Marcelo Jeneci mescla urbanidade pop e nordestinidade no seu melhor álbum

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  • Hagamenon Brito

Publicado em 29 de julho de 2019 às 06:00

- Atualizado há um ano

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Quando gravou seu primeiro álbum, Feito Pra Acabar (2010), o compositor e multi-instrumentista paulista Marcelo Jeneci já era um músico talentoso e havia tocado nas bandas de Chico César, Arnaldo Antunes e Vanessa da Mata. O cantor, compositor e multi-instrumentista paulista Marcelo Jeneci, 37 anos, lança o seu terceiro álbum, Guaia (Foto/Marina Benzaquem/Div.) Mas, estreando como frontman, ele não escondia a timidez na condição de cantor. Os shows e o segundo e igualmente bom álbum, De Graça (2013), aprimoraram o cantor que, simultaneamente ao crescimento artístico, vivia transformações pessoais.

Seis anos depois, Jeneci renova a sonoridade, equilibra melhor as suas referências musicais e existenciais e, mais maduro na vida pessoal, brilha muito no seu excelente terceiro disco, Guaia (Slap). O nome do trabalho homenageia Guaianases, bairro onde ele nasceu e foi criado na periférica zona leste de São Paulo.

"As pessoas falavam que era muito tempo entre um disco e outro, mas eu não estava preocupado com o mercado, com isso. Precisava de um tempo para realizar a passagem entre o velho e o novo, o menino e o homem, e toda a precocidade de ter começado a tocar ainda na infância", afirma o artista de 37 anos. Puxado pelo ensolarado, pop e  reggaeado single Aí Sim (dos reveladores versos: "Eu já sei/ Sou livre pra me prender/E aprender a ter alegria", e com sons de crianças brincando com água), Guaia mescla referências da rua onde Jeneci cresceu com ecos nordestinos de sua  família (Oxente é um delicioso xote-baião feito em parceria com Chico César) e a urbanidade de São Paulo.

"É o meu disco mais autobiográfico, aquele em que, pela primeira vez, sintetizo os arquétipos que me formaram", explica o cantor que atualmente mora em uma casa ampla no meio da Floresta da Tijuca, no Rio, com a sua amada e multifacetada artista Mana Bernardes. 

A vivência mais isolada na floresta e o contato direto com a natureza também foram importante para o amadurecimento de Jeneci, cada vez mais fascinado pela possibilidade que o desconhecido oferece na hora da criação e que diz de forma sincera: "Música para mim é abrigo".

Redenção - A nova estética sônica de Jeneci é mais rica e mais original do que a mostrada nos álbuns anteriores. Nessa busca, ele contou com as importantes colaborações do músico e produtor Pedro Bernardes, irmão de Mana e ex-marido de Marisa Monte; do produtor e programador Lux Ferreira (Mahmundi, Duda Beat); e de Mario Caldato (Beastie Boys, Jack Johnson), que fez a mixagem em Los Angeles.

"A força sonora de Guaia vem da regência do Pedro. Ele me fez ir a fundo na busca pelo desconhecido, a levar a feitura de uma canção às últimas consequências", afirma. 

Em um álbum que abre com o canto indígena da cantora Ikashawhu na faixa Emergencial e termina com a sensorial Ritos, que não tem letra, duas músicas são talvez as mais autobiográficas da carreira de Jeneci:  Redenção e Saudade do Meu Pai.

Com um belo arranjo que reúne canto gregoriano, bateria de frevo e violão western, Redenção fala da formação espiritual e dilemas de quem acompanhava a mãe, Glória Cristina, nos cultos evangélicos até os 17 anos, e tocava na igreja antes de ir para o mundo.Salvador concilia de modo especial "o sagrado e o tesudo. A Bahia sempre me faz bem quando vou aí. Às vezes, ela me dá algo que eu nem sabia que estava precisando", afirma Jeneci.Com um quê do velho e bom Rei Roberto Carlos, a bonita balada Saudade do Meu Pai é uma ode à memoria familiar e ao pai de cantor, Manoel Jeneci, que consertava equipamentos eletrônicos e instrumentos musicais. Ele tornou-se famoso entre os sanfoneiros do país por criar um sistema de captação de som para o acordeom. Aliás, o instrumento que botou Marcelo Jeneci na estrada pela primeira vez, em 2000, acompanhando Chico César em uma série de apresentações pela Europa.

A turnê de lançamento de Guaia começa com shows em Belo Horizonte, no Sesc Palladium, sexta-feira (2/8); e em São Paulo, no Sesc Pompeia, sábado (3) e domingo (4). E, por favor, que a turnê venha logo a Salvador, cidade que concilia de modo especial "o sagrado e o tesudo", na opinião de Jeneci. "A Bahia sempre me faz bem quando vou aí. Às vezes, ela me dá algo que eu nem sabia que estava precisando", conta. 

Veja o videoclipe de Aí Sim

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OBRA-PRIMA DE CORTÁZAR, 'O JOGO DA AMARELINHA' GANHA NOVA E BELA EDIÇÃO  O genial escritor argentino Julio Cortázar (1914-1984)/Foto/Divulgação Principal livro do argentino Julio Cortázar (1914-1984) e um dos mais importantes do chamado boom latino-americano, O Jogo da Amarelinha (1963) ganha uma bonita nova edição brasileira pela Cia das Letras, com tradução de Eric Nepomuceno, projeto gráfico de Richard McGuire e textos de Haroldo de Campos, Mario Vargas Llosa, Julio Ortega e Davi Arrigucci Jr (592 páginas | R$ 109,90/papel | R$ 44,90/e-book).

O relato de amor entre um intelectual argentino no exílio, Horacio Oliveira, e uma misteriosa uruguaia, a Maga, ao acaso das ruas e das noites de Paris, é um marco da literatura do século 20. Se lido linearmente do capítulo 1 ao 56, trata-se de uma história. Seguido de acordo com a leitura que Julio Cortázar propõe, salteada a partir do capítulo 73, é outra história. "O Jogo da Amarelinha é uma construção literária e, a uma só vez, um projeto paradoxal de destruição da literatura", diz Arrigucci. "Estamos diante de um romancista realmente criador, o único da América Latina de hoje que se pode ombrear com o nosso Guimarães Rosa", afirmou Haroldo de Campos (1929-2003).