“Mamaço” no Salvador Shopping estimula quebra de tabu sobre amamentar em público

Apesar dos benefícios e garantia legal, mães ainda se sentem julgadas

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  • Da Redação

Publicado em 8 de agosto de 2022 às 06:00

. Crédito: Paula Fróes

Entre os desafios enfrentados na maternidade, a amamentação é considerado um dos principais. Ainda mais quando a dificuldade do ato em si é somada a julgamentos durante o aleitamento em público. Para promover a conscientização e quebrar tabus sobre o tema, a Assessoria em Amamentação e Assistência Materno Infantil (A Mama) realizou neste domingo (7), no Salvador Shopping, a Hora do Mamaço.

A ação promove amamentação coletiva e diálogos sobre o ato de amamentar em consonância a Semana Mundial do Aleitamento Materno (SMAM). Já é a 11ª edição da iniciativa que, neste ano, retornou à modalidade presencial após dois  encontros virtuais. O evento começou a ser realizado em Salvador, em 2012, motivado por uma mãe que foi impedida de amamentar em público, em São Paulo.

 A enfermeira Camila Freire, 34, é mãe de duas crianças:  Maria Clara, 13 anos, e Maria Helena, de 9 meses. Ela conta que teve problemas para amamentar a primogênita, pois tinha 20 anos e havia pouco estímulo à amamentação. Com isso, a experiência foi comprometida e Maria Clara mamou por apenas três meses. 

Atualmente, com Maria Helena, a vivência tem sido diferente. Hoje, Camila diz que encontra  informações confiáveis à disposição para amamentar a filha mais nova, com quem o aleitamento segue ocorrendo. “É  muito importante porque ainda há muita pressão para ‘largar o peito’ depois de seis meses”, diz. 

Embora a conscientização social tenha crescido ao longo dos anos, Camila lembra de casos recentes em que sofreu olhares de julgamento por amamentar em público: “Já tive situações em outro shopping, onde o público é mais idoso. Amamentar foi bem difícil lá, todo mundo olhava. Percebi olhares de reprovação. Você fica com vergonha, as pessoas olham como se fosse uma coisa sexualizada e não deve ser”. 

O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) assegura à lactante o direito de amamentar em todo e qualquer ambiente, público ou privado. Especialistas na área da saúde também incentivam o aleitamento, independente do espaço, devido aos benefícios promovidos, como a diminuição do risco de alergias, hipertensão, além da proteção contra infecções, o que reduz o índice de mortalidade infantil. 

À frente na organização do “mamaço” em Salvador, a doula e assessora em amamentação Tarsila Leão pontua que a atividade traz benefícios para os bebês, bem como para pessoas que amamentam. No caso das lactantes, há diminuição no risco de câncer de mama conforme tempo de aleitamento, diminuição do risco de hemorragia pós-parto e redução da fertilidade no momento em que há aleitamento ativo.

Já os recém-nascidos ganham proteção através de anticorpos passados no leite materno. Tarsila observa que bebês já ganham certa imunidade para a covid-19, quando as mães estão vacinadas. A recomendação do Ministério da Saúde (MS) é que o aleitamento seja feito até os dois primeiros anos de vida, sendo o alimento exclusivo até os 6 meses.

 Recomenda-se também que a criança seja amamentada sem restrições de horários e de tempo de permanência na mama. Assim como é orientado que água, chás e principalmente outros leites devem ser evitados, pois há evidências de que o seu uso está associado com desmame precoce. O uso de chupeta é desaconselhado. 

Além das benesses do aleitamento, a amamentação carrega dores. A bancária Tina Garcia, 30, é mãe de primeira viagem e diz que teve mastite, infecção no tecido mamário. “O início foi muito difícil. Tive problemas, o seio sangrou. Fiz processo para cicatrização e até hoje estou amamentando. Para mim é um prazer muito grande”, declara. 

 Além dos casos de inflamação dos seios, há quem sinta dor durante o processo de mama. Tarsila Leão afirma, no entanto, que a dor não é sensação comum ao aleitamento e que é preciso buscar profissional para encontrar as causas. *Com orientação da chefe de reportagem Perla Ribeiro