Manicure é morta a tiros dentro de casa; filho de 9 anos foi baleado

Vítimas dormiam quando atiradores chegaram; crime aconteceu em Alto de Coutos

Publicado em 20 de agosto de 2019 às 11:39

- Atualizado há um ano

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Os primeiros disparos ecoaram por volta de uma hora da manhã, nesta terça-feira (20). Pareciam tão distantes, que a autônoma Thaís de Jesus, 29 anos, não considerou que os estampidos denunciava um crime na casa ao lado, na Travessa Sudão, no bairro de Alto de Coutos, Subúrbio Ferroviário de Salvador.

A porta do barraco, pequeno e de pintura ainda mal acabada, foi derrubada por quatro homens que chegaram a bordo de duas motos. Eles dispararam várias vezes contra a irmã e o sobrinho de Thaís. 

As vítimas, a manicure Ana Paula de Jesus Nascimento, 31, e o filho, uma criança de 9 anos, dormiam quando foram atacadas pelos bandidos que, antes de apertar o gatilho, sequer anunciaram o porquê da violência. O menino sobreviveu e vai poder contar os últimos momentos da mãe, que, baleada em várias partes do corpo, morreu minutos depois de dar entrada no Hospital do Subúrbio.  

Ferido no peito e ombro, a criança foi levada pela família para a mesma unidade de saúde, onde aguarda a avaliação dos médicos quanto à possibilidade de retirada das balas. Consciente, disse aos familiares, que apenas fechou os olhos quando viu “a porta cair”. “Juro que pensei que os tiros vinham de longe. Mas aí ouvi os gritos de minha mãe, que mora em frente a ela. Quando abri a porta, ela já estava do lado de fora, mas sem coragem de descer. Me disse: ‘minha filha mataram sua irmã’”, contou ao CORREIO, ao resumir o desespero da matriarca da família, uma dona de casa de 51 anos.‘Choque’ Na manhã desta terça-feira, quando esteve no local, a reportagem encontrou a irmã e outros vizinhos em frente à casa da família de Ana, conhecida por todos como Beca. Por unanimidade, resumiram o crime como algo “chocante e sem explicação”.

Thaís relatou que logo que teve a iniciativa de descer o barranco de acesso à casa da irmã, o sobrinho surgiu ensanguentado, assustado, pedindo socorro. Havia acabado de presenciar a morte da mãe, com quem morava sozinho, desde a separação dos pais, há pelo menos cinco anos.

“Socorri ele com a ajuda dos vizinhos, mas minha irmã, as pessoas olhavam e falavam que já estava morta, pela quantidade de ferimentos. Ela não se mexia”, recordou. Ana, no entanto, resistiu por pouco mais de trinta minutos, o tempo de ser levada por policiais militares até o hospital.

Em nota, a Polícia Militar informou que uma equipe foi deslocada até o local pela 18ª Companhia Independente da Polícia Militar (CIPM/Periperi), após chamado por meio de 190. 

“No local, após constatar o fato, a guarnição socorreu a mulher para o Hospital do Subúrbio, onde a equipe médica da unidade constatou o óbito. A criança foi socorrida por populares também para a mesma unidade hospitalar”. 

Procurada, a Polícia Civil disse que a Delegacia de Homicídios Bahia de Todos os Santos (DH/BTS), do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), está à frente das investigações.

Já o atentado contra o garoto, acrescentou a pasta, foi registrado em uma ocorrência à parte, já encaminhada à Delegacia de Repressão ao Crime Contra a Criança e o Adolescente (Dercca).'Sem sentido' A equipe médica constatou a morte de Ana por volta de 2h. Já a criança, segundo o boletim de ocorrência registrado no hospital, foi atingida por um tiro no braço. "O ferimento dele nem chegou a sangrar tanto, mas hoje cedo a médica examinou e me disse que havia uma bala alojada na região do peito. Ele sente dores, mas não fala mais nada sobre o crime, está em choque", lamentou a tia, ao confirmar que o sobrinho já foi informado da morte da mãe. Natural de Sapeaçu, no Recôncavo, Ana Paula era mãe de dois meninos e, de acordo com a família, atualmente não tinha um relacionamento sério. Além da criança que dormia ao seu lado no momento do crime, tinha ainda o mais velho, um adolescente de 14 anos, que foi morar com o pai após o divórcio, há cerca de dez anos. Ele também já foi informado sobre o assassinato.Para quem convivia com a manicure, seja lá qual for a possibilidade da motivação do crime, disparar tantas vezes contra "uma criança e uma mulher que não fazia mal a ninguém não faz sentido". É o que defende uma vizinha de Ana, que se identificou apenas como amiga da vítima."Era tão alegre, passava sorrindo, sempre brincando, feliz. Não tem quem diga alguma coisa de ruim contra ela e, ainda que houvesse, o que justifica um crime como esse? Quase mataram uma criança. É muito triste", se limitou a dizer.Uma outra conhecida da família, que preferiu não se identificar, contou que costumava ver a vítima pelo menos duas vezes por dia, em geral, acompanhado do filho caçula. "Passava pela frente com o menino, levava todos os dias pra escola. Uma pessoa muito do bem, que nunca soube de nada de errado, sinceramente", defendeu.

A família não arrisca apontar os responsáveis pelo assassinato da manicure. Por ora, Thaís divide os esforços entre informar sobre a morte da irmã aos mais próximos, e resolver os trâmites para a liberação do corpo e enterro - marcado para tarde desta terça, no Cemitério Vale da Saudade, em Candeias, na Região Metropolitana.

Ao comentar com amigos, por telefone, o pouco que sabia sobre a morte da irmã, Thaís recordou outra perda recente: a do irmão, o único homem entre três mulheres, assassinado há seis meses, no mesmo bairro. Esse, no entanto, em circunstâncias esclarecidas, de acordo com ela: "Estava roubando, segundo a PM. Eles disseram que ele fazia essas coisas, eu nunca vi. Mas e minha irmã? Ela não fez nada para merecer isso", disse, parada em frente ao local do crime.