Mercadinho pode faturar até R$ 2 milhões por ano

Dado é de uma pesquisa da consultoria GFK Brasil

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  • Thais Borges

Publicado em 14 de julho de 2018 às 06:30

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Betto Jr./CORREIO

Um mercadinho com um único caixa pode faturar até R$ 594 mil por ano. Quando há dois caixas, o faturamento aumenta praticamente quatro vezes: R$ 1,97 milhão anualmente. Os dados fazem parte de uma pesquisa realizada pela consultoria GFK Brasil com apoio do Sebrae, divulgada em 2016.

Em 2018, é possível até que o faturamento, nessas mesmas condições, seja maior, de acordo com o analista técnico do Sebrae Tauan Sousa, integrante da coordenação de comércio e serviços do órgão. Tanto sucesso pode ser explicado até mesmo pela forma de vida da maioria das pessoas hoje.

Há 30 anos, existia uma inflação muito maior. Assim, o consumo era basicamente mensal -  a família toda ia para o mercado uma vez por mês fazer as compras da vez. “Eram compras muito grandes. Hoje, essa rotina mudou consideravelmente. Você continua tendo compras maiores, mas que não duram o mês inteiro”. Entram em campo as compras semanais e as diárias.

São essas que costumam fazer com que os mercadinhos se tornem mais competitivos: essas compras acontecem nos pequenos. O primeiro motivo, diz Sousa, é a questão de locomoção.

“Tempo, hoje, é algo muito caro. A diferença de preço é compensada pela comodidade. O mercadinho fica próximo da sua casa, pode ficar no caminho do trabalho ou na volta. Além disso, você acaba tendo uma intimidade maior com o mercadinho”, explica. Com essa proximidade, o cliente se sente diferente. No hipermercado, o consumidor é apenas mais um.

Uma forma de resistir à concorrência é a de que os mercadinhos se organizem para fazer compras coletivas, criando grandes redes de negócio. Um dos cases acompanhados pelo Sebrae foi o da Mix Bahia, que é, hoje, uma das redes baianas que mais faturam no estado.

“Temos algumas redes que provam para o empresário que, no momento que ele enxerga o vizinho, o concorrente dele, estrategicamente como mais do que um concorrente, pode fazer parcerias. Assim, é possível oferecer um preço diferenciado para o consumidor final e eles acabam tendo um poder de competitividade maior”. Em 2018, faturamento pode ser ainda maior, aponta especialista (Foto: Betto Jr./CORREIO) A força dos mercadinhos

Os mercados de médio e pequeno porte representam 90% das lojas do setor de varejo de alimentos em Salvador e Lauro de Freitas (RMS), conforme levantamento da Associação Bahiana de Supermercados (Abase). Na Bahia,  são cerca de 25 mil unidades num setor que responde por 6% do PIB nacional. 

A maioria dos mercadinhos nasce em bairros periféricos e, por lá, conquista clientela fiel. Geralmente é uma empresa familiar responsável por empregar os moradores dos arredores, com capacidade de admitir, em média, até cinco funcionários.

O empresário Ângelo Muniz, 52 anos, está à frente do Mercadinho Menor Preço, na Rua Padre Luiz Figueira, no Engenho Velho de Brotas. O negócio é gerenciado por ele e por um dos seus irmãos em uma parceria que já dura 18 anos. De lá para cá, eles ganharam a confiança dos moradores que, em muitos casos, não abrem mão de comprar no estabelecimento.

Proximidade Ângelo acredita que a proximidade com a clientela é um dos fatores que contribuem para o consumidor optar por encher a sacola em um comércio do bairro e não em um supermercado das grandes redes.

“A gente conversa e ouve o cliente. Eles podem chegar no dono de maneira fácil. Eu, por exemplo, moro em uma casa que fica em cima do meu mercado, conheço quase todo mundo do bairro”, conta.

O negócio começou pequeno, em uma área com cerca de 50 metros quadrados. Com o tempo, as vendas foram crescendo e hoje os irmãos duplicaram o tamanho do mercadinho.

De acordo com o levantamento da Abase, em Salvador, cerca de 80% de todos os estabelecimentos de pequeno porte contam com um espaço que mede até 50 metros quadrados.

Empregos A maioria - 90% - dos estabelecimentos opera com até dois caixas, aponta a Abase. Por enquanto, o Menor Preço funciona apenas com um, mas o sonho do empresário, assim como dos outros, é que o quadro de funcionários aumente, bem como os lucros. 

Neidejane Ferreira, 49, já está há sete anos como caixa no local. A vantagem de trabalhar no bairro é que ela mora a 15 minutos a pé dali.

“Sem contar na segurança de ir ao trabalho sem correr o risco de ser assaltada. Também tem as pessoas que a gente já conhece há muito tempo e tem uma certa confiança”, afirma Neidejane.

Ela faz parte das 25 mil pessoas com empregos diretos gerados pelos pequenos mercados em Salvador. Em toda a Bahia, são 25 mil unidades que geram 250 mil empregos diretos e 500 mil indiretos. 

Em busca do lucro Mas, embora eles dominem o setor de varejo, o pequeno negócio nem sempre consegue fazer crescer as margens de lucro. O mercado Engenhão, também no Engenho Velho de Brotas, possui uma clientela fiel, mas que, no fechar das contas, só consegue  pagar os custos de manter o espaço de portas abertas. 

O gerente Renato Souza, 41, observa que o setor conta com um público que, geralmente, realiza suas compras do mês em um atacado, mas, no restante do mês, faz pequenas compras diariamente no mercado do bairro.

É o caso da diarista Neuza Pereira, que prefere realizar suas pequenas compras em um supermercado que fica a cerca de 200 metros da sua casa, na Rua Hélio Santana de Oliveira, em Luiz Anselmo.

“Aqui, já conhecemos os donos, a caixa, todos os outros funcionários, isso passa confiança. Deixo para comprar pequenas coisas que faltam na feira principal do mês que é feita em um estabelecimento maior”, diz. 

Renato conta ainda que gerir um pequeno negócio é como andar em corda bamba. Nem sempre os rendimentos resultam em lucro. No total, o Engenhão precisa faturar por mês R$ 50 mil - para quitar despesas como água, luz, funcionários, aluguel do espaço, novos produtos e manutenção de equipamentos. 

Dicas para montar um mercadinho de sucesso

1. Fazer um bom planejamento: definir exatamente o que é o negócio, qual será o tamanho e a quem se destina.

2. Definir qual será o ‘mix’ que será trabalhado: alguns, por exemplo, decidem não vender frutas, verduras e legumes, que são mais perecíveis.

3. Fazer uma boa gestão do estoque e trabalhar a logística, incluindo criar relação com bons fornecedores.

4. Trabalhar o promocional: se relacionar e estar próximo do cliente, sempre mostrando promoções que possam agregar valor ao negócio.

5. Usar a tecnologia e as redes sociais em favor do negócio – não é porque é um negócio tradicional que não pode se beneficiar dessas inovações para o meio corporativo.