Marcas baianas celebram Consciência Negra com desfile em evento realizado pelo CORREIO; veja tudo o que rolou no Afro Fashion Day Salvador

A passarela do AFDS contou com 26 marcas de roupas e acessórios, como turbantes e bijuterias, que levaram à passarela looks atuais

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  • Daniel Silveira

Publicado em 22 de novembro de 2015 às 06:17

- Atualizado há um ano

. Crédito: JARDIM 634/DIVULGAÇÃO

O dia 20 de novembro de 2015 vai ficar marcado na história do mercado de moda de Salvador como o dia em que a cidade celebrou a beleza negra com muito estilo. Na última sexta-feira, em comemoração ao Dia da Consciência Negra, 45 modelos desfilaram marcas baianas na primeira edição do Afro Fashion Day Salvador (AFDS), que também  levou para a praça da Cruz Caída (Centro Histórico) oficinas de maquiagem e de turbantes, mostrando a força e a beleza do povo negro. 2,5 mil pessoas participaram do evento na Praça da Cruz Caída (Foto: Jardim 634/Divulgação) Para o prefeito ACM Neto, o AFDS consolidou a influência da cultura afro na cidade. “Salvador demonstra com o evento o orgulho de ser afrodescendente, ressaltando nossas origens, cores e sabores por meio da produção de moda e da gastronomia”, lembra. A secretária-executiva da Secretaria de Promoção da Igualdade Racial (Sepromi), Adile Reis, ressaltou a relevância do evento. “É uma oportunidade importante para os negros, principalmente as mulheres, entenderem que elas podem ocupar todos os espaços sociais”.

O evento contou com 26 marcas de roupas e acessórios como turbantes e bijuterias, que levaram à passarela looks atuais. Além de 36 modelos, seis convidados deram mais brilho à noite de festa. Os artistas Denny, Magary Lord, Ninha, Tony Salles e Lincoln Sena e o agitador cultural Uran Rodrigues dividiram a passarela com modelos baianos.

O desfile serviu também para algumas grifes apresentarem novas coleções como foi o caso de Jeferson Ribeiro, Dresscoração e Meninos Rei. Outras fizeram peças exclusivas para o desfile, como Vinícius Cerqueira, Outerelas e Katuka. 

A decoração do local ficou por conta do escritório de arquitetura GMF Arquitetos e foi assinado por Giuseppe Mazzoni. “Pensamos em aproveitar a beleza do local, que tem uma riqueza arquitetônica e unir o rústico da madeira no cenário com o granito da praça”, diz. O Afro Fashion Day Salvador é uma realização do CORREIO com apoio institucional da prefeitura de Salvador, do governo do estado, através da Secretaria de Promoção da Igualdade Racial (Sepromi), do Senac-BA e do Hapvida. DESFILE Dividido em cinco blocos, o desfile reuniu com equilíbrio moda conceitual e  urbana. Logo após o pôr do sol, as cores quentes ainda dominaram a praça com o primeiro bloco do desfile, chamado Sunset, que levou looks em tons de vermelho, amarelo e laranja e foi seguido pelo bloco Étnico, mais gráfico, com estampas que remetiam à cultura africana e uso de turbantes feitos com amarração. P&B levou tendência das passarelas do mundo inteiro também para a Cruz Caída, com visuais misturando preto e branco, seguido de muitas cores no bloco Black Power, inspirado no movimento dos anos 1970. O desfile foi fechado com looks com roupas brancas, lembrando a religiosidade da cultura de matriz africana.  O responsável por unir as peças das 26 marcas foi o produtor Fagner Bispo.

BELEZA

A beleza do desfile-show do Afro Fashion Day Salvador foi brifada por Fagner Bispo, produtor de moda do evento, e executada por Dino Neto, que comandou um time de profissionais de maquiagem e cabelo formado por Mario Moraes, Luiz Santana, Val O’hara, Yan Striker, Romario Aragão, Joabe Moraes Neto, Eliana Pimentel, Rose de Brito e Marcos Junquilho. Os cinco blocos do desfile coletivo foram temáticos e para cada um deles foi criada uma beleza diferente. Para o primeiro, Sunset, a inspiração foram as cores do pôr do sol. As modelos surgiram na passarela montada na praça da Cruz Caída com sombra em tons laranja e amarelo flúor, blush terracota e batom coral. O segundo bloco, Étnico, teve beleza inspirada em pinturas de tribos africanas. “Usamos uma sobra ouro com pontos brancos ao redor do rosto e finalizamos com batom bronze”, explica Dino. Na cabeça, as modelos usaram tecidos amarrados por Cristiele França, da Ori Turbantes. Os anos 70 deram o tom do terceiro bloco. “Criamos uma beleza com olhos e bocas bem coloridos e cabelo decorados com flores e pentes de garfo, que são símbolos da cultura flower power e black power, respectivamente”, explica Fagner. Um dos destaques do desfile foi o bloco final, todo branco, que trouxe as modelos com tranças. “Usamos uma sombra prata muito intensa para que a cor ficasse com tom de aço inox, e batons cobre claro”, revela Dino.

