Mais concorrido que Medicina: 1,5 mil brigam por uma das 43 vagas para vereador em SSA

Em Salvador, a concorrência é de 36,98 por vaga após o aumento de 50,5% no número de candidatos comparado à eleição passada

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  • Priscila Natividade

Publicado em 15 de novembro de 2020 às 07:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Arisson Marinho/ Arquivo CORREIO

Está mais fácil conquistar uma vaga no curso de Medicina da Universidade Federal da Bahia (Ufba) do que uma cadeira na Câmara de Vereadores de Salvador nestas eleições. Enquanto o índice para a graduação no 2º semestre desse ano é de 32 pessoas para uma vaga, em Salvador, onde se concentra o maior número de candidatos que concorrem ao pleito, a concorrência é de 36,98.

O índice é 12,42 pessoas a mais por vaga do que o das Eleições Municipais de 2016, quando 1.056 candidatos disputaram 43 posições (24,56 por vaga). Hoje (15), 1.590 candidatos concorrem a uma das mesmas 43 vagas para atuarem na Câmara Municipal da capital baiana — aumento de 50,5% comparado as eleições anteriores. Outros municípios também terão uma competição acirrada. Com base nas Estatísticas Eleitorais do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o CORREIO montou um ranking com o índice de concorrência em 20 dos maiores colégios eleitorais da Bahia (confira abaixo).

Entra as cinco cidades onde a disputa é maior está também Feira de Santana que viu a concorrência aumentar até mais do que em Salvador. Se na eleição passada 413 candidatos tentaram conquistar uma das 21 cadeiras, a concorrência que chegou a 19,57 por vaga pulou para 32,9, ou seja, 13,3 mais pessoas para 691 candidatos no jogo político. Em seguida, vem Lauro de Freitas com 27,19, Itabuna (25,57/vaga) e Camaçari (25,24/vaga). Já a menor concorrência entre as cidades pesquisadas está no muncípio de Guanambi que tem menos de 10 pessoas para uma cadeira (9,87/vaga).

O analista judiciário do Tribunal Regional Eleitoral (TRE-BA) e professor da Ufba, Jaime Barreiros Neto explica o motivo de tantos candidatos a vereadores na corrida eleitoral das Eleições 2020.“A concorrência cresceu bastante. Com o fim das coligações eleitorais, o número de candidatos que cada partido pode lançar aumentou. Antes, você juntava cinco, seis, sete partidos e eles formavam uma coligação e lançava 86 candidatos. Agora, cada partido concorre sozinho e pode lançar 65 candidatos. Essa foi a principal razão para a gente ter mais de 1,5 mil candidatos a vereador em Salvador esse ano”.E o eleitor não pode se admirar se nunca viu ou ouviu falar desse, ou de outro candidato. Neto destaca também que o cenário acabou favorecendo mais um fenômeno político nessas eleições. “O mesmo tempo que esse número cresceu, houve nos últimos anos a redução do tempo de propaganda eleitoral para os candidatos a vereador, o que faz com que a maioria não tenha nem a oportunidade de fazer uma propaganda no rádio ou na televisão. Então, é uma legião de desconhecidos, na verdade, que termina disputando essas eleições”, argumenta.

Para Neto, o grande número e a diversidade de candidatos não significa uma maior democratização das eleições. “A concorrência alta é ruim porque temos candidatos demais e nem todos tem a possibilidade, de fato, de mostrar suas ideias, de se apresentar ao eleitor e a tendência termina sendo a eleição daqueles candidatos mais conhecidos, que já tem um certo reduto eleitoral. Isso interfere realmente na possibilidade de renovação e de um debate mais plural dentro da câmera de vereadores”.

Como um vereador é eleito? Ainda de acordo com as Estatísticas Eleitorais do TSE, a Bahia é o estado da região Nordeste com mais à candidatos vereador. Com 38.839 políticos querendo se eleger para uma das 4.638 cadeiras, a concorrência é de 8,38/ vaga. A diferença no número de candidatos na comparação com Pernambuco — segundo estado com mais interessados no pleito — chega a 96,5% a mais.

