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Da Redação
Publicado em 20 de dezembro de 2021 às 16:00
- Atualizado há 2 anos
Conteúdo analisado: Post no Twitter de mulher que se identifica como jornalista levanta a dúvida: “Rio e São Paulo com epidemia de Influenza. As máscaras servem para quê?”. O Comprova preparou conteúdo explicativo sobre a eficácia dos equipamentos de biossegurança, já que a publicação teve 7,2 mil interações. A epidemia da cepa H3N2, da Influenza A, tem gerado comentários que questionam a utilidade de vacinas e métodos preventivos, capazes de combater vírus como o da covid-19 e o do próprio Influenza, conhecido por ser uma gripe sazonal.>
Exemplo disso é uma publicação no Twitter que questiona a serventia das máscaras de proteção usadas contra o novo coronavírus se o Rio de Janeiro e São Paulo estão com epidemia de influenza, vírus causador da gripe.>
Diante dos questionamentos, o Comprova decidiu explicar por quais razões as máscaras seguem como eficazes no combate de ambos os vírus que se enquadram como epidemias no país.>
Epidemia da influenza está ligada às flexibilizações e falta de vacinação O aumento de casos está realmente acontecendo – e se espalhou para outros locais, como o estado do Espírito Santo e as cidades de Salvador, na Bahia, e Porto Velho, em Rondônia –, mas esse cenário não invalida a importância das máscaras, segundo especialistas.>
Como o vacinologista e professor da Universidade Federal de Pelotas (UFPel) Odir Dellagostin explicou ao Comprova, a vacina contra a gripe oferecida neste ano “tem uma baixa proteção contra a Darwin, cepa do vírus influenza A H3N2, que está provocando o surto”. E, para piorar o cenário, diz ele, o uso de máscaras está diminuindo. “As pessoas estão voltando a se aglomerar, a se abraçar, a tomar cafezinho juntas, sem máscara, o que reduz a efetividade dela.”>
Ainda de acordo com ele, “a solução é recomendar fortemente a continuidade do uso correto da máscara, o distanciamento e o uso de álcool em gel”.>
O mesmo disse à Folha Geraldo Barbosa, presidente da Associação Brasileira das Clínicas de Vacinas (ABCVAC): “Agora, (para nos proteger,) são as medidas preventivas, como uso de máscaras, higienização das mãos e evitar aglomerações”.>
Epidemia No dia 9 de dezembro, quando o post verificado aqui foi publicado, a Secretaria de Saúde do Rio de Janeiro confirmou em redes sociais que a capital vive uma epidemia de influenza. “Será que estamos enfrentando uma epidemia de influenza? A epidemia está localizada no município do Rio e já há aumento do número de casos em outros municípios da região metropolitana”, escreveu o órgão no Twitter.>
Em nota publicada no UOL, a secretaria afirmou: “Esse crescimento repentino, verificado a partir de 22 de novembro, quando foram registrados 505 atendimentos, atingiu quase 6 mil atendimentos no último dia 6. Trata-se do maior número de atendimentos por uma única doença realizados nas UPAs estaduais em um único dia desde o início da pandemia”.>
Na capital fluminense, a prefeitura está instalando cinco centros de atendimento e testagem de pessoas com síndrome gripal “para reforçar a assistência à população durante o surto de influenza”. A estratégia é semelhante à adotada em 2009, durante o surto de H1N1.>
Em São Paulo, segundo e-mail da Secretaria Municipal de Saúde enviado ao Comprova, “houve um aumento significativo de pessoas com síndrome gripal” na última semana. O órgão informou ainda que, em novembro, houve 111.949 atendimentos de pessoas com sintomas gripais, sendo 56.220 suspeitos de covid-19 e, agora na primeira quinzena de dezembro, já foram 91.882 atendimentos com quadro respiratório (45.325 suspeitos de covid-19).>
Em 15 de dezembro, o surto da doença já atingia outros locais, como Espírito Santo e as cidades de Salvador e Porto Velho. Só na capital baiana, de acordo com a Folha, a Secretaria Municipal de Saúde “registrou 109 casos da doença em 2021, sendo que 106 deles foram notificados entre o final de novembro e início de dezembro”.>
