Médico premeditou empurrar Sáttia Lorena de prédio, diz promotor: 'Armou tudo'

MP pediu a prisão dele, afirmando que representa risco à vítima e ao processo

  • D
  • Da Redação

Publicado em 5 de agosto de 2021 às 13:20

- Atualizado há um ano

. Crédito: Reprodução

(Foto: Reprodução) O promotor de Justiça Davi Gallo, do Ministério Público da Bahia (MP-BA), diz que o médico Rodolfo Cordeiro Lucas, suspeito de tentar matar a ex-namorada Sáttia Lorena Patrocínio Aleixo, cometeu o crime de maneira premeditada. O MP pediu ontem a prisão do médico. A defesa de Rodolfo afirma que Sáttia , que também é médica, não foi empurrada e pulou sozinha.

Já o MP diz que o médico planejou o crime e depois agiu para descredibilizar Sattia em depoimentos à polícia. “A premeditação comprova a frieza do criminoso, a periculosidade, o desrespeito, a falta de amor ao próximo. Toda pessoa que premedita um crime, é um criminoso nato. Ele premeditou através de vários atos", afirmou o promotor nesta quinta-feira (5), em coletiva para explicar o pedido de prisão.  "Neste dia, eles brigaram e ela foi para o quarto dançar, porque era a única fuga que ela tinha diante do machismo dele. Ele saiu, foi até a farmácia, comprou o remédio usando a receita em nome dela e chegou lá em cima, bebeu, misturou", diz o promotor.

O promotor descreve como foi a cena, no entendimento do MP, após ouvir testemunhas e a própria Sáttia. "Quando ele chega para a polícia, disse ‘Ela usava ansiolítico, desceu para comprar. Vá na farmácia e lá você vai encontrar uma receita assinada por ela’. Ele engendrou todo o crime e quase conseguiu. Ela estava dançando no quarto, ele joga ela na cama e tenta esganá-la. O sangue encontrado na cama é dela. Ela consegue se desvencilhar e se levanta. Ela havia encostado a cama na janela para ter espaço para dançar. Ela sobe na cama e ele a empurra da janela e ela cai, mas se segura. Ele ao invés de pegá-la pelos pulsos, numa atitude de quem quer salvar, começa a abrir a mão dela, até ela cair”, acrescenta.

A ideia que o acusado queria passar, segundo Gallo, era que Sattia era desiquilibrada, que tentou suicídio após misturar ansiolítico com bebida, por isso ele foi comprar o medicamento com a receita assinada por ela. "No apartamento deles, havia muita bebida, tudo dele", acrescenta, dizendo que a médica não bebe e leva um estilo de vida saudável.

O crime foi motivado porque Sattia iria terminar o relacionamento, diz o promotor. “Porque digo que era premeditado o crime: porque já era certa de ela se separar dele, e ele não se conformava com isso, aquela coisa do macho alfa: ‘se não ficar comigo, não vai ficar com ninguém’. E como é inteligente, ele armou tudinho. O engendramento do crime é coisa de filme", afirma Gallo.

Ele reafirma que a intenção de Rodolfo era pintar um retrato de Sattia como alguém sem equílibrio. "Ele pede que ela assine uma receita, vai e comprar com uma receita assinada por ela. Ele diz nos depoimentos que ela é desequilibrada emocionalmente, quando na verdade ele era desequilibrado. Ela não bebia. Ele usa esse fato contra ela, porque ele tinha certeza de quando precipitasse ela da janela, ela morreria. Só que não deu certo e ela sobreviveu, mantendo a consciência, a plena capacidade de lembrar o passado remoto", diz.

O relacionamento dos dois era cheio de posse por parte de Rodolfo, que era controlador, acrescenta. "No hospital, ela não dava dois passos sem que ele estivesse atrás, talvez por ser uma mulher bonita e popular. Como ele viu que não a teria mais, que ela ia para outro lugar, pois já sabia que ela já estava deixando o hospital para trabalhar em outra unidade, e o fato de ela ter um apartamento também, ele resolver dar fim nela como forma de vingança”, conclui.

A reportagem tentou contato com o advogado da médica Sáttia que respodeu que não teria como opinar sobre os fatos "porque não tivemos acesso ao conteúdo das medidas jurídicas anunciadas pelo Promotor de Justiça incumbido do caso". O CORREIO também tentou contato com a defesa do acusado, mas não teve retorno até o momento. 

Crime Sáttia caiu do 5º andar do prédio em que vivia com Rodolfo, na madrugada do dia 20 de julho de 2020. Rodolfo alegou que ela tinha pulado da janela depois de uma briga, em uma tentativa de suicídio. O inquérito policial concluiu que na verdade foi uma tentativa de feminicídio, o que ele continua negando.

Rodolfo chegou a ser preso em flagrante, mas foi solto após fiança e responde pelo crime em liberdade. De acordo com Davi Gallo, o MP pediu a prisão preventiva por entender que ele representa uma emaça à integridade física da vítima e também ao processo.

Além de pedir a prisão preventiva, Gallo já ofereceu a denúncia à Justiça. “Solto, ele fará de tudo para o processo não andar, sobretudo a segurança de Sáttia. A partir do momento que ele se vê processado por um crime grave, ele vai se vingar. Ele já tentou matar ela uma vez. Ele solto, vai tentar novamente, tenho certeza. Vai coagir testemunhas, vai apagar provas. O que eu temo mais é pela vida da vítima, porque ele já deu sinais que é capaz de qualquer coisa e ele vai atrás dela”, afirma.

Davi Gallo diz ainda que a defesa do médico vem usando mecanismos para atrasar o andamento do processo, inclusive pedindo a saída dele caso, alegando participação dele na formulação do inquérito, e colocando em dúvida o trabalho dos peritos do Departamento de Polícia Técnica (DPT).  

“A defesa do acusado pediu a suspeição do promotor. Eu não pratiquei ato nenhum nesse inquérito. A decisão é da delegada, quem fez o relatório foi ela e é com base nesse relatório que fiz a denúncia. Eu estava acompanhando o inquérito, como qualquer outra pessoa. Agora que entro no processo. Pediram para que eu não participasse das investigações. Eu queria saber qual o motivo. Eu nunca vi o réu, não tenho nada contra ele”, finaliza.

Depois de chegar a ficar internada em coma, Sáttia hoje se recupera no interior do estado após várias cirurgias, segundo Gallo.