Material escolar 10% mais caro: veja dicas para economizar até 40%

Pais contam as estratégias que adotam para pagar menos

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  • Gil Santos

Publicado em 6 de janeiro de 2019 às 05:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Evandro Veiga

Janeiro chegou. Época de sol forte, praias cheias, e de corredores de papelarias lotados de pais desesperados com listas e mais listas de materiais escolares nas mãos. E é bom apertar o cinto porque esse ano o reajuste nos preços dos produtos deve ficar em torno dos 10% no varejo, na comparação com o mesmo período do ano passado.

Segundo o diretor de relações institucionais da Associação Brasileira de Fabricantes e Importadores de Artigos Escolares e de Escritório (ABFIAE), Ricardo Carrijo, os produtos de papel e plástico e os itens importados foram os mais afetados este ano. “Os primeiros por conta das correções que aconteceram ao longo de 2018. Já os importados foram influenciados pela oscilação do dólar. Nossa expectativa de reajuste no varejo é de 8% a 10%”, informa.

Cadernos e livros lideram a lista dos produtos mais vendidos, mas Carrijo frisou que existem 70 mil livrarias no Brasil e cada região tem demandas específicas. “Nosso período sazonal é de novembro a março, de acordo com cada região do país. No Sul as aulas começam antes que no Nordeste, por exemplo”.

Apesar da procura ainda estar tímida, o vendedor Evandro Marques, 47 anos, garante que a corrida pela economia já começou. Ele trabalha há 15 anos na livraria Lapa, na avenida Joana Angélica, e contou que a loja aposta nas facilidades de pagamento para incentivar os clientes. “A gente não tem como dar descontos nos livros e módulos, porque os preços já são tabelados, mas dividimos as compras em oito vezes sem juros no cartão, para aliviar o bolso dos pais”. O vendedor Evandro Marques diz que não dá para conceder descontos, mas que é possível parcelar em até oito vezes (Foto: Evandro Veiga) Estratégia E por falar em facilidades, tem loja lançando mão da tecnologia para facilitar a vida dos clientes e garantir mais vendas. O diretor comercial da Le Biscuit, Roberto Rangel, contou que este ano a rede criou um novo aplicativo para compras. O APP leva o nome da loja, oferece descontos exclusivos e já está disponível para ser baixado em sistemas Android e IOS. O cliente faz o cadastro e, em seguida, recebe os cupons de desconto no celular.

“Além disso, fizemos uma grande renegociação com nossos fornecedores, que nos permitiu manter os preços dos itens muito parecidos com os do ano passado. Temos mochilas de R$ 29,90 e caderno universitário de R$ 5,99, por exemplo”.

Quem optar pelo pagamento com o cartão da loja poderá parcelar a compra em até 15 vezes. Mochilas de rodinha, estojos e lancheiras lideram entre os itens mais procurados pelos estudantes mirins. Livros, cadernos, canetas, borrachas, lápis e giz de colorir são os mais requisitados entre os alunos mais velhos. Papel A4, crepom, cola e apontador também são recorrentes.

A farmacêutica Patrícia Sampaio, 42, estava com a relação de materiais dos dois filhos,  de 6 e 12 anos. Ela reclamou que os livros custam caro, mas disse que tem uma tática para economizar: reutilizar alguns materiais do ano passado. “Eu disse ao meu mais novo ‘sua mochila está ótima, então esse ano vamos usar ela novamente’. Ofereci um estojo novo, mas ele mesmo teve a consciência de repetir o do ano anterior. Meus filhos têm essa educação financeira desde muito cedo”, afirmou. Patrícia conseguiu convencer o filho mais novo a não trocar de mochila este ano (Foto: Evandro Veiga) Há também os que não são tão exigentes, mas não escondem suas preferências. A dona de casa Iracema Rebouças, 47, foi comprar caderno para a filha e contou que a pequena não é muito exigente, mas prefere os dos personagens animados.  O problema é que é aí que mora o perigo. Eles chegam a custar o dobro dos demais. “Por ser criança, ela gosta de caderno com adesivos, com algum personagem. Mas, ela não exige nada. Se eu digo que não dá para comprar, ela entende e a gente escolhe outro”.

Vantagens De acordo com os comerciantes, os primeiros pais começaram a aparecer nas livrarias em dezembro para as compras. Na última semana do ano já havia um movimento acima do normal. Durante as compras, alguns aproveitam para chorar por um desconto ou conseguir vantagens na hora do pagamento, o que pode funcionar de acordo com alguns vendedores.

