Manchas de óleo voltam a aparecer no Rio Vermelho

Só no bairro, foram retirados 1.290 kg entre a noite de sábado (2) e manhã de domingo (3)

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  • Eduardo Dias

Publicado em 3 de novembro de 2019 às 09:10

- Atualizado há um ano

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O pescador Cláudio Roberto Santos lamenta o 'sumiço' dos peixes por Foto: Eduardo Dias/CORREIO

As manchas de óleo de petróleo cru, que apareceram no litoral nordestino no mês de setembro, voltaram a surgir nas praias de Salvador após 13 dias de pausa. Desta vez, o óleo apareceu com intensidade nas pedras da praia do Rio Vermelho, entre o Teatro Sesi e a Colônia de Pescadores, na noite de sábado (2). As Pelotas já tinham sido vistas desde última sexta-feira (1), nas praias de Stella Maris, Ipitanga e Corsário.

De acordo com a Empresa de Limpeza Urbana de Salvador (Limpurb), cerca de 400 homens estão trabalhando durante este domingo (3) para retirar o óleo das praias de Salvador. Segundo o diretor de operações da Limpurb, Ronaldo Ferreira, somente entre a noite de sábado e a manhã deste domingo, foram retirados cerca de 8 toneladas do óleo cru mas quatro praias atingidas. Apenas na praia do Rio Vermelho, já foram retirados 1.290 quilos.

"Passamos 13 dias sem óleo nas nossas praias, mas de sexta para cá, voltou a aparecer. Ao todo, mais de 100 toneladas desse óleo já foram retiradas das praias. A praia do Rio Vermelho foi a praia que o óleo chegou mais aglomerada dessa vez, pelo fato de se ter muitas pedras. Estamos com 400 homens trabalhando nesse domingo e, se for preciso, colocaremos mais até que esse problema seja resolvido", afirmou.

'O peixe sumiu' Serralheiro durante a semana e pescador há mais de 15 anos, aos sábados e domingos, Cláudio Roberto Santos, 51 anos, disse que, mesmo sabendo das manchas de óleo na praia do Rio Vermelho, onde prefere pescar por ser mais sossegado, vai todo final de semana para passar o tempo. No entanto, ele afirmou que os peixes têm sumido da praia e que não consegue pescar tanto como antes.

"O peixe sumiu um pouco, desapareceram. Eu não pesco sempre, é mais por diversão, gosto. Antes, a gente conseguia pegar um seis ou sete peixes no dia. Agora, pego um ou dois. É difícil essa situação", contou ao CORREIO.

Uma das líderes do grupo de voluntários Guardiões do Litoral, Tatiana Garcez classificou a situação do derramamento de óleo nas praias do Nordeste como caótica. Ela contou que participou da vistoria da praia do Rio Vermelho desde o início da chegada do óleo, no sábado (2), e que conseguiu reunir cerca de 50 voluntários para ajudar os agentes de limpeza. 

"Ontem (2) as manchas estavam com mais de 1 metro de diâmetro, eram manchas muito gtandes. Mas, desde o início os agentes da Limpurb iniciaram a retirada dos resíduos e conseguiram recolher mais de 6 toneladas. Se não fosse eles, a situação estaria bem pior. Nós estamos nos juntando desde cedo para ajudar. Temos uns 50 voluntários aqui hoje e mais gente chegando. Vamos ficar até conseguir tirar o máximo possível desse óleo", afirmou Tatiana, que revelou que os voluntários estão precisando de doações de Equipamentos de Protecao Individual (EPI's) como luvas e máscaras descartáveis e botas.

Visivelmente emocionado, Antônio Alves dos Santos, 72, é pescador da colônia de pesca do Rio Vermelho há 60 anos. Com os olhos cheio de lágrimas ao lembrar dos momentos em que ia no mar e conseguia voltar com, em média, 60 quilos de peixes, ele revelou estar muito triste com a situação. "A situação está péssima, muito triste. O pouco de pescado que a gente pega, para conseguir vender é um sufoco. As pessoas falam que não querem, uns compram e depois desistem. Hoje não consigo pegar nem 5 quilos de peixe em uma ida no mar. Esse óleo nos atrapalhou muito", contou o pescador.

Antônio revelou, ainda, que cerca de 14 pessoas na família dependem diretamente de seus pescados. "Tenho oito filhos e seis netos, todos moram comigo e dependem das minhas vendas de peixes. É uma tristeza grande essa situação. Para minha sorte, não moro mais de aluguel, mas tenho outras contas para pagar, imprevistos", completou.

O superintende do Ibama, Rodrigo Alves, informou que o órgão será representado na reunião com o Ministro da Defesa pelo coordenador Henrique Jabour, que visitará Abrolhos para discutir ações de resposta do acidente com óleo. Alves afirmou que o Ibama mantém contato diário com a prefeitura sobre o aparecimento do óleo nas praias da capital.

"Nós alertamos eles ontem à noite sobre a chegada das primeiras pelotas. A estrutura de Salvador é muito bem montada, com equipes rondando a cidade 24 horas por dia, se revezando e compartilhando informações conosco e nós com eles. Assim que tivemos a informações da chegada do óleo e avisamos a eles, rapidamente eles deram uma pronta resposta. É um trabalho efetivo, que vai continuar sendo feito. O monitoramento incessante nas praias do nordeste e ação de limpeza imediata assim que o óleo se apresenta em nosso litoral", afirmou.

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Abrolhos A maior ilha do Parque Nacional de Abrolhos, onde estão localizados os bancos de corais de maior diverisdade do Atlântico Sul, foi atingida pelas primeiras manchas de óleo, neste sábado (2). Os vestígios de petróleo cru foram encontrandos na superíficie da água e na areia, do tamanho aproximado de uma moeda, na Ilha de Santa Bárbara. 

As primeiras ações de remoção do óleo foram iniciadas ainda na manhã de sábado, organizadas por equipes do Rádio Farol, nome da patrulha da Marinha. Antes, na tarde de sexta (1º), as manchas já haviam sido encontradas na Ponta da Baleia, em Caravelas, de onde partem embarcações para o Parque Nacional Marinho de Abrolhos. A Marinha não tem estimativa da quantidade de petróleo recolhida da praia. 

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