'Menino do Acre' diz que sumiu para evitar ser atrapalhado pelo coletivo

O retorno de Bruno Borges coincide com o sucesso do livro  "TAC - Teoria da Absorção do Conhecimento". Polícia afirma que o sumiço foi uma "jogada de marketing"

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  • Da Redação

Publicado em 14 de agosto de 2017 às 14:11

- Atualizado há um ano

. Crédito: Reprodução/TV Globo

"Um ambiente natural com floresta, com árvore". Esta é a única descrição dada por Bruno Borges, de 25 anos, do lugar onde ele permaneceu durante os quatro meses e 15 dias em que ficou desaparecido. Conhecido como o "menino do Acre", após sumir e deixar inscrições misteriosas pelo seu quarto, além de 14 livros escritos à mão em códigos, o jovem alega que se isolou com o objetivo de estimular o conhecimento e para não ser atrapalhado pelo coletivo.

"O fato de eu ter me isolado, como eu falei, era pra buscar algo, uma verdade dentro de mim que eu estava precisando encontrar", disse em entrevista exclusiva ao programa Fantástico, que foi ao ar neste domingo (13). “Meu maior objetivo com esse projeto foi estimular as pessoas a adquirirem conhecimento", completa Bruno, que é estudante de psicologia.

O jovem retornou para a casa dos pais, em Rio Branco, na última sexta-feira (11), depois de desaparecer e ficar sem dar notícias desde o dia 27 de março. Uma câmera de segurança registou o momento do retorno de Bruno, por volta das 5h22 da manhã, que chegou descalço. 

As imagens mostram que o jovem apertou a campainha de casa, mas que ninguém atendeu. Só depois de mais de uma hora de espera, um vizinho o encontrou e ligou para o pai de Bruno para avisar. O reencontro com o filho foi uma grande surpresa para Athos Borges, que se emocionou e precisou ser amparado para não cair no chão. 

De acordo com Bruno, seu único arrependimento é não ter avisado a família sobre o isolamento. “De me isolar, não me arrependi, mas de não avisar foi uma das coisas que mais me arrependi na minha vida. Foi um grande erro que eu cometi em não ter avisado àquelas pessoas que têm um carinho muito especial por mim”, conta. 

Segundo ele, ficaria clara para as pessoas a sua intenção de isolamento quando encontrassem o quarto dele. “Acreditei que todo mundo ia saber que tinha me isolado pra buscar a verdade da vida no momento que olhasse o meu quarto do jeito que eu deixei”, explica.

No dia 27 de março, antes de sair da casa onde mora em Rio Branco, no Acre, Bruno Borges deixou 14 livros escritos à mão e criptografados, alguns copiados nas paredes, teto e no chão do quarto. O jovem deixou também uma estátua do filósofo Giordano Bruno (1548-1600), por quem tem grande admiração, que custou R$ 10 mil.

O estudante, no entanto, se recusa a falar sobre o isolamento e de contar detalhes sobre o local onde permaneceu durante o período que ficou desaparecido. “O que posso dizer é que eu estava isolado, não tive acesso a nada, se não ia quebrar todo o meu objetivo. Porque busquei o isolamento justamente pra não ser atrapalhado pelo coletivo. Muitas vezes, a coletividade atrapalha você a achar seu autoconhecimento”, disse ele ao programa dominical. "O fato de eu ter me isolado, como eu falei, era pra buscar algo, uma verdade dentro de mim que eu estava precisando encontrar", disse em entrevista exclusiva ao programa Fantástico (Foto: Reprodução/TV Globo) "Jogada de maketing"

Para a polícia, no entanto, o objetivo doe Bruno Borges era outro: uma "jogada de marketing" para garantir a divulgação do livro escrito por ele. "No dia em que o Bruno sumiu, ele foi no cartório e registrou o contrato. Então, para nós fica muito contundente que não foi um desaparecimento qualquer, na verdade, foi um plano consciente de afastamento, e o contrato mostra que há prazo para divulgação desses livros, prazo para publicação, destinação de porcentagem para quem o ajudou, no caso, essas três pessoas que o ajudaram de imediato. Para nós, está muito claro isso", disse o delegado na época do desaparecimento.

Apesar do seu retorno coincider com o sucesso do livro  "TAC - Teoria da Absorção do Conhecimento", no topo da lista dos mais vendidos, Bruno nega a suspeita. “Eu até entendo que as pessoas levem a pensar essas coisas por causa de todo esse acontecimento. Só que, ironicamente, o fato de eu ter feito contrato com eles é justamente porque não me importo com dinheiro, porque o trabalho deles nesse projeto foi muito importante pra realizar meu sonho”, afirma. 

Teoria cosmogônica

O jovem explica que os símbolos, desenhos e escritos copiados nas paredes, teto e chão do seu quarto, se tratam de uma teoria que explica o universo, desenvolvida por ele. “Desenvolvi uma teoria cosmogônica sobre como funcionava o universo através das experiências visuais que eu tava passando e essa linha vermelha ela chama barreira potencial de finitude”, explica Bruno.

Com isso, ele explica que seu objetivo era promover a curiosidade das pessoas e o questionamento acerca do que é misterioso. "Um dos objetivos foi tornar as pessoas mais ávidas pelo misterioso, porque quem não gosta do misterioso meio que está morto, está inerte. Porque o mundo é um mistério, nós não sabemos de nada ainda. Então, como podemos não gostar do mistério?”.

Entenda o caso

O primeiro dos 14 livros de Borges entrou para a lista “não ficção” dos mais vendidos da semana, entre 24 e 30 do mês passado. O ranking é do site "PublishNews", construído a partir da soma das vendas de todas as livrarias pesquisadas. A segunda obra do jovem, inclusive já tem data para lançamento, afirmou a editora.

Em maio deste ano, Marcelo Ferreira, de 22 anos, amigo do estudante, chegou a ser detido pela polícia pelo crime de falso testemunho. Na casa dele, a Polícia Civil encontrou dois contratos – um deles autenticado no dia do desaparecimento – que estabeleciam porcentagens de lucros com a venda dos livros. 

Ferreira teria ajudado Bruno no projeto. Policiais também encontraram móveis do quarto do acreano na casa de outro amigo, Bruno Gaiote, que também teria participado na logística. Gaiote, que mora na Bahia, chegou a ser indiciado para depor na capital do estado, mas não compareceu, sendo indiciado indiretamente.

Em entrevista ao "Bom Dia Amazônia", exibida no dia 3 de julho, Ferreira contou que ajudou Bruno a montar o quarto e que sabia do projeto, mas garantiu não ter conhecimento do desaparecimento, nem do local em que ele estava vivendo.