Mais um ano sem tradição da festa em Itapuã

Lavagem foi suspensa novamente por causa da pandemia da covid-19

Publicado em 18 de fevereiro de 2022 às 06:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: (Foto: Paula Fróes/CORREIO)

Uma tradição de 117 anos deixou de acontecer pelo segundo ano consecutivo: a Lavagem de Itapuã foi suspensa novamente por causa da pandemia da covid-19. Mas, para não passar em branco, algumas tradições foram mantidas. A Baleia Rosa, que existe há 35 anos, foi colocada no mar. A alvorada com queima de fogos de artifícios aconteceu às 4h30 e o tradicional café da manhã na casa de Dona Niçu foi promovido por seus familiares. Foram distribuídos mais de 300 copos de mingau e 165 kits com pães, bolos e frutas. 

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Após a primeira quebra do costume em 2021, esse ano o bairro também estava estranho para quem procurava a tradicional festa. Era um paradeiro só. O trânsito na região não foi fechado, nem houve cortejo ou as celebrações que começavam geralmente às 2h da madrugada, quando os moradores seguiam o Bando Anunciador pelas ruas, convidando toda a comunidade para celebrar.

A lavagem das escadarias da Paróquia Nossa Senhora da Conceição, localizada na Praça Dorival Caymmi, também não aconteceu. A igreja realizou duas missas pequenas, com cerca de 60 minutos de duração - uma pela manhã e outra no início da noite.  (Foto: Paula Fróes/CORREIO) Desde que a mãe morreu, há 17 anos, a filha de dona Niçu, Leonice Gomes, de 63 anos, mantém a tradição de fazer um café da manhã e uma roda de orações no dia da lavagem. Ontem, com 34 anos de existência, a celebração ocorreu de forma reduzida e ela deixou de distribuir as mil quentinhas de sempre. Mesmo assim, Leonice passou a noite acordada mexendo os caldeirões de mingau.

 Às 4h50, ela abriu os portões de casa para receber crianças e adultos que já esperavam do lado de fora fazendo suas orações. “Rezamos em memória de minha mãe e pedimos pela paz em Itapuã, que volte a ser o bairro que era, que seja bom novamente viver aqui”, declarou a pedagoga. Além da comida, Leonice também distribuiu máscaras customizadas com imagens de Nossa Senhora da Conceição. 

A queima de fogos ocorreu em três lugares do bairro: na Praia de Piatã, na praia em frente a Paróquia Nossa Senhora da Conceição e no Abaeté. “A queima pode ser vista em diferentes locais e ser escutada nos bairros vizinho”, disse Leonice. Para ela, a importância dessa celebração é poder “reviver uma tradição que une as pessoas”. 

O servidor público Ricardo Barreto, 42, nativo de Itapuã, começou a participar das celebrações no bairro desde criança. Ele destacou que a região é rica em tradições, sendo imprescindível que os moradores tentem mantê-las vivas: “É isso que nos identifica, eu incentivo esses movimentos e registro através de fotografia”. Segundo ele, esses momentos representam muito mais que “bebedeira e festa profana”. São festividades que estão intrinsecamente ligadas à religiosidade e à tradição do seu povo.

A prefeitura cancelou as festividades em Itapuã para evitar aglomerações e, assim, preservar a vida da população. Com isso, foram proibidas as atividades de comércio informal e ambulante na região. Também foi vetada a montagem e desmontagem de estruturas em vias públicas e qualquer ação que implique em emissão sonora nas ruas. 

* Com orientação da subeditora Fernanda Varela