Mesmo com reabertura, parte dos clientes deve esperar antes de voltar a frequentar shoppings

Alguns consumidores se sentem seguros e já querem ir aos estabelecimentos, enquanto outros ainda não têm coragem de visitar os shoppings de Salvador

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  • Da Redação

Publicado em 23 de julho de 2020 às 05:31

- Atualizado há um ano

. Crédito: Marina Silva/CORREIO

Com quatro meses sem a possibilidade de ir aos shoppings de Salvador, alguns soteropolitanos já estão com saudade de ver as vitrines e dar um passeio. Para alguns, a retomada das atividades dos estabelecimentos, que deve acontecer na sexta-feira (24), significa comprar o que estava faltando em casa, para outros, é a volta de uma opção de lazer. O que é consenso é que, como praticamente tudo que foi impactado pela pandemia do novo coronavírus, a experiência de vai ser diferente do que estamos acostumados.

Já de olho em alguns produtos, a empresária Bárbara leite, 35 anos, deve ir às compras assim que os shoppings reabrirem. “Eu não acho certo fechar os shoppings, já que tem gente fazendo churrasco na rua todos os dias. Qual a diferença? Não vejo problema em ir para o shopping se estou usando máscara e ficando longe das pessoas, basta ter bom senso e evitar dias cheios. Eu não tenho medo de ir pro shopping e pretendo ir logo quando puder, porque preciso comprar umas coisas pro meu filho e é difícil achar tudo pela internet. Além disso quero uma airfryer nova, que me ajuda muito no dia a dia, e não gosto de comprar essas coisas sem poder ver, tocar”, afirmou.

Uso de máscara e álcool em gel, medição de temperatura e distanciamento são apenas algumas das medidas impostas pelo protocolo de reabertura decretado pela prefeitura de Salvador. São muitas precauções e até os provadores não poderão funcionar. Para médico Bernardo Fernandes, 56, os limites impostos pelo protocolo de retomada são justamente o que dão a tranquilidade para voltar a visitar os centros de compras.“Acho que tudo bem ir, mas temos que tomar os cuidados pois a doença ainda está aí e é grave. Podemos tomar muitas medidas para evitar contágio, como o distanciamento, o uso de máscara e a higienização das mãos. Além do fator econômico, também pesa o emocional das pessoas. A quarentena foi longa e chega uma hora que as pessoas precisam respirar”, disse.Diferente dos que já devem ir aos shoppings logo na sexta, Bernardo não tem pressa pra fazer uma visita. “Eu gosto de passear em shoppings. Ir em uma sábado a tarde, dar um passeio, por exemplo. Se der vontade, eu posso ir, não acho que seja um risco além do aceitável. Se os shoppings estiverem com uma fila enorme para entrar, eu não devo ir, mas eu iria se fosse algo com pouca gente, com distanciamento e tranquilo. Acho que eu não preciso ficar numa fila apenas para passear”, comentou. Shoppings passam por higienização para limpar superfícies (Foto: Divulgação/Salvador Norte Shopping/Roberto Abreu) Às vezes, o medo de se contaminar com o novo coronavírus é maior do que a vontade de ir aos centros de compra. “Sinto saudade de frequentar porque é um lazer e um ponto de encontro entre amigos. Mesmo com a reabertura, eu não vou para o shopping porque não me sinto segura nem para ir ao mercado, quando mais ao shopping, apesar das medidas de segurança”, afirmou a estudante Nathália Teles, 22.

A conveniência dos shoppings centers é um grande atrativo para o local, mas quem não se sente seguro ainda prefere esperar antes de voltar ao costume de fazer visitas constantes aos estabelecimentos. A estudante Lara Silva, 22, está ansiosa pela rabertura, mas sente medo da formação de possíveis aglomerações nos centros de compra.

“Me acostumei a resolver todos os meus problemas em shoppings. Ter esse lugar com tudo reunido me faz muita falta por vários motivos, como as muitas opções para comer, a possibilidade de ir no caixa eletrônico, ver um filme no cinema. Entretanto, não tenho coragem de ir porque minha sensação é que o shopping vai lotar assim que abrir. Não quero ser mais uma pessoa para contribuir com a aglomeração”, contou.

Queda no fluxo de clientes Os shoppings já incluíram o medo dos clientes nas expectativas para a reabertura. De acordo com o coordenador regional para o estado da Bahia da Associação Brasileira de Shopping Centers (Abrasce), Edson Piaggio, deve haver uma euforia logo nos primeiros dias de reabertura, o que deve se acalmar com o passar do tempo.“No 1º dia da reabertura, o fluxo de pessoas pode chegar a 40% do que era registrado no ano passado. Depois de um tempo, essa taxa deve cair para a casa dos 30%. Esperamos que, com o passar de algumas semanas, mais pessoas comecem a ir aos shoppings e consigamos um fluxo de 50% do que era comum em 2019”, explicou Piaggio. Ainda na visão do coordenador, os primeiros visitantes dos centros de compra devem ir aos estabelecimentos para realizar atividades mais necessárias. “Muitas pessoas vão aos shoppings a passeio e para encontrar pessoas, mas, sem cinemas, academia, parque infantil, os estabelecimentos perdem a sua grande atração. Na medida que a situação dos vírus for se acomodando e as pessoas forem se sentindo seguras, devemos observar o crescimento do público”, apontou.

