Merchandising no Carnaval

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  • Nelson Cadena

Publicado em 9 de março de 2018 às 08:30

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Fumava-se muito no final do século XIX e a indústria tabagista estimulava a fidelidade de marca. Cada grupo deveria optar por esta ou aquela que o identificava e esse modismo e prática de marketing bem-sucedida não passou ao largo do Carnaval, muito pelo contrário. Em 1889, a firma Pacheco & Companhia comparecia ao registro de marcas para registrar os cigarros Cruz Vermelha e Fantoches. Visava não apenas os associados, mas os simpatizantes. Esse elo entre o comércio e a indústria com o Carnaval seria fortalecido a partir da mística em torno das duas grandes agremiações carnavalescas de então. Na verdade, era um cordão umbilical. O Carnaval nasceu do interesse de comerciantes e industrias que identificaram nele um filão de negócios, a oportunidade de ganhar dinheiro divertindo-se.

Logo no segundo ano do carnaval oficial (1885),  a Casa Mathias anunciava para os associados do Cruz Vermelha e Fantoches assim explícito no título “caixinhas com bengalas pirotécnicas. Lindo fogo ainda não visto nesta cidade”. Em 1889, o Bazar 65 oferecia alfinetes de lapela americanos, dourados e esmaltados com as armas dos dois clubes e, ainda, lenços com os escudos e distintivos de lapela. E, pela mesma época, a Casa Maia & Maltez colocou em sua vitrine lanternas de cristal com os emblemas dos clubes. Em 1904, a Loja Tabyra importou centenas de chapéus com escudos bordados dos Fantoches, Cruz Vermelha e Inocentes do Progresso.

Os grandes magazines baianos de então importavam gigantescos estoques para as festas de Momo. Ao Bom Marché oferecia lindos coques de cabelo natural e anquinhas. Ao Barateiro, tanto vendia as fantasias prontas para os foliões avulsos como os insumos para a confecção de figurinos temáticos. A Loja Ipiranga ilustrava seus reclames com a imagem de um chicard com elmo portando o bumbo do Zê Pereira. O Carnaval da Bahia espelhava-se no Carnaval de Paris, nasceu no comércio de Paris e se fortaleceu através dos importadores de fantasias. E assim como no Velho Mundo, e também no Rio de Janeiro, os carros-reclame na Bahia invadiram a Avenida, entre um e outro préstito.

Em 1901,  o carro alegórico reclame do laboratório Silva Lima surgiu na Praça Castro Alves, exibindo uma bela pintura de seu Vinho de Kola Phosphatado; um mascarado desceu do veículo para distribuir espelhos e brindes. Em 1904,  o carro reclame de Borel & Cia distribuiu amostras de cigarros e charutos e em 1909 o senhor Kastrup, representante dos laboratórios Viera Junior, montou um verdadeiro cortejo com muitos figurantes que adentrou na praça exibindo alegorias de seus produtos. No Carnaval de 1907 entre um e outro préstito dos grandes clubes desfilaram os carros-reclame do Atelier Matheus, do Lombrigol e da Drogaria Brasil, esse último de grande porte.

Em 1910 foi a vez da Fábrica Havaneza levar às ruas um grande carro puxado por bois. Pela mesma época, o propagandista do laboratório Daut & Oliveira, o gaúcho João Lyra, aportou em Salvador e montou um carro alegórico para divulgar o produto A Saúde da Mulher. Outros carros-reclame aguardados com expectativa pelo público nas duas primeiras décadas do século XX eram o dos Cigarros Leite & Alves, que chegou a distribuir 15 mil cigarros da marca Stanley; o do Café Leal, com o seu chamativo “tímpano elétrico”, uma engenhoca barulhenta, tipo um sino, que atraía os foliões para distribuir entre eles amostras do produto. As Casas Stella, Casa Pax e a Pasta Odol preferiam ações mais simples, mas muito bem acolhidas, hoje ainda implementadas na festa, como a distribuição de ventarolas promocionais para os foliões aliviarem o calor.  (Trecho editado de artigo de minha autoria publicado no livro Casa do Carnaval).