Outros pais têm optado por pesquisar os preços na internet e escolher um estabelecimento onde possam comprar tudo de uma vez e com desconto. A maioria das lojas atende por encomendas, como explicou um dos vendedores de uma livraria no Centro, que não quis ser identificado.

“É uma pré-compra. Eles trazem a lista ou passam por e-mail, a gente disponibiliza os valores, já com desconto, eles pagam e depois recebem tudo em casa. É uma espécie de entrega a domicílio que evita, principalmente, levar a criança até a livraria, para que ela não queira coisas que não são tão necessárias”, contou.

Negociação Ano passado, antes mesmo de ir em busca dos materiais escolares, a arquiteta Cristiana Bandeira Fernandes, 44 anos, que é mãe do pequeno Benjamin Fernandes Mujaes, 4, questionou à escola do filho a necessidade de alguns itens da lista. Isso porque, segundo ela, muitos dos itens solicitados sequer foram utilizadas pelo filho no ano anterior. Só com isso conseguiu economizar cerca de R$ 150. 

Em seguida, foi a hora de disparar vários e-mails para lojas e papelarias diferentes para comparar os preços dos produtos. Com a cotação em mãos, montou uma tabela para comparar os valores. “A diferença era pouca, mas, em algumas, o mesmo produto tinha valores distintos. Só que, o que era mais barato em uma, era mais caro em outra e ficou elas por elas. Escolhi duas e comprei o que era mais barato”, complementou.

Ela conta ainda que, se tivesse comprado os materiais de papelaria direto com a escola teria um custo de R$ 440. Pagando por fora, gastou R$ 290. Mas as estratégias da arquiteta para economizar na compra do material escolar não param por aí. 

Ela também já reuniu um grupo de mães para realizar a compra em grupo na tentativa de barganhar um bom desconto para todas. A estratégia, no entanto, não funcionou. O desconto oferecido pelas papelarias era o mesmo aplicado em compras à vista. “Infelizmente, não deu certo. Pensei que seria uma boa saída para mim e as outras mães”. 

Outra tática que tem sido adotada pelos pais é ir às compras sozinhos. O empresário Reinaldo Lima, 56, por exemplo. tem dois filhos, de 12 e 16 anos. Antes de sair em busca dos materiais escolares, ele costuma sentar com os meninos e perguntar o que, de fato, eles estão precisando. “Sentamos e vemos na internet as opções. Depois, encomendo os livros onde oferecer a melhor forma de pagamento e descontos, mas os cadernos, lápis e outros itens, eu saio para comprar sozinho”, contou.  

Dez dicas para economizar até 40% nas compras Comprar materiais escolares pode ser uma dor-de-cabeça para os pais. O reajuste nos preços dos produtos somado às despesas de fim de ano e janeiro obriga muitas famílias a fazer malabarismo. Mas especialistas garantem que existem algumas estratégias que podem ajudar a aliviar o bolso.  O CORREIO conversou com o presidente da Associação Brasileira de Educadores Financeiros (Abefin), Reinaldo Domingos, que contou que a melhor opção nessas horas é a boa e velha pesquisa de preços. “A cotação é importante porque possibilita economizar de 10% a 40% na lista de materiais escolares”, afirmou.  Confira dez dicas valiosas para garantir a economia.

1- Busque em casa materiais do ano anterior que podem ser reaproveitados, como cadernos, borrachas, lápis e canetas, por exemplo. Segundo os especialistas, essa caça pode gerar uma economia de 15% no orçamento.

2- Faça uma busca na internet dos produtos que contêm na sua lista, comparando valores e marcas. A partir dessas informações, você estará apto para identificar os valores de mercado e saberá até quanto deve pagar por cada item.

3- Nem todo mundo tem uma reserva disponível para comprar os materiais escolares à vista. Não é à toa que as lojas costumam parcelar em até 12 vezes. Mas, se tiver uma poupança destinada para este fim,   não pense duas vezes. Há escolas que concedem até 20% de desconto para o pagamento dos módulos à vista.

4- Como a cidade é grande, não dá para sair batendo perna de loja em loja para saber onde encontrar os melhores preços. Então, para ganhar tempo e dinheiro, escolha um grupo de lojas e envie a lista de material por email. Com a cotação em mãos, você vai saber onde pagará menos.

