Medo de comer peixe? Confira alimentos que podem substituir pescado

CORREIO mostra receitas com ômega 3 e proteína

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  • Gabriel Moura

Publicado em 13 de novembro de 2019 às 05:10

- Atualizado há um ano

Para os baianos, o peixe não está no cardápio apenas na Semana Santa. O ingrediente principal de alguns pratos típicos, como a moqueca, é parte importante da culinária local, fazendo com que Salvador se tornasse a sexta cidade que mais consumiu peixe no ano de 2011, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Só que a chegada das manchas de óleo fez com que o alimento deixasse de fazer parte da mesa de algumas famílias, levando embora junto todos os nutrientes que o pescado rico em proteínas e ômega 3 possui.

Foi o caso dos clientes do restaurante Shanti, no Rio Vermelho, que tinha o animal marinho em muito de seus pratos. Observando a diminuição da demanda por alimentos com o ingrediente, a sócia do local Juliane Holler tomou a decisão de substituir o pescado por alimentos com nutrientes similares. O ceviche, que levava peixe branco, agora tem camarão ou polvo, que são criados em cativeiro. Já o kibe, agora, tem cogumelo, lentilha e espinafre.

“Nós fizemos uma consultoria com nutricionistas e substituímos a necessidade da proteína presente nos peixes com cogumelo, queijo, lentilha e grão de bico. A recepção foi muito boa, principalmente nos substitutos veganos”, revelou a dona, que voltará a utilizar os pescados em seu cardápio quando a crise do óleo passar.

Assim como o restaurante, muitas famílias estão tendo que adaptar as receitas. Para facilitar o trabalho destes alquimistas da cozinha, o CORREIO ouviu nutricionistas e especialistas que apontaram alimentos que possuem os mesmos nutrientes dos peixes e podem ser substitutos do pescado que muitos baianos estão evitando.

O nutriente mais famoso presente no peixe é o ômega 3. Ele pode ser encontrado em menor quantidade em sementes como a de abóbora, além de linhaça, chia, abacate, nozes e castanhas. Além disso, a substância que ajuda no combate ao colesterol e doenças cardiovasculares pode ser obtida em suplementos alimentares.“Mas é importante ressaltar que os peixes que possuem uma maior presença de ômega 3 não são pescados em águas quentes, como as do Nordeste, mas as frias e em grandes profundidades. Um exemplo é o salmão, que geralmente vem do Chile e não possui nenhuma possível contaminação”, explica a nutricionista Louise Tiúba. Já a proteína presente no peixe pode ser substituída por qualquer carne vermelha, bovina ou suína, além de frango, que possui uma presença similar do nutriente. De acordo com a Tabela Brasileira de Composição de Alimentos, 100g de coxa possuem 26,9g de proteína (sem contar o osso). Já em 100g de uma corvina há 26,8g da substância.

“Algumas plantas ou grãos como quinoa, grão de bico, ervilha e lentilha também possuem proteína em sua forma vegetal. Entretanto, quem quiser substituir o peixe por estes alimentos precisará prestar atenção, pois eles não terão a vitamina B-12, que está presente apenas nos produtos de origem animal”, alerta a nutricionista Carla Reis.

Algumas receitas que podem substituir tanto a proteína quanto o ômega 3 são frango com farinha de abóbora e um beiju com massa de tapioca enriquecida com linhaça e recheio de frango. Além disso, os pratos do dia a dia podem ser temperados com os óleos de linhaça e de chia.

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Ufba questiona liberação de consumo de peixe feita pelo governo federal 

Quais estão liberados? O diretor do Instituto de Biologia da Ufba, Francisco Kelmo, afirmou que não é recomendável o consumo de peixes pescados apenas na costa e nos estuários do Nordeste, como é o caso dos robalos. Os que vêm dos rios, cativeiros e outras regiões e países não oferecem nenhum risco à saúde do consumidor.“A tilápia, por exemplo, é de cativeiro, os salmões vêm de fora do país, o pintado é pescado na região Norte. Além disso, os enlatados como a sardinha geralmente são pescados em grande escala e profundidade, mas é bom ficar atento para a data de fabricação no rótulo”, explica o biólogo que concluiu um estudo, em outubro, que encontrou óleo em 100% de 50 amostras de peixes analisadas no Litoral Norte da Bahia.  Ufba quesitona liberação do Governo O Ministério da Agricultura  Pecuária e Abastecimento (Mapa) divulgou nesta segunda-feira (11) que os peixes recolhidos nas praias baianas que foram atingidas pelo óleo estão "próprios para o consumo". Em entrevista ao CORREIO, o diretor do Instituto de Biologia da Universidade Federal da Bahia (Ufba), Francisco Kelmo, afirmou que as informações divulgadas pelo governo fedreal são insuficientes para confirmar ou refutar a liberação para o consumo de pescado. Ele cobrou mais transparência da União na difusão dos dados.

