Memes são ferramentas de análise crítica da realidade, dizem especialistas

Nas provas do Enem e vestibulares, alunos precisam ir além da piada e entender o contexto dessas peças de comunicação

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  • Saulo Miguez

Publicado em 23 de agosto de 2017 às 05:02

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Evandro Veiga/CORREIO

O meme é uma charge contemporânea, afirma o gestor de inovação e tecnologia da Objectiva Comunicação, Vicente Aguiar, para quem esses recursos bem humorados são uma expressão criativa, pertinente e que leva a uma  reflexão sobre o mundo atual.

Segundo ele, ainda há certo preconceito em relação ao recurso pelo fato de ser muito fácil de fazer, quando comparado, por exemplo, com uma charge, que tem elementos artísticos intrínsecos.  "Qualquer pessoa com um programa simples de edição de imagem é capaz de produzir um meme. Diferente da charge, que a pessoa precisa saber desenhar".

No meme, ainda de acordo com Aguiar, vale mais a sacada do que propriamente a qualidade gráfica. "Alguns são bem toscos, mas mesmo assim viralizam porque são inteligentes, engraçados. O meme  questiona padrões estéticos", afirma.

A possibilidade dos memes serem cobrados no Enem é vista com bons olhos pelo especialista, uma vez que demonstraria que o exame busca se atualizar. "Desde que seja bem contextualizado, o meme pode ser cobrado da mesma forma que seria um quadro, matéria de jornal ou qualquer outra forma de comunicação", acrescenta. As estudantes Gabriella Santana e Vitória Marianina usam smartphones para se atualizarem sobre memes do momento (Foto: Evandro Veiga/CORREIO) Marcel Ayres, doutorando em Cibercultura pela UFBA e especialista em Marketing pela FGV, lembra que para alguém se manter atualizado em relação aos memes é preciso estar conectado. "O que consumimos, falamos, praticamos, tudo tem potencial de virar meme. Podemos ter acesso a estes conteúdos através de produções feitas pelos usuários de forma mais orgânica e em canais, páginas e perfis que se especializaram na produção destes conteúdos", enumera.

Para Marcel, partindo do princípio de que os memes podem ser compreendidos enquanto unidades culturais replicadas nas interações sociais, percebemos que para eles ganharem escala é necessário que seu conteúdo faça sentido e permita que as pessoas se identifiquem através deles. 

“O que muda no contexto atual, através das mídias digitais, é que esta produção pode ser registrada, buscada e compartilhada em escala global. Entretanto, não existe uma fórmula exata para criar um meme, assim como não há nenhuma garantia que todo e qualquer meme pode ganhar uma grande escalabilidade na internet”, lembra.

Marcel Ayres acrescenta ainda que para estar atualizado sobre memes, é preciso estar em sintonia com  o que eles representam. "A atualização dos memes é algo que caminha, ao meu ver, paralelo à nossa experiência de estar no mundo".

A linguagem digital já foi incorporada nas escolas como novo gênero textual e está presente na vida dos estudantes. Nas aulas de interpretação de texto, os memes são utilizados como ferramentas de análise crítica. Segundo Thiago Braga, autor de materiais do Sistema de Ensino pH, o meme não é só humor por si, mas carrega uma carga tão crítica quanto cartuns e charges. Então, vale observar a piada, mas principalmente, perceber a ironia por trás da ideia que essa peça de comunicação quer passar.

Ainda segundo Braga, o meme recicla produções artisticas de outras épocas, como trechos de romances, cenas de pinturas famosas e até elementos da Cultura Pop como novelas e super-heróis. Por isso, é importante para os estudantes praticarem bastate a leitura e a interpretação. Quanto mais repertório cultural o aluno tiver, mais fácil será para ele compreender o sentido de um meme.