Mar da Barra ao Rio Vermelho pode ficar com resquícios de esgoto por até sete dias

Condição da maré é o que vai determinar o tempo exato para a limpeza

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  • Gil Santos

Publicado em 11 de agosto de 2021 às 05:15

- Atualizado há um ano

. Crédito: Arisson Marinho/CORREIO

O esgoto que foi lançado ao mar no Rio Vermelho durante a obra de manutenção na Estação de Condicionamento Prévio (ECP) do Lucaia, nesta terça-feira (10), pode levar até sete dias para ser totalmente dissipado - o impacto dessa poluição chega até a praia da Barra. O dado é uma estimativa de especialistas, mas depende do movimento das marés. O Instituto do Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Inema) fará testes para verificar a qualidade da água no trecho entre Buracão e Barra.

À tarde, banhistas aproveitaram o dia de sol e se aglomeraram no Farol da Barra, ignorando os riscos da pandemia e que alguns quilômetros adiante uma quantidade considerável de esgoto tinha sido lançada ao mar. A Empresa Baiana de Águas e Saneamento (Embasa) avisou, na semana passada, que faria uma manutenção na rede e que durante o serviço os efluentes teriam que ser descartados no rio que desagua na praia.

O serviço durou 9h e foi encerrado por volta das 5h30. A água escura e de forte cheiro dominou a paisagem ao lado do Antigo Mercado do Peixe nas primeiras horas após a manutenção e moradores reclamaram do odor. A Embasa explicou que o esgoto foi tratado antes de ser liberado e que vai monitorar a região. A orientação é para que os banhistas evitem entrar na água nas 48h após o serviço e aguarde as orientações do Inema.

Pesquisadores afirmam que a limpeza da praia vai depender da quantidade de efluentes liberados e da intensidade das marés, mas não acreditam que em dois dias o ambiente estará inteiramente limpo. O professor de oceanografia biológica da Universidade Federal da Bahia (Ufba), Igor Cruz, contou que como os resíduos foram lançados em uma área de mar aberto os impactos serão menores que em águas abrigadas, mas que ainda assim serão sentidos durante alguns dias.

“O esgoto aumenta a quantidade de bactérias no mar, e para consumir a matéria orgânica elas vão usar o oxigênio da água. Então, dependendo da quantidade que foi descartada pode haver uma situação anóxia o que levaria a mortandade de alguns organismos. Como esse não é um problema crônico, foi uma questão pontual, então, em até uma semana a situação deve estar normalizada. O impacto é grande, mas passageiro”, disse.

A Embasa afirma que o efluente liberado recebeu biorremediador, responsável por degradar a matéria orgânica e evitar o consumo de oxigênio do oceano. A estação que passou pelas intervenções é uma das maiores de Norte e Nordeste e responsável por retirar sólidos grossos e partículas finas de cerca de 73% do esgoto de Salvador, que é despejado a 3 km da costa, através de uma tubulação subaquática e em uma profundidade de 27 metros.

O esgoto também é liberado de forma dissipada, por várias esferas, para minimizar a degradação ambiental. O que mudou foi que, durante as 9h da obra, a sujeira foi liberada muito próximo da praia e por isso o banho de mar deve ser evitado nesse trecho nos próximos dias.

O doutor em estudos sobre Meio Ambiente e professor da UniFTC, Anderson Alves, orienta a população a redobrar os cuidados. Ele contou que mesmo quando a água parece limpa a olho nu isso não significa que o ambiente esteja seguro para banho.

“A formação da pluma (cor escura) é um processo de mistura química e fica evidente porque a densidade entre o esgoto tratado e a água do mar é diferente. Os efluentes são mais leves e por isso ficam em cima. Mas à medida que as substâncias se misturam com a água acontece a autodepuração, a dissolução desse material. Isso vai levar alguns dias, e somente com testes é possível dizer quando a água estará própria para banho”, contou.

Manutenção

O serviço realizado não é comum, mas foi necessário. O superintendente de Esgotamento Sanitário da Embasa, Flávio Lordello, contou que a estação foi paralisada para reparar um vazamento identificado em uma das estruturas de bombeamento. Eles aproveitaram a parada obrigatória para trocar alguns equipamentos que estavam obsoletos.

“Existem dois tipos de manutenção, a preventiva, que fazemos sempre, e a corretiva, que foi esse caso. Tivemos que parar a operação, o que não é bom para ninguém, nem para a gente, mas não tivemos escolha. Precisávamos entrar na tubulação para fazer os reparos e não é possível fazer isso com a estação em funcionamento”, explicou.

O local recebe 8 metros cúbicos de esgoto por segundo e opera com 100% da capacidade durante o dia. “A escolha de fazer o serviço a noite foi uma estratégia porque nesse horário ela opera com apenas um terço da capacidade, e é preciso deixar claro que o esgoto despejado não estava cru. Ele foi tratado para minimizar os impactos”, disse.

Ele contou que a Embasa conversou com as associações de moradores, com as colônias de pescadores e fez panfletagem nos estabelecimentos comerciais entre o Rio Vermelho e a Barra para alertar sobre o serviço na rede e a necessidade de evitar o contato com o mar nos próximos dias. Eles garantem que seguiram as orientações dos órgãos competentes.

Procurado, o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) informou que o caso desta terça-feira (10) seria acompanhado pelo Inema.

Já o Instituto do Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Inema), que fez recomendações para a Embasa nos dias 26 de julho e 6 de agosto, afirmou que vai aguardar os resultados dos testes para se pronunciar.