Em consonância com a Abrasce, a expectativa da gerente geral do Shopping Paralela, Fernanda Gabriel, é que o movimento e as vendas retomem aos poucos, à medida que os clientes se sintam mais seguros e confortáveis. “Nesta retomada, estamos fazendo de tudo para dar segurança aos nossos colaboradores e clientes. É preciso coragem e responsabilidade para viver a vida. Reabrir é necessário, mas com todo cuidado, seguindo as determinações dos decretos municipais  e orientações da OMS”, comentou.

O shopping Piedade tem uma visão mais otimista da retomada. Para o superintendente do empreendimento, Claudio Marques, o fluxo de clientes deve ser de 50% do normal.“Este primeiro momento será de recuperação de perdas, de forma gradativa.O Shopping deve ter em torno de 120 operações funcionando na oportunidade da reabertura”, disse.A retração econômica gerada pela pandemia também deve reduzir a busca pelos shoppings, acredita a gerente geral do shopping Paseo Itaigara, Thais Leal. “Há uma queda de fluxo que eu também associo aos processos de retração, a nossa economia foi abalada. Entretanto, esperamos que as pessoas busquem o Paseo como uma opção por ser um shopping a céu aberto”, analisou.

Abertura das lojas Ao contrário da expectativa de público, o número de lojas reabertas nos shoppings em Salvador ainda é uma incógnita para a Abrasce. De acordo com Piaggio, nem todos os lojistas devem optar pela abertura neste primeiro momento. “Para abrir, a loja tem que colocar funcionários, tem todo um processo e isso deixa o empresário inseguro. É possível que, no começo, os lojistas estejam mais cautelosos pelo medo de abrir e depois ter que voltar a fechar caso a taxa de ocupação dos leitos de UTI volte a subir. As grandes lojas devem abrir porque já voltaram a funcionar em outras cidades”, afirmou.

No Shopping Itaigara, a expectativa é de que 75% das lojas voltem a funcionar, segundo o superintendente André Podhorodeski. Apenas os estabelecimentos com funcionamento vetado pelo decreto devem ficar fechados. Ele acredita que o setor de serviços deve ser o mais procurado neste primeiro momento.

“Esperamos uma procura maior pois estaremos com os bancos, as lotéricas e as agências de câmbio abertas. Esses serviços têm uma demanda reprimida e as pessoas devem buscar os estabelecimentos para resolverem algo que não foi possível fazer até agora”, pontuou.

A Abrasce acredita que as lojas de telefonia e informática devem ser as mais procuradas logo no início da abertura. “Com base no que aconteceu nas outras cidades, o movimento deve ser maior nas lojas de telefonia e informática pois, durante a pandemia, um número maior de pessoas passou a usar mais a internet, o que exige alguns equipamentos”, apontou Piaggio.

Vendas A reabertura se dá em um período do ano, que, tradicionalmente, é de menos consumo, segundo Piaggio. O coordenador da Abrasce espera que os centros de compra já possam fazer ações promocionais em agosto para aumentar as vendas para o Dia dos Pais.

No shopping Barra, o final de julho e começo de agosto é quando ocorrem as liquidações da coleção de inverno e os preparativos para o dia dos pais, o que movimenta o estabelecimento.“Esse período é de um certo movimento. No varejo a preparação para o dia dos pais começa 20 dias antes da data. Por esses motivos, as perdas devem ser grandes, mas, gradativamente, o consumidor vai gerando confiança e voltando a comprar”, disse Karina Brito, gerente de marketing do Barra.A pandemia deve impactar fortemente o lucro do setor. Segundo a Associação Brasileira de Shopping Centers, a expectativa de perda de vendas neste ano é de 40% em comparação com 2019. Quando levado em conta apenas os meses de janeiro a junho, o percentual sobe para 60%.

A queda não se resume à capital baiana, segundo o Mapeamento de Fluxo de Visitas em Shopping Centers e Lojas Físicas do primeiro semestre de 2020 apresentado pela Sociedade Brasileira de Varejo e Consumo (SBVC) e realizado com dados da FX Retail Analytics, os centros de compra brasileiros registraram uma queda no fluxo de visitantes de de 90,78% em maio e 75,94% em junho em relação a 2019. Entretanto, a FX Retail Analytics apontou um aumento de 536,14% no fluxo de visitantes nas lojas dos shoppings do Nordeste em junho deste em comparação com maio.

Ônibus Junto com o início da 1ª fase de reabertura de Salvador, a oferta dos ônibus também será alterada. O planejamento da Secretaria Municipal De Mobilidade (Semob) é de que até 70% da frota de Salvador vá para as ruas assim que os shoppings voltem a funcionar. Atualmente, a capital é atendida por metade dos coletivos em utilização antes da pandemia.

“Esse é o planejamento, não quer dizer que será assim, pode ir para mais ou para menos. Monitoramos a demanda em tempo real porque temos a bilhetagem e sabemos quantas pessoas utilizam os ônibus o dia todo. Essa oferta pode ser reajustada com a retomada da economia. Podemos precisar colocar mais ônibus nas ruas e sair com mais quantidades com as novas fases. Montamos este planejamento, mas ele não é estático e pode ser alterado em tempo real”, afirmou o secretário de mobilidade urbana de Salvador, Fábio Mota.

Para a segunda fase de reabertura, a oferta máxima deve ser de 80% da frota. O número de veículos na rua aumenta na fase 3, com uma oferta de 90%, até a última etapa da reabertura com a disponibilização de todos os 2.213 ônibus que rodam na capital.

*Com orientação da subeditora Clarissa Pacheco