Rio e SP seguem recomendando máscaras em ambientes de maior risco O prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes (PSD), determinou o fim da obrigatoriedade do uso de máscaras ao ar livre. A medida foi definida por meio de um decreto, publicado em 27 de outubro deste ano.>
O anúncio da mudança aconteceu em transmissão ao vivo, com a presença do secretário municipal de Saúde, Daniel Soranz, que lembrou a necessidade de pessoas com sintomas gripais continuarem usando a proteção. A medida também previu a liberação do uso de máscaras em locais com pista de dança, com capacidade de público de até 50%.>
Junto à decisão sobre as máscaras, o Rio suspendeu todas as demais regras estabelecidas para combater a covid-19 no município, em um segundo decreto, publicado no dia 12 de novembro no Diário Oficial. Este mesmo decreto manteve o uso obrigatório de máscaras em locais fechados e transportes públicos.>
Já em São Paulo, a variante ômicron levou o governo e a prefeitura da capital a manterem o uso obrigatório de máscaras em espaços abertos e fechados.>
A suspensão do uso obrigatório de máscaras estava prevista para ocorrer no estado em 11 de dezembro, e o prefeito da capital, Ricardo Nunes (MDB), havia declarado que pretendia seguir as medidas determinadas pela gestão de João Doria (PSDB).>
Com o avanço da nova variante da covid-19, a Vigilância Sanitária recomendou o cancelamento da flexibilização de máscaras. O órgão elaborou um estudo com indicadores epidemiológicos e assistenciais.>
Máscaras são importantes contra a covid e a influenza Ainda que a vacina contra a gripe usada no país tenha a mutação H3N2 em sua composição, a variante não é a mesma que circula agora no Rio e em São Paulo. A nova cepa, titulada Darwin — cidade na Austrália onde ela foi identificada pela primeira vez —, não está coberta pela atual vacina.>
O vacinologista Odir Dellagostin detalhou que a cepa não faz parte da formulação que a OMS recomendou para ser utilizada na vacina deste ano. “Portanto, a vacina tem uma baixa proteção contra esta cepa, ainda mais reduzida pelo timing em que está ocorrendo o surto: mais de 6 meses após a campanha de vacinação”, explica.>
Na visão de Dellagostin, o uso de máscara está diminuindo e isso representa um risco de exposição tanto para a covid-19 quanto para a nova mutação do vírus da gripe comum.>
“As pessoas estão voltando a se aglomerar, a se abraçar, a tomar cafezinho juntas, portanto, sem máscara. Isso está reduzindo a efetividade”.>
Ainda de acordo com o vacinologista, o caminho para contornar a epidemia de H3N2 tem que se basear em medidas de prevenção. “A solução é recomendar fortemente a continuidade do uso correto de máscara — cobrindo boca e nariz —, o distanciamento, o uso de álcool gel”, finaliza.>
O médico infectologista Rodrigo Nascimento explicou que, para que as máscaras consigam filtrar adequadamente o ar das partículas infecciosas, é preciso que sejam fabricadas de maneira adequada e recebam o selo de aprovação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).>
Os modelos mais indicados, de acordo com o profissional, são as máscaras PFF2 (peça facial filtrante) ou N95 –que trata do mesmo modelo, mas a primeira é certificada no Brasil e a segunda, nos Estados Unidos. “Mas as máscaras simples, cirúrgicas, são eficazes também, em torno de 30% a 40% menos do que as N95 e PFF2”.>
Apesar da eficiência das máscaras contra a disseminação dos vírus, seu uso deve ser aliado a outras medidas para melhor efetividade. Os métodos de prevenção contra a doença seguem as mesmas regras de outras doenças virais, assim como a covid-19, incluindo higienização correta das mãos; evitar contato com pessoas infectadas; não compartilhar objetos pessoais, como copos, talheres, toalhas; evitar locais de grande aglomeração e pouco arejado; manter hábitos saudáveis.>