“Eles não dizem em que parte do corpo do animal eles fizeram avaliação, se foi nos músculos ou se foi na bile, por exemplo. Eles não dizem quantos peixes foram avaliados. Não dizem como foi a coleta. Não revelam as concentrações que eles encontraram para dizer que os valores foram baixos, nem o método utilizado. A informação é muito vazia e não traz segurança. Não há dados suficientes para concordar ou refutar”, afirmou o pesquisador que coordena estudos relacionados ao assunto.  Pescados estão liberados para consumo, segundo Ministério (Foto: Arquivo CORREIO) O professor e pesquisador pediu que essas e outras informações sejam mais detalhadas. “Estamos falando da saúde das pessoas. Não sabemos as consequências que isso pode ter. O governo precisa ser mais transparente”, disse.

A afirmação do Ministério da Agricultura veio após um estudo da PUC-Rio encomendado pela pasta, que mostrou que os frutos do mar não oferecem risco de contaminação. Mas o professor Renato Carreira, coordenador do laboratório que participou da pesquisa, afirmou ao Uol que os dados não permitem dizer que a pesca esteja liberada, nem que não haja animais contaminados.

Conforme o portal, os pesquisadores analisaram 21 amostras de peixes e lagostas coletados em Bahia, Ceará, Pernambuco e Rio Grande do Norte. O resultado de 12 dessas amostras já foi divulgado - o que resultou na nota do ministério -, e conclusões sobre as outras 9 são aguardadas para amanhã. "Nunca, em momento algum nosso laudo serve para dizer que a pesca está liberada", disse o pesquisador ao Uol.

Ele trabalhou com mais nove pessoas no estudo. "[A forma como eles divulgaram o estudo] pode levar a interpretação que não é a que eu acho mais correta", afirmou ainda. No acordo firmado entre a universidade e o ministério, ficou estabelecido que o estudo ficaria a cargo do laboratório, enquanto a divulgação seria competência exclusiva da pasta.

"A gente fez um retrato, um primeiro esboço de divulgar níveis de contaminantes. Fizemos isso sem cobrar, como um esforço para divulgar a qualidade do pescado", diz o pesquisador.

Para chegar a essa conclusão, o laboratório analisou os níveis de Hidrocarbonetos Policíclicos Aromáticos (HPA) nos animais, que são indicadores para contaminação por derivados de petróleo. Os resultados revelam níveis baixos dos HPAs detectados em peixes e lagostas, não representando riscos para o consumo humano. 

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As amostras foram coletadas em estabelecimentos registrados no Serviço de Inspeção Federal (SIF). A pesquisa não especifica as espécies de peixe analisadas, nem se são animais que vivem em maior ou menor profundidade.

O Projeto Tamar também fez um levantamento extraoficial com oceanógrafos, biólogos e veterinários e analisou 61 amostras de peixes de 18 espécies diferentes, entre os dias 15 e 31 de outubro de 2019. O estudo foi apenas para detectar se havia ou não petróleo cru nos estômagos dos animais, mas não há uma avaliação química que informa se eles estão aptos ou não para consumo.

Os peixes foram coletados em diversos pontos da região da Praia do Forte, como porto da vila de Praia do Forte; recifes submersos (cerca de 20 metros de profundidade); talude continental ou parede, como é conhecido pelos pescadores (cerca de 700 metros de profundidade); região pelágica. É do talude, inclusive, que são provenientes cerca de 90% dos peixes comercializados.

"As amostras foram de diferentes níveis tróficos, de mais baixos como sardinha a mais altos, como tubarões. Não encontramos óleo nos estômagos analisados", disse o Tamar, por meio de nota. 

As notícias surgem como um alívio para quem tem a pesca como sustento. Só em Salvador, após o aparecimento das primeiras manchas de óleo, o preço do pescado caiu 25% devido à baixa demanda de consumidores.

No início do mês, o secretário de Aquicultura e Pesca, Jorge Seif Júnior, afirmou em live nas redes sociais, ao lado de Jair Bolsonaro, no dia 31 de outubro, que o consumo de pescados no litoral do Nordeste, poluído por manchas de petróleo, não oferece riscos à saúde. De acordo com o secretário, os peixes são “bichos inteligentes” que estão fugindo da contaminação.

Antes, uma pesquisa feita pelo Instituto de Biologia da Universidade Federal da Bahia (Ufba) apontou a presença de óleo dentro de caranguejos, mariscos e peixes. Mais de 30 animais foram analisados. “Todos eles têm óleo dentro do corpo”, adiantou, à época, o professor e pesquisador Francisco Kelmo, diretor do Ibio e que estava à frente do estudo.

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A Bahiapesca, empresa vinculada à Secretaria de Agricultura, Pecuária, Irrigação, Pesca e Aquicultura da Bahia (Seagri), também conduz uma análise. O levantamento, que já passou pelo Conde, no Litoral Norte, deve coletar peixes e mariscos ainda nas cidades de Jandaíra, Entre Rios, Camaçari e na praia de Itapuã, em Salvador. 

Outros serão coletados em Santiago do Iguape, em Cachoeira, para servir como grupo de controle. Segundo a assessoria da Bahiapesca, cerca de 60 indivíduos seriam selecionados em cada uma das praias. Depois, a empresa deve enviar um relatório para a Diretoria de Vigilância Sanitária e Ambiental, que deve avaliar se o pescado é próprio para consumo. O prazo para a conclusão das análises é no próximo dia 22. 

*Com supervisão do chefe de reportagem Jorge Gauthier