Medo, perda de cabelo e cura: a história da dentista que venceu o câncer de mama

Leia o relato de Thamires Martinez, que foi diagnosticada com câncer de mama aos 32 anos

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  • Carolina Cerqueira

Publicado em 7 de outubro de 2021 às 11:58

- Atualizado há 10 meses

. Crédito: Foto: Roberto Lemos

A empresária e cirurgiã dentista Thamires Martinez, 34 anos, foi diagnosticada aos 32, sem nenhum histórico de câncer de mama na família. Ela descobriu um nódulo ao fazer um autoexame no banho. O diagnóstico veio no início de 2020, pouco antes da pandemia. No dia 01, ela finalizou o último ciclo de tratamento e tomou o último comprimido da quimioterapia. Ao CORREIO, ela relatou como foi viver a experiência da doença. Confira: Foto: Samuel Castro/Acervo pessoal “No auge da pandemia e com um filho de 1 ano e meio, eu tive um diagnóstico. Era um câncer de mama triplo negativo, conhecido pelo seu alto grau de agressividade. A partir daí, iniciei uma corrida contra o tempo, fator determinante para a minha recuperação. Pouco tempo depois comecei a perder o meu cabelo. Eu ficava me olhando no espelho segurando um punhado de fios e sentia uma profunda sensação de impotência, sem saber o que iria acontecer comigo.

Sim, estava realmente acontecendo, sem avisar ou pedir licença, aos 32 anos, no auge da minha juventude. E mesmo depois de todo o processo, não existiu um dia em que eu não pensasse ou sentisse falta do meu cabelo. Olhar-me no espelho era um lembrete visual diário do que eu estava vivendo e do que ainda estava por vir. Essa perda tornou a trajetória muito mais difícil, já que não nos é dado o direito de escolha. A perda do cabelo silenciosamente mudou a maneira como eu me vestia e a maneira como eu me sentia. E depois de viver tudo ou quase tudo, posso dizer que, muitas vezes, essa perda se fez mais difícil do que a própria quimioterapia.

É importante conhecer essa experiência da perspectiva de quem está do outro lado e saber que nem todos os dias são de gratidão e adaptação. Percebi que não havia problema em admitir que essa experiência era realmente dolorosa por mexer tanto com a minha autoestima. O tempo passou e com ele aconteceu um despertar natural, momento em que ressignifiquei valores e prioridades. Até mesmo essa perda. Tive a sorte de poder contar com o amor do meu marido, da minha família e amigos, me tratar e estar viva para, hoje, compartilhar a minha história, criando uma rede de apoio da qual tanto precisei.

Contornei cada obstáculo e efeito colateral mantendo a fé e acreditando que logo tudo iria passar. Sair da zona de conforto é algo que todo paciente com câncer sabe bem como é. Apesar de extenso, o processo é lento, nos dando tempo para assimilar as informações. De repente, tudo aquilo que nem sabíamos pronunciar no início do tratamento - e sequer fazíamos ideia da sua utilidade prática - se torna tão gravado na nossa memória que somos capazes de palestrar a respeito.

Aceitamos o aprendizado e nos tornamos mestres no assunto. Mas, a maior lição que fica é a de que precisamos (re)aprender a VIVER. Recomeçar dói, mas é necessário. O dia 01 de outubro não marca somente o mês da prevenção do câncer de mama, mas também o dia em que finalizei o ÚLTIMO ciclo e tomei o ÚLTIMO comprimido da minha quimioterapia. Não poderia ter sido diferente! Hoje posso dizer que estou CURADA e mais do que nunca levantar a bandeira da importância da prevenção. Pretendo ser porta voz para inúmeras meninas e mulheres que hoje lutam por suas vidas e precisam de muito amor e acolhimento. O câncer tem cura! Acredite, não desista, você também vai conseguir!”

*Com a orientação da chefe de reportagem Perla Ribeiro