5- Você precisa pensar uma estratégia de compra. Pode optar por pegar os produtos em três ou mais lojas ou pode convencer o vendedor da loja que tem o maior número de mercadorias mais baratas a fazer um abatimento no valor dos itens que estão mais caros.

6- Quem é professor e precisa comprar livros didáticos ou paradidáticos para os filhos tem descontos  de 15%, em média,  quando faz a compra direto com a editora. Para isso, basta apresentar o contra-cheque ou qualquer outro documento que prove o vínculo profissional.

7- Todos os anos há os personagens da moda, que as crianças querem  ter na mochilha, no caderno, na lancheira estampados por eles. Mas isso  vai deixar a sua conta muito mais salgada. Pra evitar birra, deixe a criança em casa na hora da compra.

8- Veja se os livros que o seu filho precisa  não estão disponíveis para venda nos sebos da cidade ou até mesmo se não é possível comprá-los usados nas mãos de pais dos alunos que cursaram aquela série no ano anterior.

9- Nem tudo é permitido na lista de material escolar. Produtos de limpeza, de uso coletivo ou administrativo, por exemplo, são proibidos. Caso encontre algum deles na sua lista, informe à escola a irregularidade. Se eles insistirem em mantê-los na lista, acione o Procon.

10- Comece a fazer a pesquisa de preços o quanto antes porque o mercado segue a lei da Mais Valia, determinada pela oferta e a procura. Quanto mais as lojas estiverem cheias de clientes, menor é a chance de conseguir um bom desconto.

Procon vai fiscalizar se há abusos nas listas

A Operação Volta às Aulas, da Superintendência de Proteção e Defesa do Consumidor (Procon), vai fiscalizar se as escolas e lojas estão praticando abusos com relação ao material escolar. “Não se trata de fiscalizar preço, mas se a escola está exigindo material escolar indevido e se a lista acompanha o plano de execução didático pedagógico. Livrarias e papelarias também são fiscalizadas. Verificamos se elas realizam vendas casadas, abusivas e a validade dos produtos”, informou o diretor de fiscalização do órgão, Iratan Vilas Boas.

Segundo ele, o erro mais frequente das escolas é não apresentar o plano pedagógico junto com a lista dos materiais. O documento deve especificar onde e quando cada item da lista será usado. Em dezembro, representantes do Procon, de escolas particulares, Ministério Público Estadual (MPE), e do Sindicato dos Estabelecimentos de Ensino do Estado da Bahia (Senepe) se reuniram para discutir as regras do que pode e não pode na lista dos materiais escolares.

Produtos de limpeza, como papel higiênico, álcool em gel, e algodão não podem ser exigidos, exceto se o uso deles for justificado em alguma atividade escolar. Um exemplo é o algodão na aula de Ciências ou na barba do Papai Noel. Nesses casos, a quantidade também precisa ser especificada.

Produtos de uso administrativo da empresa estão vetados. Piloto para os professores, tinta para a impressora e papel para a impressão são despesas da escola. Os pais não podem ser onerados com esses itens, segundo o Procon. Produtos de uso coletivo também não podem fazer parte da lista, como é o caso de copos descartáveis, por exemplo. O Procon informou que os pais não precisam entregar todo o material de uma vez. Eles têm até oito dias antes do início da unidade em que o item será usado para entregar o produto.

“As escolas não podem exigir determinada marca e os pais podem reaproveitar produtos que sobraram do ano anterior. A escola também não pode constranger o aluno, impedindo ele de fazer a atividade porque o pai não entregou o material. Esse assunto tem que ser discutido entre eles - escola e pais”, contou Vilas Boas.

O diretor do Procon explicou ainda que a taxa de material escolar apresentada por algumas escolas é permitida, desde que seja optativa, uma alternativa e não uma obrigação. Quem desrespeitar as regras pode ser multado em até R$ 6 milhões. O valor da multa depende do porte da empresa, da gravidade da infração e do grau de reincidência.

O Procon pede que a população ajude o órgão denunciando os abusos. Os canais são o APP ProconBA.Mobile, o site  [email protected] ou um dos postos do Procon. Não é preciso se identificar porque o órgão também recebe denúncias anônimas. O CORREIO tentou ouvir o Sindicato dos Estabelecimentos de Ensino do Estado da Bahia (Senepe) para comentar o assunto, mas não obteve êxito.

*Com orientação do chefe de reportagem Jorge Gauthier