Mecânico desaparece em Pirajá e vídeo mostra supostos sequestradores

Um dos homens aparece usando um colete balístico entrando num carro com o giroflex ligado; família não descarta envolvimento de policiais

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  • Bruno Wendel

Publicado em 15 de outubro de 2020 às 15:53

- Atualizado há um ano

. Crédito: Reprodução

A imagem de um homem saindo do carro preto segurando um colete balístico e em seguida entrando em um veículo branco com giroflex ligado é a única pista que a família tem do desaparecimento do mecânico Ruan Carlos Maia Costa, 31 anos. Morador de Cajazeiras, ele sumiu na última quinta-feira (8), no bairro de Pirajá, quando estava a caminho do trabalho.

Após terem acesso às imagens, os familiares de Ruan não descartam a possibilidade do envolvimento de policiais no desaparecimento dele. “Eu não posso afirmar nada, só as autoridades. Não tem motivo nenhum para terem levado ele, mas, se tivesse, teriam que abordar de uma forma normal, e conduzi-lo à delegacia, caso encontrassem algo de errado”, disse um parente do mecânico que pediu para não ser identificado. Mecânico desapareceu quando saiu d ecasa para o trabalho (Foto: Divulgação) No vídeo divulgado pela família de Ruan, é possível ver que as imagens foram gravadas às 05h59 do dia 8 deste mês – o mecânico saiu de casa por volta das 5h30. No primeiro momento aparecem dois carros – ambos numa rua atrás da loja do supermercado Makro de Pìrajá: um Ford KA branco, parado na frente do carro de Ruan, um Gol G3, de cor preta (NNL-3766). Um homem entra no banco do carona do Ford KA, enquanto um outro manobrar o Gol à frente do primeiro carro. 

No segundo momento do vídeo, o homem que estaciona o Gol de Ruan sai e segue para o banco detrás do Ford KA. Usando uma calça jeans, boné e camisa preta, ele caminha segurando o que para ser um colete a prova de balas e entra no carro, que aparece com o giroflex ligado.  “A nossa esperança está em Deus. Procuramos muito e não achamos ele, nem vivo e nem morto, mas a gente quer do jeito que ele estiver. Ele tem uma filha de três anos que sente muita falta do pai. Ruan é bom pai, bom filho, bom amigo. Estamos todos sofrendo muito. Se ele estiver morto, a gente quer o direito de enterrá-lo”, disse o parente.Desaparecimento No dia 8, Ruan saiu de casa, no bairro de Cajazeiras VI, rumo à oficina mecânica onde trabalha com o pai. “O pai ligou para a mulher de Ruan por volta das 10h, perguntando pelo filho, se tinha acontecido alguma coisa, pois ele não havia chegado. Então, a gente aguardou o dia todo, imaginando que ele foi para algum lugar com o celular descarregado, mas que voltaria mais tarde”, disse um familiar. Quando anoiteceu e Ruan não deu sinal de vida, os familiares perceberam que algo de errado havia acontecido e resolveram fazer uma busca pela rua. Foi quando vizinhos disseram ter visto o carro de Ruan. “ Pessoas conhecidas do bairro disseram que viram o carro dele parado no fundo do Makro de Pirajá, aí fomos para lá”, contou.  Quando chegaram no local, os parentes encontraram o Gol preto com as portas fechadas, mas destravadas. “O carro estava todo normal, estacionado corretamente, o som estava no lugar, mas as coisas dele estavam reviradas, como as roupas. Ele usava farda na oficina”, explica o parente. O celular de Ruan não foi encontrado. As imagens do último dia que o rapaz foi visto foram conseguidas pelos próprios parentes. “Nós vasculhamos tudo e conseguimos o vídeo”, disse. 

Busca incansável O desaparecimento de Ruan levou os parentes a realizarem uma busca incansável pelo mecânico. Como o carro dele foi encontrado em Pirajá, uma queixa foi registrada na 4ª Delegacia (São Caetano) e, em seguida, no Departamento de Homicídio e Proteção à Pessoa (DHPP).   A família chegou a ir no Instituto Médico Legal Nina Rodrigues (IMLNR) e em alguns hospitais de Salvador, como HGE, Roberto Santos e do Subúrbio. “Até agora, nada. Ninguém ligou, ninguém disse nada. A mulher dele já perdeu 3 kg nesses oitos dias, porque não consegue comer de preocupação. A mãe dele também não. Todos estão à base de calmante porque estão desesperados atrás de uma notícia que leve ao paradeiro de Ruan”, declarou o parente.  Questionado sobre o que poderia ter acontecido e motivado o desaparecimento do mecânico, o parente que conversou com a reportagem disse não saber. “Não sabemos de nada. Ruan é uma pessoa que fala com todo mundo, se dá bem com todo mundo, uma pessoa popular, querida por todos, sem distinção”, disse.  A família do mecânico é evangélica e, desde o dia desaparecimento, tem feito uma corrente de orações. “Estamos com uma rede forte de orações nas igrejas e em casa. Pedimos a Deus uma reposta para aliviar o nosso sofrimento. Queremos ele do jeito que estiver. Se estiver morto, precisamos dar um enterro decente, é o mínimo”, desabafou o familiar, que garantiu ter esperança de escontrar Ruan com vida.

"Temos esperança, porque o Senhor Jesus é tudo em nossa vida. Jesus pode tudo”. 

Investigação Sobre a investigação do desaparecimento do mecânico, a Polícia Civil informou, através de nota, que “o Draco (Departamento de Repressão e Combate ao Crime Organizado) instaurou um inquérito policial para apurar o caso. Familiares de Ruan foram ouvidos na unidade, que realiza diligências para tentar localizá-lo”. Questionada se o inquérito instaurado no Draco tem a ver com a suposta participação de policiais no caso, uma vez que as imagens mostram um homem saindo com um colete balístico do carro da vítima e em seguida entrando no outro carro com um giroflex ligado, a polícia disse que há apuração pois o homem possivelmente foi vítima de um crime.

“Está sendo apurado pelo Draco porque a pessoa não sumiu simplesmente (sem indicativo de ação delituosa). Pelo vídeo e demais indícios, ele pode ter sido vítima de crime. Quanto ao envolvimento de policiais, não temos como confirmar isso nessa altura da apuração, até porque não sabemos o que ocorreu. Como informado, a apuração está em andamento”, afirmou a Polícia Civil.

Os parentes de Ruan garantem que ele nunca teve envolvimento com a criminalidade e tratam o sumiço do rapaz como um mistério. Procurada para saber se o rapaz tinha algum tipo de passagem policial, a Polícia Civil esclareceu. “Não temos acesso a essa informação. Se não for uma informação pertinente para a investigassa dela, não é a prioridade a divulgação desse tipo de dado. A apuração está em andamento e, assim que for possível, divulgaremos novas informações”.