No geral, um em cada dez candidatos a vereador na Bahia, são do sexo masculino (66%). A maioria (17,6%) tem idade entre 40 e 44 anos. O Partido Social Democrático (PSD) responde pelo maior volume de candidaturas com 12,07%, seguido do Partido Progressista (PP) com 9,97%, Partido dos Trabalhadores (PT) que tem 9,23% dos candidatos que concorrem, Democratas (DEM) com 6,74% e Partido Comunista do Brasil (PC do B), 5,93% das candidaturas. Quase 90% (89,13%) tentam reeleição.

Jaime Barreiros Neto chama atenção para as diferenças entre se eleger um prefeito e um vereador. Isto porque, se para prefeito ganha o candidato mais votado, no pleito para vereador, a eleição é proporcional, ou seja, tudo vai depender dos votos que o partido vai receber.“Você divide as cadeiras em disputa conforme a votação obtida por cada partido político. Por exemplo, se temos 40 cadeiras em disputa e o partido A consegue 10% dos votos validos, excluídos aí os brancos e nulos, ele vai conseguir eleger, em média, quatro vereadores. Os quatro candidatos mais votados desse partido estarão eleitos”, esclarece.Na hora de votar A lógica é bem diferente, como acrescenta ainda o analista judiciário. “O eleitor, muitas vezes, não sabe disso. Dá aquele famoso voto de protesto ou vota num amigo conhecido, um vizinho e termina com o seu voto ajudando outra pessoa a ganhar. É por isso que você pode ter um candidato de um partido menos votado do que um candidato de outro e esse menos votado ganhar. Ele estará eleito com menos votos do que outro candidato que seja o segundo colocado de outro partido que tenha uma cadeira só”.

Ao vereador cabe elaborar e votar leis que tragam melhorias para o município, além de fiscalizar o trabalho do Poder Executivo e as contas públicas. Ele é o representante do cidadão dentro Câmara Municipal. Segundo o TSE, vereadores de cidades com até 10 mil habitantes ganham o equivalente a 20% do salário de um deputado estadual. O salário máximo corresponde a 75% do de um deputado, em cidades com mais de 500 mil habitantes, como Salvador, onde um vereador ganha R$ 18,7 mil. 

Leia também - O poder do voto: além da obrigação, entenda por que o voto é um direito

“Ao escolher esse candidato, veja se concorda com as ideias do partido porque o seu voto é na legenda. Claro que a história do vereador é importante, trajetória, observando se ele é um bom legislador mas também um bom fiscal, mas o ponto principal diante do sistema proporcional é saber que o voto no vereador não é apenas na pessoa, mas no partido. Valorize muito mais a ideia do voto a partir da ideologia partidária do que, efetivamente, do candidato”, complementa.

CONFIRA O RANKING DE CONCORRÊNCIA POR UMA VAGA PARA VEREADOR NOS 20 MAIORES COLÉGIOS ELEITORAIS DO ESTADO 

1.Salvador Candidatos: 1.590 / 43 vagas - 36,98 

2. Feira de Santana Candidatos: 691 / 21 vagas - 32,9

3. Lauro de Freitas Candidatos: 571 / 21 vagas - 27,19 

4. Itabuna Candidatos: 537 / 21 vagas - 25,57

5. Camaçari Candidatos: 530 / 21 vagas - 25,24

6. Alagoinhas Candidatos: 429 / 17 vagas - 25,24

7. Porto Seguro Candidatos: 405 / 17 vagas - 23,82

8. Ilhéus Candidatos: 466 / 21 vagas - 22,19

9. Valença Candidatos: 343 / 15 vagas - 22

10. Vitória da Conquista Candidatos: 446 / 21 vagas - 21,24

11. Simões Filho Candidatos: 383 / 19 vagas - 20,16

12. Teixeira de Freitas Candidatos: 377 / 19 vagas - 19,84 

13. Juazeiro Candidatos: 409 / 21 vagas - 19,48

14. Paulo Afonso Candidatos: 291 / 15 vagas - 19,4

15. Luís Eduardo Magalhães  Candidatos: 321 / 17 vagas - 18,88

16. Eunapólis Candidatos: 319 / 17 vagas - 18,76 

17. Serrinha Candidatos: 319 / 17 vagas - 18,76

18. Jequié Candidatos: 338 / 19 vagas - 17,79 

19. Candeias Candidatos: 279 / 17 vagas - 16,41

20. Guanambi Candidatos: 148 / 15 vagas - 9,87

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