FEIRA Uma feira com 17 das 26 marcas que desfilaram no Afro Fashion Day Salvador ocupou o espaço da Praça da Cruz Caída antes mesmo dos modelos pisarem na passarela. Estandes expuseram e venderam peças de roupas, calçados e acessórios como bijuterias e turbantes. O estilista Jeferson Ribeiro aproveitou o momento para lançar uma nova marca de sunga: a Mar. “A inspiração surgiu da necessidade de atender ao homem contemporâneo, que não tem vergonha de mostrar o corpo”, explicou.

Já a Outerelas apresentou uma coleção exclusiva para o desfile. A marca de acessórios levou peças com inspiração étnica, com elementos como búzios, dentes e contas africanas. Vinicius Cerqueira também resolveu apresentar peças exclusivas e levou para a feira uma série abusando de texturas, estampas e colorido.

Quem também esteve no local vendendo camisetas do projeto Eu sou Negão foi o Instituto ComVida, ONG que trabalha com formação de inclusão de adolescentes e jovens entre 25 e 24 anos, moradores de Camaçari, da região de Catu de Abrantes. A entidade atende cerca de 80 meninos e meninas que participam de cursos e oficinas. EMPREENDORISMO Uma das marcas do Afro Fashion Day Salvador foi a valorização da produção baiana. Para Jeferson Ribeiro, um desfile apenas com marcas regionais revela a força do setor na Bahia. “Isso é importante em um mercado que é cada vez mais dominado por grandes marcas globais”, comentou. Carol Barreto também defende que a quantidade de empresas locais prova que o mercado existe e é forte. “São marcas que conseguem manter um negócio aberto dentro de uma desestruturação da cadeia de vestuário local e isso prova como eles são vencedores”. VISIBILIDADE Muitas das marcas locais que participaram desfile  levam raízes africanas do povo baiano em sua identidade. Para Renato Carneiro, designer da Katuka, a realização de um evento como esse tem grande importância para a moda que se faz na Bahia, com destaque para as peças feitas com inspiração na cultura afro. “Com um evento desse, a gente consegue trazer informação e promove contato com outro conceito estético, que muitos consideram até folclórico”, explica. Em consonância, Carol Barreto comemorou o desfile e enfatizou a necessidade de assumir a ancestralidade. “Assumir-se afrorreferenciado é essencial para a gente”, ressalta a estilista que se prepara para desfilar uma nova coleção na Black Fashion Week Paris, no dia 10 de dezembro, única brasileira a participar do desfile. A mesma ideia também é defendida por Jeferson Ribeiro, que entende o evento como uma oportunidade de aumentar a visibilidade, tanto para os produtores quanto para os modelos. “Com o Afro Fashion Day, a gente assume que nossa cidade tem uma beleza negra que pode ser exportada”, conclui. ARTE O Afro Fashion Day deu lugar também à produção artística local, a começar pela discotecagem do DJ Mauro Telefunksoul. O músico, que tem cerca de 15 anos de experiência em desfiles, apresentou mixagens do seu recente trabalho, um movimento musical intitulado Bahia Bass Music, que mistura batidas eletrônicas com ritmos baianos como pagode, axé, ijexá e arrocha. Na abertura e nos intervalos entre os blocos do desfile, três integrantes do Balé Folclórico da Bahia se apresentaram.

No entanto, a arte não ficou restrita à passarela, já que logo na chegada, o público foi recepcionado com uma obra da artista plástica Adenilse Romana, que construiu um painel com inspiração em pop art, usando fotografias de Alex Dantas, da Diferente Agência de Imagens. Os registros  foram feitos pelo fotógrafo em um editorial de preparação para o evento. A artista visual Helen Mozão também levou tintas para o desfile, mas não para pintar telas. Helen pintou o rosto de participantes do AFDS com desenhos inspirados em  tribos africanas. GASTRONOMIA Roupas e acessórios não foram os únicos itens à venda no Afro Fashion Day Salvador. Quem passou pela Praça da Cruz Caída também pôde experimentar a riqueza da culinária baiana. O restaurante Dona Mariquita levou o projeto Merenda de Tabuleiro e vendeu  lelê de milho, bolinho de estudante, acaçá de leite e bolos. “São comidas que foram sendo esquecidas pelas pessoas e eu faço uma pesquisa para resgatar esses sabores e trazer novamente”, conta Leila Carreiro, chef do restaurante. Quem também participou da feira gastronômica foi o Abará do Original, que levou à praça, os quitutes temperados com sabores diversos.

OFICINAS Durante a tarde, as mulheres receberam dicas de beleza em três oficinas. Duas delas mostraram truques de maquiagem para pele negra e foi ministrada pela esteticista Regiane Ferreira, professora do Senac. “A pele negra tem uma atenção especial porque geralmente é mais oleosa, então”, explica. Regiane também ensinou a fazer maquiagem para o dia a dia e para a noite. Em outro momento, a designer de moda Cecilia Cadille mostrou como amarrar turbantes e contou um pouco da história do acessório, usado também como peça de afirmação pela população negra.demonstra com o evento o orgulho de ser afrodescendente, ressaltando nossas origensACMNetoprefeito de Salvador