como o facilitador do responsável, que é o poluidor, mas aqui não tem um poluidor”, disse. Sendo assim, o trabalho fica sob a responsabilidade do governo.

*Com orientação da chefe de reportagem Perla Ribeiro