Além disso, os governos estaduais realizam anualmente, de forma gratuita, campanhas de vacinação contra a Influenza.>
“As vacinas contra influenza são muito eficazes, elas são revisadas anualmente. Através da cepa anterior, é produzida novas vacinas e após 14 dias aproximadamente, ela já produz anticorpos nas pessoas”, relatou o médico.>
O público prioritário para receber os imunizantes são idosos, crianças e pessoas com imunossupressão, por serem mais suscetíveis ao vírus e assim, possuírem mais chances de evolução para quadros graves que um jovem saudável, por exemplo.>
“Claro que dependem do organismo de cada pessoa, da capacidade que cada pessoa tem de produzir anticorpos. São características individuais imunológicas, por isso que a vacina é prioritariamente indicada para pessoas idosas e pessoas imunossuprimidas, que têm baixa capacidade de se defender de microorganismos”, pontuou.>
Questionamento O tuíte que questiona a eficácia das máscaras e mencionado aqui foi publicado por Flavia Ferronato (@flferronato). Na sequência do post checado agora, ela escreve: “E antes que venham torrar a paciência, eu realmente estou tentando entender como isso é possível, tá ok?”, o que não impediu que seguidores tenham interpretado a publicação como uma forma de descredibilizar as máscaras e outras medidas de combate contra a covid.>
Um seguidor comenta: “Será uma epidemia dos vacinados? Por baixa imunidade?”; outro escreve: “Pois é! Inclusive na minha casa todos com a influenza, por enquanto menos eu que não vacinei”; e, mais um: “As máscaras são super eficazes contra doenças respiratórias, o que não é o caso do infl… não, pera…”.>
Ferronato já apareceu em uma verificação do Comprova, em novembro de 2020, quando fez um post enganoso no site Jornal da Cidade Online – alvo de algumas checagens do projeto – e em seu perfil no Twitter sugerindo que o Instituto Butantan não havia informado sobre morte de voluntário da vacina Coronavac.>
À época, após ser contatada pela reportagem, ela fez publicações em suas redes sociais criticando o trabalho de agências de checagem e procurando intimidar a verificadora que a contatou.>
Desta vez, ela respondeu a reportagem dizendo que escreveu o tuíte porque queria “entender por que as máscaras não conseguiram segurar o influenza”.>
Por que investigamos? Em sua quarta fase, o Comprova verifica conteúdos suspeitos que tenham viralizado sobre pandemia, políticas públicas do governo federal e eleições. O conteúdo verificado aqui teve mais de 6,6 mil curtidas e foi compartilhado 1,2 mil vezes até 17 de dezembro.>
Máscaras seguem como proteção fundamental para evitar a contaminação e disseminação de vírus como a H3N2 e a covid-19, principalmente em ambientes fechados e sem ventilação. Pouco usada antes da pandemia no Brasil, a proteção facial é uma das principais medidas contra a covid-19 e, consequentemente, contra outros vírus que se disseminam pelo ar, como o influenza. Sem as máscaras, os cidadãos ficam mais vulneráveis a esses vírus.>
O Comprova checa peças de desinformação sobre as máscaras desde o ano passado. Alguns exemplos de verificação são o do influenciador que dizia que a proteção facial não era eficiente contra a covid-19 e o de estudo sem revisão usado também para desacreditar o uso do equipamento.*Esta checagem foi postada originalmente pelo Projeto Comprova, uma coalizão formada por 33 veículos de mídia, incluindo o CORREIO, a fim de identificar e enfraquecer as sofisticadas técnicas de manipulação e disseminação de conteúdo enganoso que surgem em sites, aplicativos de mensagens e redes sociais. Esta investigação foi conduzida por jornalistas do UOL, Folha de S.Paulo e Correio do Estado, e validada, através do processo de crosscheck, por cinco veículos: Jornal do Commércio, Correio Braziliense, Poder 360, Estadão e O Popular.>