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Com a chegada de novos leitos de UTI, capital baiana entra em contagem regressiva; entenda cálculos
Fernanda Santana
Publicado em 20 de julho de 2020 às 05:00
- Atualizado há um ano
Depois de quatro meses de medidas restritivas, Salvador inicia, nesta semana, um momento de equilibrismo de cálculos para pensar na 1ª fase do plano de reabertura das atividades econômicas. A matemática considera, principalmente, a situação nos hospitais, do número de casos e da taxa de ocupação dos leitos. A cada passo, haverá uma nova análise da reação.
A primeira fase é a da reabertura de shoppings, centros comerciais e semelhantes, comércio de rua acima de 200 m², templos religiosos e drive-in. Para isso, o cálculo é o seguinte: a taxa de ocupação dos leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) tem que ter ficado abaixo de 75% num período de cinco dias consecutivos.
Se assim permanecer, sem picos, é possível tirar o plano do papel. No último domingo (19), a ocupação dos 611 leitos da cidade estava em 75,9%. No sábado (18), chegou a 74%. A expectativa é que, com a entrega de 20 novos leitos nesta semana, a ocupação despenque. São esperados 99 leitos até o fim do mês. Com o número de internados estável e uma maior disponibilidade de leitos, a porcentagem cai.
Se a reabertura acontecer, como sugerem os números, uma fase de acompanhamento é iniciada. O plano municipal é conduzido pelo secretário da Casa Civil, Luiz Carreira. As variáveis permanecerão as mesmas em todas os processos. A equipe observará, então, como a cidade reponde.
Caso haja aumento para 80% da ocupação, o plano é interrompido. Novamente, serão considerados, em média, cinco dias para saber se a fase é mantida ou abortada. Ocupação de leitos de UTI é a principal variável no cálculo da reabertura (Foto: Divulgação/Sesab) A divisão do número de pessoas internadas em leitos de UTI pela quantidade de leitos deve ser de 70% para o início da segunda fase. “As UTIs são o que balizam o cálculo, mas nele está incluído, claro, o aumento do número de casos, que podem levar a internação, o número de óbitos, a ocupação das enfermarias”, disse o secretário Carreira. Por isso, o próprio esquema de funcionamento dos estabelecimentos será modificado. Os shoppings, por exemplo, funcionarão com praças de alimentação fechadas e estacionamento com 50% das vagas. Isso porque a matemática leva em consideração o potencial de contágio de cada local. Segundo a Organização Mundial da Saúde, 15% dos infectados podem precisar de leito de UTI.
Os ciclos serão sempre de 14 dias e com permanência de 5 dias consecutivos em cada patamar. A fase três - com reabertura de teatros e cinemas, por exemplo - prevê a necessidade de taxa de ocupação menor que 60%.
Folga nos números Cada fase da reabertura exige um acompanhamento específico. O secretário de saúde Léo Prates explica que há possibilidade de o número de infectados crescer após a primeira fase de reabertura. Mas que a capital trabalhará, por isso, com uma folga da margem de leitos para covid-19.
Os 25%, 30% e 40% de leitos vazios, em cada fase, são “uma margem de segurança”, diz Prates. “Isso garante certa estabilidade”, afirma. A reabertura de escolas, universidades e parques e demais espacos públicos, previstas para a quarta fase, por exemplo, é especulada somente para 2021, o que sugere a possibilidade de oscilações entre as retomadas. "[Mas], se e a população cooperar, acho que novembro dá. Depende de cada um e da [oferta] de saúde pública", complementa Prates.O trabalho será, o tempo todo, manter a cidade sem picos. Em outros municípios, o processo de reabertura chegou a acontecer, mas foi abortado na mesma semana. Curitiba e Porto Alegre, por exemplo, passaram a permitir o funcionamento das atividades econômicas não essenciais, como academias, templos religiosos e shoppings, no início de junho.
As atividades foram restringidas logos depois, devido ao aumento de notificações de covid-19. O epidemiologista Fernando Carvalho, da Universidade Federal da Bahia (Ufba), ajuda entender o porquê dos prazos, porcentagens e quais variáveis podem compor cada fase. O secretário Léo Prates afirma que as “variações de cada cenário são imprevisíveis”.
A fase de reabertura dos shoppings e centros comerciais, por exemplo, deve ser acompanhada de uma crescente nos casos, confirma Carvalho.
Acontece que, com maior controle, rastreamento dos casos e medidas de distanciamento social, a transmissibilidade do vírus torna-se menor que num ambiente fechado e de aglomeração, como uma casa de shows, por exemplo, onde o contato é próximo e o ambiente, geralmente, privado de circulação de ar.“A natureza dos negócios diverge entre si. Não há um estudo definitivo que mostre o quanto cada porcentual cresce a cada reabertura, os cálculos só podem ser reais, de fato, quando se olha para a análise desse movimento”, explica o médico. Os prazos de manutenção de cinco dias de baixa na ocupação de leitos, como mostra, tem a ver com o tempo de incubação do coronavírus.“Apesar de variar de um a 14 dias, o mais comum é que as pessoas comecem a manifestar os sintomas com cinco dias. Então você já pode começar a ver o aumento de casos, se for para acontecer, a partir daí”, afirma Carvalho.As duas semanas previstas para avançar para a próxima fase fazem parte de uma espécie de outra margem de segurança, portanto. Na maioria dos casos, a capacidade de transmissão depois dos 14 dias é quase nula, pois a carga do vírus – capacidade de replicação – já perdeu força.
As únicas medidas efetivas em casos de reabertura, opina o epidemiologista, são o rastreamento de casos e a disponibilização de medidas de segurança para a população – como testagem dos funcionários dos estabelecimentos reabertos. Uma das principais discussões, hoje, é sobre a testagem desses empregados. O protocolo previa a necessidade de 100% de testagem, mas cogita diminuir para 20%.
OS CÁCULOS 1) Taxas de ocupação dos leitos de UTI pediátrica e adulta < 75% por cinco dias = reabertura de shoppings, centros comerciais e semelhantes; comércio de rua acima de 200 m²; templos religiosos e drive-in; 2) Taxas de ocupação dos leitos de UTI pediátrica e adulta < 70% por cinco dias = academias de ginástica e similares; barbearias, salões de beleza e similares; centros culturais, museus e galerias de arte; lanchonetes, bares e restaurantes; 3) Taxas de ocupação dos leitos de UTI pediátrica e adulta < 60% por cinco dias = parques de diversões e parques temáticos; teatros, cinemas e demais casas de espetáculos; clubes sociais, recreativos e esportivos, centro de eventos e convenções.