Mario Vargas Llosa fala sobre abuso sexual que sofreu, quando criança, por um padre

“Me distanciei por completo da religião”, disse o escritor

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  • Da Redação

Publicado em 10 de setembro de 2021 às 23:25

- Atualizado há um ano

. Crédito: Pontificia Universidad Católica de Chile from Santiago, Chile, via Wikimedia Commons

O vencedor do Prêmio Nobel de Literatura Mario Vargas Llosa revelou detalhes sobre o caso de padre que tentou abusá-lo sexualmente quando tinha 12 anos.

"Quando senti suas mãos vasculhando minha braguilha, fiquei muito nervoso, saí da sala e ele também foi atacado com o mesmo nervosismo", disse o escritor peruano, em entrevista ao jornal "El País".

Vargas Llosa já havia comentado sobre o epi´sodo em outras ocasiões: em seu livro "Peixe na Agua - Memorias", de 1993, e durante a última Feira Virtual do Livro de Cajamarca, realizada há poucos dias.

"Aconteceu quando eu estava no sexto ano. No ano seguinte, o padre ficou muito envergonhado, não se atreveu a me cumprimentar nos recreios, quando eu nem estava mais na sua classe. A única consequência dessa história foi que eu, que tinha sido muito católico, comecei a perceber que não acreditava mais”, contou.

Segundo ele, o caso poderia ter sido bem pior, já que foi capaz de sair do quarto quando percebeu o que ia acontecer. Mas afirma que sabe que, para outras pessoas, foram criados traumas permanentes.   "A religião se tornou um tipo de coisa puramente formal, e eu tinha sido muito crente. Mas me distanciei com isso, a religião deixou de ser um problema para mim, ao contrário de alguns colegas que eram muito obcecados com a questão religiosa. A verdade é que, no meu caso, foi um pequeno incidente", disse o autor. "Todas as precauções que se tomam são necessárias. Muitos desses meninos sofrem geralmente um trauma que dura toda sua vida e ficam muito afetados. Me afastei da religião, mas meninos do bairro nunca se recuperaram."   Ele ainda cobra um posicionamento das instituições religiosas. ‘A Igreja deveria tomar uma atitude mais enérgica, sim. Agora a Igreja tem consciência, antes mesmo de tentar esconder essas coisas. Agora ela os assume e tem muita vergonha. Como deveria ser”, concluiu.